Sábado, 18 de Janeiro de 2025
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Tendência crescente, no distrito de Vila Real

Até meados de Abril, a Delegação de Vila Real da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, APAV, já registou 120 pedidos de ajuda e já tem em mãos mais de uma centena de processos. Estes dados apontam para que, este ano, o número de casos detectados, no distrito, seja o maior de sempre.   Mulheres, […]

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Até meados de Abril, a Delegação de Vila Real da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, APAV, já registou 120 pedidos de ajuda e já tem em mãos mais de uma centena de processos. Estes dados apontam para que, este ano, o número de casos detectados, no distrito, seja o maior de sempre.

 

Mulheres, idosas e crianças são, maioritariamente, as principais vítimas da violência doméstica. Mas o namoro na juventude também está a ser minado por comportamentos agressivos e opressivos. Neste rol negro, inserem-se, também, os abusos sexuais de crianças. Refira-se que, em 2006, foram contabilizados 313 e, no ano passado, 301. O concelho de Vila Real é aquele em que mais situações de maus-tratos são verificadas, vindo, depois, nas estatísticas, os de Chaves, Régua e Alijó.

Elisa Brites, responsável pela estrutura distrital da APAV, deu a conhecer, ao Nosso Jornal, a realidade da região, no âmbito da violência doméstica.

“É um facto. Há violência doméstica, no distrito de Vila Real. E, pelos números já deste ano, prevemos uma maior detecção de situações, durante 2008, embora não possamos dizer, de forma categórica, que os casos estão a aumentar. Talvez tenham mais visibilidade, porque as pessoas estão mais informadas sobre o acesso a mais apoios e ajudas, com mais frequência”.

Para isto, Elisa Brites encontra uma explicação. “Também pensamos que o pedido de ajuda tem a ver um pouco com a distância a que as pessoas estão do Gabinete que está instalado no Governo Civil de Vila Real. Mas também temos fases. Há períodos em que recebemos muitas situações, por exemplo de Mondim de Basto e de Ribeira de Pena. Esta maior visibilidade de números também tem a ver com o facto de as pessoas irem divulgando, localmente, as ajudas que foram tendo e que, depois, transmitem a pessoas conhecidas. No distrito, temos uma incidência bastante grande, em Vila Real, talvez porque é o concelho com mais população, mas também temos muitas situações nos concelhos de Alijó, Peso da Régua e Chaves. Nos restantes concelho, a incidência de casos é, mais ou menos, idêntica”.

Abordando a problemática da violência doméstica, em termos gerais, Elisa Brites salientou que é geracional e não escolhe classes: “Vai passando, de geração para geração. Sempre existiu. Não nos aparece só em pedidos de ajuda numa faixa etária mais elevada, mas em casais jovens, na casa dos vinte anos. A violência tem a ver, também, com questões vocacionais e geracionais. É um problema dos nossos dias. A violência doméstica é transversal a qualquer classe social. Não existe só em classes socioculturais baixas, mas, igualmente, em classes socialmente mais elevadas”.

A mulher, no distrito de Vila Real e a exemplo do que acontece noutros distritos do país, é a principal vítima. A mulher domina, em termos estatísticos, o que tem também a ver com o papel que ainda é dado ao papel do homem e da mulher, na sociedade.

Apesar de se trabalhar, para a igualdade de género, efectivamente continua a transmitir-se ideias educacionais e postura, na própria comunidade, diferenciadas, para o homem e para a mulher.

Contou esta responsável, à “Voz de Trás-os-Montes”, que, na violência doméstica, o que se observa “é uma parte que pretende controlar outra, num contexto de intimidação e numa relação de proximidade”.

“Alguém quer ter o poder sobre os outros, determinando elementos que vão desde intimidação, ameaças e agressões físicas e psicológicas, para exercer esse poder, de forma violenta, procurando mostrar quem é que manda e quem é que dá as ordens”.

Estes comportamentos, em termos percentuais, aparecem, com mais frequência, na faixa etária dos 35 aos 45 anos, “porque já há uma vivência de violência de alguns anos, onde as pessoas chegam a um ponto de saturação e de não conseguirem aguentar mais a situação, pelo que pedem ajuda” explicou, para continuar: “Outro factor que as leva a pedir ajuda é o facto de o agressor direccionar a violência não só para o cônjuge mas, também, para os filhos. Um dos factores que aparece com fre-quência tem a ver com os filhos, quando estes começam a colocar-se à frente da mãe, a tentar protegê-la. Então, o agressor direcciona a sua violência também para eles. Aí, as mães pedem-nos ajuda, dizendo, muitas vezes, que enquanto era ela, directamente, a vítima, aguentava, mas, agora, não poder consentir o mesmo aos seus filhos”.

O alcoolismo é um potenciador da violência doméstica.

“O alcoolismo tem um papel predominante, mas mais como um factor intensificador do próprio acto violento e não como aquele que provoca, normalmente, o acto de violência. Quando questionamos as pessoas, se o agressor também é violento quando está sóbrio, o que dizem é que a agressão não acontece com tanta frequência, mas que continua a ter as atitudes de agressor, intimidando, ameaçando e, muitas vezes, usando a própria violência física”.

Os abusos sexuais também são uma realidade, no distrito de Vila Real, embora ainda com pouca visibilidade. “Temos algumas situações de abusos sexuais, mas cremos que é a ponta do icebergue. As situações que aparecem não são no número que acreditamos existir. Isso tem a ver com diversos aspectos, nomeadamente a vergonha de se assumirem e, também, muitas vezes, contra quem são perpetrados. Ou seja, muitas vezes são as crianças” – disse Elisa Brites, complementando: “Ou há um adulto que toma a iniciativa de pedir ajuda, em nome delas ou a situação mantém-se, até que eles exteriorizem ou tenham comportamentos que transmitam e que sejam detectados pelas pessoas que os acompanham”.

O termo “violência doméstica” implica que aconteça numa relação de intimidade que pressupõe não só a relação de conjugalidade, dentro do casamento, mas abrange outras situações, como o namoro ou a união de facto.

“Nós verificamos, muitas vezes, que já nos vão chegando essas situações, com violência no namoro, especialmente situações de jovens que frequentam o Ensino Secundário e o Universitário. São situações de jovens sobre quem é exercido algum tipo de violência, de controlo, de direccionamento”.

De salientar que, em Vila Real, devido às crescentes solicitações, a APAV pretende construir um novo espaço, num investimento de 400 mil euros. O projecto conta com o apoio do Programa Interreg III A e vai ter capacidade para acolher 20 utentes, em simultâneo.

O novo equipamento vai substituir a actual Casa de Abrigo Sofia, da APAV, em Vila Real, a qual apenas possui capacidade para cinco utentes.

 

José Manuel Cardoso

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