A revolta está instalada entre os produtores de castanha de Carrazedo de Montenegro, no concelho de Valpaços. O combate à vespa da galha do castanheiro “não está a ter resultados práticos” e teme-se que a produção baixe mais de 40 por cento daqui a apenas três anos.
O alerta é da ARATM – Associação Regional de Agricultores das Terras de Montenegro, que está “completamente em desacordo” com o que está estabelecido no Plano Nacional de Combate à Vespa da Galha do Castanheiro.
Em declarações à VTM, Filipe Pereira, engenheiro da ARATM, refere que as “largadas estão a ser muito retringidas” e a praga está cada vez mais instalada nos soutos da região. “Quando aparecem os primeiros focos era necessário fazer largadas em massa, à semelhança do que se fez em França. Aqui, estamos a fazer exatamente o contrário, em que deixamos a praga instalar-se e depois é que atuamos, com largadas que são muito restringidas”, lamenta, adiantando que era precisas 200 largadas, mas apenas foram autorizados a fazer 50, o que “é manifestamente pouco para tentar minimizar o problema”.
Outra situação reportada por Filipe Pereira, tem a ver com a fenologia correta para a aplicação das largadas. “O ideal é no início da rebentação, senão a galha, onde está alojada a vespa, torna-se muito dura, o que dificulta a tarefa do inseto para picar e colocar lá os ovos, afirma, acrescentado que as largadas “têm sido feitas fora de tempo, em que a fenologia já está muito avançada e, assim, as largadas não têm qualquer efeito”.
A associação, com sede em Carrazedo de Montenegro, tem cerca de 600 associados, todos produtores de castanha, em que lhes oferece gratuitamente as largadas, devido a uma candidatura aprovada por fundos europeus. “Só conseguimos fazer 50 largadas comparticipadas, mas temos fundos que nos permite oferecer mais largadas aos nossos associados, mas não temos autorização para o fazer”, afirma Filipe Pereira, que faz parte da comissão local que acompanha o processo de combate.
Este responsável alerta ainda para o facto de as regras do plano nacional estarem “completamente desajustadas” à região. “As largadas têm de ser feitas de 1000 em 1000 metros, o quer dizer que estamos a fazer uma largada por cada 100 hectares, e isso é insignificante numa mancha de castanheiros que é a maior da Europa”.
Os produtores de castanha estão muito preocupados e temem o pior, com quebras que poderão atingir os 40 por cento dentro de três anos.
Um dos maiores exportadores do concelho de Valpaços, Manuel Couto, disse que gostaria adquirir três dezenas de largadas, mas não foi autorizado e, por isso, teme perder grande parte da sua produção anual, que se cifra nas 30 toneladas. “Se não se tomarem medidas adicionais, daqui a três anos, teremos um prejuízo de 10 milhões de euros, o que coloca em causa a economia local, que vive muito em função deste fruto seco”, sublinha, acrescentando que já parou de investir, com receio da praga, que está cada vez mais instalada nos soutos da região. “Não percebo porque motivo aqui não se pode adquirir as largadas, como acontece em países como Itália e França, que visito com frequência e o combate está a ser bem mais eficaz”.
Alcides Alves, de 60 anos, é outro dos produtores que está revoltado com a situação, ao ver os seus castanheiros infetados e nada poder fazer devido às restrições a que estão sujeitos. “É uma praga muito difícil de controlar. Só dei conta no ano passado que tinha galhas infetadas doença, mas este ano está muito pior. Queria fazer largadas e estava disposto a pagar se fosse necessário, mas foram recusadas, não entendo o motivo. Estamos reféns de uma coisa que queremos pagar do nosso bolso e não nos a vendem”, lamenta Alcides Alves, que produz 10 a 12 toneladas por ano.
“ESTE É O MOMENTO DAS PESSOAS ESPERAREM”
José Laranjo, presidente da Refcast e investigador da UTAD, explicou que há muita desinformação, mas o trabalho está feito, agora é preciso esperar. “As largadas estão feitas de acordo com um plano que permite abranger toda a área da castanha. É uma luta inocolativa, em que vou dar o exemplo de um incêndio. Nós andamos a incendiar o território em vários pontos, com fogueiras fortes e largamos tudo em dois ou três pontos. A partir daí, cada uma dessas fogueiras começa a arder em todas as direções e vão chegar a um momento em que se vão tocar, esse é o momento em que todo o território está coberto”, diz o professor, acrescentando que o plano nacional está adaptado a Trás-os-Montes. “A distância de mil metros em mil metros quer dizer que ele (parasita) tem muito por onde crescer. Uma única fêmea que se largue, ao fim de dois anos tem um milhão de descendentes, no entanto, na verdade, ao final do primeiro ano parece que nada foi feito, porque o parasita tem de se estalar, de se adaptar, e partir daí vai crescer à custa da extinção da praga”.
Este investigador deixa uma mensagem de serenidade às pessoas, uma vez que o território está coberto e a monotorização está a comprovar a presença do parasitoide em todo o território, em largadas que foram feitas anteriormente. “Todos os indicadores são muito positivos e as pessoas têm de acreditar na comissão nacional, na equipa que está a trabalhar e no suporte do professor Alberto Alma, que conseguiu resolver o problema em Itália, através de um método que nós estamos a seguir”.
No distrito de Vila Real foram feitas 228 largadas durante este ano.