Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Trabalhos de casa: a favor ou contra?

Serão os trabalhos para casa essenciais para a aprendizagem, ou podem, ainda, subcarregar crianças que estão diariamente atarefadas com atividades extracurriculares? A VTM foi procurar saber a opinião de professores e pais sobre este tema

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Os Trabalhos Para Casa, mais conhecidos como TPC, têm sido ao longo dos anos motivo de polémica no que diz respeito ao universo educacional, gerando várias opiniões e muitas discórdias entre pais e professores.
Se por um lado, há quem acredite que são essenciais para a aprendizagem dos alunos, por outro lado, também há quem defenda que podem representar um outro tipo de TPC, neste caso Tortura Para Crianças.

Perante toda a discussão que os mesmos têm gerado, a VTM foi ouvir o que os pais e os professores têm a dizer sobre um assunto, para o qual os argumentos, tanto dos defensores, como dos críticos, ainda não se esgotaram.

“Com os TPC, as crianças adquirem a noção daquilo que é a responsabilidade, ou seja, é uma forma de fazer um resumo da matéria que deram durante o dia de aulas, ajudando-os a consolidar alguns conhecimentos ou, então, a detetar algumas dúvidas que ainda possam ter”, lançou Ana Guimarães, professora de 1º Ciclo, há 28 anos, acrescentando, contudo, que estes não “devem subcarregar” os alunos.

Quanto a isso, também Maria Matos, professora há mais de 30 anos, realçou que os TPC devem existir, uma vez que servem mais como um “relembrar ou um reforçar da matéria abordada” que, para os professores, ajuda a “perceber se os meus alunos compreenderam as minhas aulas e qual o conteúdo em que devo insistir mais”.

Além de ambas as professoras acreditarem que os TPC são, no fundo, uma ferramenta “essencial” para a aprendizagem, também defendem que os tempos mudaram e que, hoje em dia, as crianças estão submetidas a um sistema demasiado “exigente” para as suas idades, pelo que as tarefas que são levadas para casa devem ter em conta toda a “carga horária escolar”.

“Antigamente, os alunos não estavam tanto tempo na escola, sendo que em muitas escolas a carga era de manhã ou à tarde, e eles ficavam com o resto do dia para fazerem as tarefas”, começou por dizer, referindo que, atualmente, a realidade é diferente. “As crianças têm cada vez mais atividades extracurriculares, por isso, às vezes, peço que façam uma pesquisa, oriento-os no sentido de perceberem que nem sempre tudo está correto na internet, promovo o debate. Embora, naturalmente, há matérias que implicam a prática e rotinas mais aborrecidas, sobretudo na questão da matemática, de forma a não esquecerem determinados assuntos. Mas, faço sempre com que os TPC não sejam um castigo”, referiu a professora Maria Matos.

“BRINCAR TAMBÉM É UMA APRENDIZAGEM”

Já Ana Guimarães, contou-nos que, no início do ano, se reuniu com os encarregados de educação para “discutir esta problemática”, abordando a disponibilidade dos filhos e dos pais, uma vez que as atividades fora do contexto escolar são cada vez mais.

“A escola nunca foi tão intensiva como é agora, os miúdos passam imensas horas na sala de aula e dentro do recinto escolar.

Decidi, juntamente com os pais, que a carga dos trabalhos de casa iria ser reduzida e não haveria todos os dias”, esclareceu, adiantando que  não marca trabalhos às segundas e quintas-feiras, dias em que as crianças têm atividades extra curriculares.

“MUITOS DOS NOSSOS ALUNOS TÊM MAIOR CARGA HORÁRIA QUE OS ADULTOS”

“Além das aulas que têm comigo, ainda têm inglês e outras atividades, fora da escola, por isso levam poucos TPC. Vou dar um exemplo. Os meninos estiveram a dar a circunferência e, por isso, a única tarefa que vão levar para o fim de semana é desenhar uma circunferência, para se habituarem ao compasso e a terem um maior sentido de responsabilidade. Outras vezes, peço também para escreverem um pensamento ou contarem o que fizeram nas férias”, esclareceu.

Ana Guimarães defende que “brincar também é uma aprendizagem”, ainda que considere que muitas crianças continuam a ter a vida mais atarefada que os próprios adultos, o que deve ser combatido.

“Muitos dos nossos alunos têm uma carga de trabalho superior à dos adultos, uma vez que algumas crianças estão em atividades o dia inteiro, estando mais de 12 horas fora de casa”, realçou.

