Os actos do Congresso (conferências, refeições e exposições) realizaram-se no vasto edifício do Seminário Menor ou de Nossa Senhora da Conceição, hoje totalmente renovado e parcialmente ocupado pelos serviços administrativos diocesanos e com um auditório dotado de todos os requisitos modernos.
Na noite do dia doze, ouviram-se aí alguns textos musicais de padres bracarenses já falecidos que de dedicaram à composição musical: Manuel Borda, Alberto Brás, Benjamim Salgado, Manuel Faria, Fernandes da Silva, Joaquim dos Santos, e o jesuíta Manuel Simões SJ que foi, durante anos, professor na Faculdade de Filosofia.
2 – Na manhã do dia treze iniciou- -se a série de conferências. Nesse dia, ouviram-se o bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo que falou sobre a imagem do presbítero desde o Concílio de Trento ao Vaticano II, «o padre da igreja organizada, com párocos individuais a residir nas paróquias, tendo como tarefa pastoral a Missa, os sacramentos e o catecismo dos praticantes, situação social hoje totalmente alterada»; e o bispo auxiliar de Braga D. António Couto sobre «os fundamentos escriturísticos do sacerdócio cristão» que, na prática, foi o estudo comparativo do sacerdócio levítico e o sacerdócio de Jesus Cristo tal como vem exposto na carta aos Hebreus, o primeiro como «um sacerdócio da santidade de Deus, separado do povo e educador do culto» e o segundo «um sacerdócio de proximidade de Deus e da sua misericórdia».
Na quinta-feira, outras duas conferências, uma do padre alemão Gisbert Greshake, reólogo de Freiburg que, a partir das experiências da Alemanha e de outros vários países da Europa, falou das «transformações actuais na Igreja e do ministério presbiteral». De uma «igreja de massas» estamos a passar aceleradamente para uma igreja de minorias, como no Novo Testamento, que se sentia em contraste com o mundo pagão e como «povo peregrino», disse. Com a conversão do paganismo, a Igreja passou a ser «igreja sem mundo, da maioria e igreja, sem peregrinação e fortemente organizada». A essa igreja chamam genericamente «constantiniana». Isto não é nenhum pecado original, é o preço de ter atingido toda a gente então conhecida, afirmou. O risco foi a «instalação e a administração do poder». Na igreja de hoje nota-se uma «busca de êxitos pastorais, incluindo serviços sociais» e para isso cultiva-se forte «organização». «Os êxitos da Igreja devem ser outros, não visíveis», êxitos da igreja sacramento do mistério de Deus. Nessa igreja, o presbítero não «terá» a «sua» paróquia ou as «suas» paróquias para administrar, mas apresentar-se-á ao povo como «homem sacramento de Cristo» cuja comunhão deve desenvolver nos fiéis, e como «homem da comunidade presidida pelo bispo» e «membro de uma comunidade de presbíteros» em que vive inserido. A própria paróquia, mormente urbana, verá esbaterem-se as fronteiras geográficas de outrora e a pastoral será complementada por outros dinamismos nascidos dos movimentos, santuários e mosteiros.
A outra conferência da manhã foi proferida pelo Secretário da Congregação da Educação cristã, o bispo João Luís Bruguès, sobre a missão dos Seminários, aos quais se coloca hoje um grande desafio: que atitude tomar perante os jovens que batem à porta do Seminário vindos de famílias sem vida cristã e sem estrutura cultural? – «Acolhê-los com benevolência e proceder à sua formação com exigência, tanto espiritual como cultural», foi a resposta. «Há necessidade de lhes ministrar um tronco sólido de cultura e de vida cristã, que eles não trazem de parte nenhuma, e só depois é que devem entrar na vida do Seminário propriamente dito e em questões especializadas». Interrogado sobre a relação Seminário – Faculdade de Teologia, declinou a resposta para os bispos locais.
Na manhã do último dia, o doutor João Duque, leigo e director adjunto da Faculdade de Teologia, apresentou a síntese de um trabalho de vários professores da Faculdade sobre «a face mutante do presbítero», nomeadamente sobre «a presença e a relação do padre com as comunidades paroquiais: homem fixo ou ambulante, sozinho ou integrado numa comunidade de presbíteros?». «O presbítero sai da comunidade cristã não biológica nem sociologicamente mas pelo Espírito, é enviado à comunidade, está na comunidade e une a comunidade sem destruir algumas tensões legítimas, centra-a em Cristo e, quanto mais adulta é uma comunidade, menos depende do feitio do padre». A concluir a manhã, o P. Santiago del Cura de Elena, teólogo de Burgos, falou de «a presença do Espírito Santo na espiritualidade do presbítero».
As tardes dos três dias foram dedicadas a depoimentos de jornalistas e personalidades (Fátima Campos Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa e Isabel Jonet), a inquéritos e sondagens sociológicas feitas na diocese que serviram mais de fontes de informação do estado de alma das populações (com sinais claros de desorientação, diga-se) do que como fonte de doutrinação. Houve ainda a apresentação de dois livros, um póstumo, do padre António Luís Esteves («Trítico profano»), e outro do Doutor Jorge Coutinho sobre filosofia da religião («Caminhos da razão no horizonte de Deus»), e um sarau artístico sobre imagens do presbítero ao longo da História. Num dos dias passaram por ali os bispos de Viana do Castelo, de Bragança e de Lamego e dois padres de Vila Real.
Todos os dias, os trabalhos principiavam pela oração de Laudes e concluíam pela Eucaristia e Vésperas, actos presididos sucessivamente por um bispo local, D. Manuel Linda, D. António Couto e D. Jorge Ortiga.
3 – Depois da lauta mesa de doutrinação teológica e histórica, do diálogo dos oradores com a assembleia e da partilha de sensibilidades conforme a origem dos oradores, torna-se imperiosa uma serena reflexão pessoal sobre as exposições feitas e as sugestões apresentadas que permita a cada um situar-se, assimilar e crescer. Aí reside o busílis destas actividades, dificuldade acentuada pela propensão das pessoas em buscar receitas na Net e no computador. Por isso, se lembrou a necessidade de prolongar a reflexão nos arciprestados.
Da minha parte, tive a alegria de cumprimentar os padres que restam dos meus professores e outros contemplei–os nos retratos a óleo dependurados nas paredes da casa, abracei condiscípulos e contemporâneos, chorámos os estragos dos anos, visitei um deles atingido nesses dias por um grave avc. Aproveitei algumas horas de duas tardes para percorrer a cidade a pé, o que já não fazia há mais de vinte anos, admirei o arranjo de algumas ruas e avenidas, sofri os excessos de construção civil, entrei em casas comerciais que restam do antigamente, fui ao arquivo distrital instalado no antigo paço dos arcebispos em busca dos nomes dos párocos da minha aldeia natal e recordei os padres transmontanos que foram alunos do Seminário que era o seu, alguns deles chamados ao episcopado, e pude visitar no Bom Jesus duas religiosas carmelitas vila-realenses.
Uma viagem pastoral da inteligência e do coração, que também para isso se vai a um Congresso.