Terça-feira, dia 24 de março de 2020. Com a autoestrada deserta e apenas com camiões de mercadorias a circular, rapidamente chegamos a Pegarinhos, uma aldeia do concelho de Alijó, onde a agricultura ainda é o sustento de muitas famílias.
Logo pela manhã, os homens chegam nas carrinhas para começarem os trabalhos na vinha, pois aqui o tempo não para e é preciso preparar a vinha para depois colher o fruto, as uvas em que se transformam no precioso néctar, o vinho.
No Douro, na zona mais alta é tempo de podar as videiras, para que os rebentos cresçam mais fortes e fiquem preparados para receber as folhas e o fruto.
António Ferreira, de Pegarinhos, conta à VTM que os dias têm sido de “muito trabalho”, pois está tudo um pouco atraso. “Já está a ficar tarde, porque o calor começa a aparecer e as videias a rebentar”.
Este agricultor diz que não pode ficar em casa em tempo de pandemia de Covid-19, pois tem um filho para criar. “Tenho de ganhar o pão para lhe dar e não posso recorrer ao teletrabalho, este serviço não nos permite”, refere, adiantando que se tivessem de adiar a poda por mais 15 dias, era impossível fazê-la com os rebentos a surgir em força. “Agora estamos a podar e a colocar o herbicida, mas dentro de um mês já deveremos andar a pôr o enxofre”.
Admite que a pandemia tem obrigado a cuidados redobrados e até tem ficado mais tempo em casa, mas as vinhas precisam de ser tratadas para depois dar o vinho. “Hoje até vim para desenrascar um familiar, que nos pediu para podar esta vinha, uma vez que ele mora em Mirandela e está com receio de sair de casa”.
Com seis hectares de terrenos agrícolas, Manuel Adérito, 64 anos, contratou dois homens para fazer tirar as ervas em volta das videiras. “Este ano fiz novas plantações e é necessário tirar as ervas para a cepa ficar limpa”.
Sobre as expectativas para este ano, os agricultores dizem que ainda é cedo para estar a fazer previsões, uma vez que o tempo é imprevisível e “há sempre trovoadas que afetam a produção”.
“Antigamente, os nossos pais e avós diziam que: “os vinhos de março nunca chegam ao cabaço”. É por isso que temos sempre receio do tempo e não tanto da pandemia, apesar de termos cuidados redobrados nesta altura, pois não se sabe muito bem com aquilo que estamos a lidar”, sublinha António Ferreira.
Na aldeia, os cafés estão fechados e as ruas praticamente desertas, encontramos apenas algumas pessoas a trabalhar nas vinhas, porque o trabalho no campo não pode esperar.
Manuel Adérito
Agricultor
"Este ano fiz novas plantações e é necessário tirar as ervas para a cepa ficar limpa”
António Ferreira
Agricultor
"Tenho de ganhar o pão para lhe dar e não posso recorrer ao teletrabalho, este serviço não nos permite”