 

O QUE PENSAM OS PAIS SOBRE OS TPC?
 

 

Sérgio Dani, pai de Fábio Oliveira, de 9 anos, ajuda o filho na realização dos trabalhos para casa, juntamente com a esposa, e deu-nos a conhecer algumas das dificuldades pelas quais a família passa devido aos TPC. Enquanto a sua esposa ajuda o Fábio nos trabalhos da matemática, Sérgio acompanha-o mais na realização das tarefas relacionadas com o português e o estudo do meio.

À VTM, Sérgio referiu que esta tarefa “nem sempre é fácil”, até porque a matéria é diferente do que era antigamente e que as próprias metodologias de ensino são diferentes.

“Na matemática notamos, enquanto pais, que há mecanismos novos e são bons para eles aprenderem de uma forma mais facilitada, servindo até como atalho, mas olho para os exercícios e fico apreensivo, porque o que aprendi na escola era muito diferente daquilo que, hoje, se ensina”, confessou, referindo que tem “algum receio de confundir a criança com os nossos ensinamentos, que são diferentes”.

Quanto à realidade dos TPC, Sérgio Dani contou que conhece “bem a realidade das escolas” e que, por isso, sabe que “em muitas escolas, as crianças levam todos os dias TPC para casa, o que para mim é um erro, porque uma criança tem que ter tempo para brincar, o que é essencial para que tenham disposição, posteriormente, para estudar”.

No caso de Fábio, o pai esclareceu que a professora teve em consideração a importância de não subcarregar as crianças, não marcando TPC todos os dias.

“O meu filho tem TPC à terça e quinta-feira e ao fim de semana, porque às terças e quintas foi instituído o estudo acompanhado, ou seja, eles realizam os trabalhos no meio escolar e quando chegam a casa já não estão tão cansados”.

Já Maria Telles é mãe de dois gémeos que se encontram no 2º ano, o que, por vezes, lidar com os TPC nem sempre é fácil.

“Às vezes torna-se tudo numa confusão. No início, quando chegamos a casa, começamos a fazer os trabalhos todos juntos, porque acabam sempre por querer a minha atenção e sou eu que ajudo os dois. Mas, às vezes, torna-se tão complicado lidar com ambas as situações, que tenho de os separar”, confessou, acrescentando que, embora os filhos tenham a mesma idade e frequentem a mesma escola, estão inscritos em turmas diferentes, pelo que as matérias nem sempre correm ao mesmo ritmo.

“Uma vez que viemos do Brasil para Portugal, os meus filhos entraram apenas no segundo semestre e não tiveram vaga na mesma turma, o que acaba ser bom para eles. Mas, para mim, é mais complicado, porque tenho que articular matérias para os ajudar ao mesmo tempo”.

No entanto, esta mãe acredita que os “TPC podem ser positivos”, porque “reforça a aprendizagem que tiveram na escola”. Porém, Maria Teles conta que, por vezes, “é um pouco cansativo”.

Sandra Matos, mãe da Rafaela, no 2ºano, e de Simão, ainda no pré-escolar, partilha da mesma opinião, considerando, porém, que a sua obrigatoriedade leva a que as crianças estudem, porque “por vontade própria é mais difícil fazê-los estudar”.

“Os TPC são importantes, porque as crianças, por iniciativa própria, não vão estudar e, no 1º e 2º anos, onde a introdução da escrita e da leitura é tão importante, se for algo obrigatório eles fazem, caso contrário, não querem”.

À VTM, Sandra Matos contou que faz sempre questão de ajudar a filha nos trabalhos, mas alerta que o plano escolar “devia ser ajustado”.

“Há uma subcarga muito grande sobre as crianças, bem como uma pressão para terem bons resultados”, referiu, defendendo que “não concordo que no ensino primário haja notas, isso impõe muita pressão às crianças e afeta-as psicologicamente”.

 

DEPOIMENTOS

Ana Guimarães, professora
Com os TPC, as crianças adquirem a noção daquilo que é a responsabilidade”

 

 

 

Maria Matos, professora

Os TPC servem para relembrar ou um reforçar da matéria abordada”
 

 

 

Sérgio Dani, pai e encarregado de educação

Nem sempre é fácil, até porque a matéria é diferente o que era antigamente”

 

 

Maria Telles, mãe e encarregada de educação

Os TPC, desde que não sejam em demasia, são positivos”

 

 

 

Sandra Matos, mãe e encarregada de educação

Há uma subcarga muito grande sobre as crianças”

 

 

 

 

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