Manuel Pinto, de 58 anos, é produtor de morangos em São Pedro Velho há 17 anos, embora esteja ligado a esta atividade há mais de 30. Com a colheita deste ano praticamente pronta, paira a dúvida sobre o escoamento do produto.
“Nós temos clientes, e continua a haver procura. A nossa preocupação é que o escoamento fique aquém dos outros anos, isto porque nós levávamos mil quilos ao cliente e eram vendidos. Este ano, o nosso receio, é levar-lhes 500 quilos e vender só 200”, explicou.
Dos morangais deste produtor saem, todos os anos, cerca de 17 mil quilos de morangos, fruto de um investimento de cerca de 40 mil euros. “Se chover muito durante o inverno, a planta vem mais fortalecida e dá mais fruto. Estamos a falar de 15 a 17 toneladas por campanha”.
Este ano, as restrições de circulação devido à pandemia de Covid-19 fazem crescer o clima de instabilidade entre os produtores, até porque a feira que se realiza anualmente na aldeia foi também cancelada. “Para além de nos permitir divulgar o nosso produto, a feira era importante para angariar clientes, de vários pontos do país, e não só”, contou Manuel Pinto, à VTM, acrescentando que, “muitas das pessoas que vêm à feira levam às 30 e 40 caixas de morango, para distribuir pela família e amigos, e este ano isso não acontecer”.
REDES SOCIAIS AJUDAM
Depois de se ver obrigada a cancelar a Feira do Morango e do Vinho, a junta de freguesia de São Pedro Velho decidiu ajudar os produtores da terra a venderem os morangos.
Bastou um apelo nas redes sociais “e os pedidos começaram a crescer, o que nos faz estar mais otimistas. Ainda assim, só quando começar a sair a produção em força é que vamos ver a verdadeira reação dos consumidores”, contou Carlos Pires, presidente da junta de freguesia.
O autarca local teme ainda que a produção do próximo ano esteja em risco. “A próxima plantação começa a ser preparada daqui a poucos meses. A planta usada em São Pedro Velho vem de Itália e, como não sabemos o que se passa por lá, há o risco de não conseguirmos plantas”.
Também Manuel Pinto teme pelo futuro. “A gente trabalha na produção deste ano e é com esse dinheiro que vai plantar outra vez. Estamos sempre a gerir dinheiro”, esclarece, acrescentando que “caso não se encontrem as plantas, estamos em risco. São dois anos perdidos”.
HÁ UM OUTRO APELO
O morango, ex-líbris de São Pedro Velho, mexe “e muito com a economia local”. “Durante o pico da produção, que é mais ou menos um mês, os produtores empregam cerca de 50 pessoas, diariamente. Estamos a falar, talvez, de 30 famílias. Numa freguesia como esta, faz toda a diferença”, frisa Carlos Pires.
Nesse sentido, Manuel Pinto deixa um apelo a todas as pessoas para que “consumam produtos nacionais”, de forma a fazer “crescer a nossa economia”. “Com o nosso trabalho e com as pessoas a consumirem o que é nosso, conseguimos encher as mesas dos portugueses” conclui, já emocionado, agradecendo também ao presidente da junta o trabalho que tem tido para que o futuro do morango de São Pedro Velho não seja colocado em risco.
Manuel Pinto
Produtor
"Não há na Europa morango tão bom como o nosso e estamos preocupados com o seu escoamento”
Carlos Pires
Presidente JF São Pedro Velho
"A covid-19 veio baralhar tudo. Os próximos dois anos são decisivos para o morango de São Pedro Velho”