Chuva torrencial e queda de granizo destruíram, na tarde de Sábado, entre as 16 e as 17.30 horas, culturas, vinhas, vários caminhos agrícolas e estradas municipais, na freguesia de Jou. A intempérie, acompanhada por forte trovoada, demorou cerca de meia hora e chegou a provocar o pânico, em algumas aldeias.
Segundo o Presidente da Câmara Municipal de Murça, João Teixeira, “os prejuízos são elevados e a tempestade fez com que houvesse corte de abastecimento de água a Jou e a parte de Murça, dada a grande quantidade de terras que foram arrastadas para o curso do rio Curros. Estamos, no terreno, a fazer o levantamento da situação, dado haver perdas de produção agrícola, na ordem dos setenta por cento. Felizmente, para já, não temos conhecimento de desalojados”.
As aldeias de Banho, Rio, Cimo de Vila e Penabeice foram as mais atingidas. Esta última ficou, mesmo, com o acesso rodoviário condicionado. Frisou que a Protecção Civil está no local e que os serviços municipais estão a efectuar um levantamento dos prejuízos causados. Perante este cenário, a Câmara Municipal de Murça resolveu pedir uma compensação imediata, ao Governo, de novecentos a um milhão e cem mil euros, para ajudar os agricultores da freguesia de Jou, afectados pela intempérie.
Entretanto, outros números foram adiantados, apontando para um total de cerca de duzentos e cinquenta agricultores afectados pela intempérie. Foi dizimada, segundo João Teixeira, “uma área agrícola de 250 hectares”.
Na aldeia de Jou que sofreu, também, grandes prejuízos, na rede viária rural, os agricultores estavam desalentados.
“Perdeu-se tudo quanto havia”, disse-nos Maria Amélia, uma agricultora que, com a lágrima no canto do olho, disse que não vai esquecer aquela trovoada “que parecia o fim do mundo”.
Durante a manhã de segunda-feira, os lavradores de Jou ainda faziam contas à vida e muitos deambulavam, tristemente, pelos campos, “a ver se ainda havia alguma coisa para salvar.
“Tinha acordado vender cereja, no valor de quatro mil euros, agora foi toda na enxurrada. Como foram o milho, batatais, pomares, castanheiros e a amêndoa. Que vou fazer eu à minha vida?” – interrogação de Fernando Magalhães, mas comum a alguns produtores deste fruto, chegando vários a receber sinal, já, pelo negócio e que, agora, terão de o devolver.
A Câmara Municipal de Murça, já começou a fazer a reparação de caminhos agrícolas e continua o seu levantamento. Por sua vez, o Director da DRAP Norte, Carlos Guerra, adiantou que “o apoio disponibilizado aos agricultores não contempla qualquer compensação monetária. Os seguros agrícolas são, fortemente, subsidiados, pelo Estado, em 75% e julgo que os lavradores deveriam ser aderentes ao mesmo. Neste momento, não faria sentido estar a ponderar uma situação destas. Seria injusto para aqueles que o fizeram” – sublinhou.
João Teixeira defendeu que o Ministério da Agricultura deve implementar os Seguros Sociais, senão as pessoas não têm hipóteses de sobreviver a calamidades do género”.
Anteontem, iniciou-se a operação de salvar o que existe, nos campos e pomares. Três litros de adubo líquido, à base de cálcio, por hectare, foram a receita dos técnicos da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, DRAP-N, para os cerca de duzentos lavradores de Jou que viram os seus campos agrícolas dizimados. A sessão de esclarecimento ocorreu na Escola Primária de Jou, sobre tratamentos a pomares e podas adequadas, à vinha flagelada. Depois, os técnicos, alguns dos Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro, CEVD e de Lamego, deslocaram–se a alguns terrenos, onde fizeram algumas demonstrações práticas. Ao princípio da tarde, ocorreu a distribuição do adubo líquido, e alguns agricultores começaram, desde logo, a sua aplicação, após mais um “dilúvio”, mas sem granizo, que se abateu sobre o planalto de Jou e a serra de Santa Comba.
“Ao menos, isto! Vamos ver se conseguimos salvar alguma coisa” – disse Fernando Magalhães, um agricultor que também foi contemplado com a ajuda fitossanitária do Ministério da Agricultura.
“O adubo e a poda vão ajudar“ – acrescentou. O adubo foliar começou já a ser aplicado, por pulverização, e, segundo Júlio Félix, da DRAPN, terá como finalidade cicatrizar as lesões das plantas e árvores e, ao mesmo tempo, estimular a sua regeneração. Segundo este técnico, “a recuperação foliar e vegetativa poderá ocorrer, ao fim de uma semana, até porque o tempo húmido, pode ajudar, o que não aconteceria se estivesse tempo quente e seco”.
Apesar de manifestar o seu agrado pela entrega dos adubos aos agricultores, o Presidente da Câmara Municipal de Murça, João Teixeira, não esquece “a questão social” e defende “uma ajuda pecuniária, de emergência”.
De referir, também, que, em Armamar e Vila Nova de Foz Côa, ocorreram, de igual modo, prejuízos nas vinhas, pomares e amendoais.
Na Segunda-feira, a meio da tarde, os deputados eleitos, pelo PS, à Assembleia da Republica, Jorge Almeida, Paula Barros e Maria Helena Rodrigues, visitaram os locais onde se registaram os maiores estragos.
José Manuel Cardoso