Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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UTAD testou nova tecnologia de apoio a eleitores invisuais e analfabetos

Na freguesia de São Pedro foram centenas as pessoas que votaram, algumas votaram mesmo duas vezes, a segunda das quais de olhos vendados. O objectivo? Testar um equipamento inovador desenvolvido por investigadores e alunos da universidade transmontana que vai permitir que pessoas com deficiência e os analfabetos tenham o mesmo direito que a população em geral, o direito ao voto secreto.

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O Centro de Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade (CERTIC), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) desafiou vários eleitores da freguesia de São Pedro a simular o seu voto de olhos vendados, testando assim um sistema que tem como objectivo permitir que pessoas com deficiência visual possam exercer o seu direito cívico com “independência e privacidade”.

Segundo Francisco Godinho, coordenador do CERTIC, a experiência piloto quis testar um sistema inovador que permite aos invisuais, ou pessoas com visibilidade reduzida, e analfabetos votar com recurso às novas tecnologias, através de uma “interface áudio-tactil”. “Há um boletim de voto normal, uma matriz táctil por cima (que permite identificar os diferentes partidos) que está em cima de um teclado ligado a um computador e que dá um feedback sonoro do conteúdo do boletim, permitindo à pessoa, mesmo que não saiba ‘braille’, ouvir o que está no boletim e marcar o voto de forma independente”, explicou o mesmo responsável.

Depois de votar, os eleitores foram então convidados a simular uma segunda votação com os olhos vendados. Sónia Cherpe foi uma das vila-realenses que aceitou o desafio, uma experiência que classificou como “fácil”. “Inicialmente, assim que me vendaram os olhos, senti logo uma elevação do nível de ansiedade”, testemunhou a eleitora, deixando a garantia de que, passados uns segundos, e depois do contacto com o sistema, foi simples identificar os partidos e escolher.

“Estamos a testar se é fácil ou não usar essa interface e como ela poderá ser melhorada”, referiu ainda o investigador da UTAD que levou a cabo o teste de usabilidade do equipamento com o apoio de vários alunos do curso de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas.

Reconhecendo que disponibilizar o equipamento tecnológico em todas as assembleias de voto, a nível nacional, seria inviável, visto que exigiria um investimento demasiado elevado, Francisco Godinho propõe que o sistema seja instalado em pelo menos uma mesa por município. “As pessoas que estivessem interessadas em utilizar esta interface comunicariam antecipadamente para que se criasse a logística que permitisse a votação noutro local que não o habitual”, explicou.

Apesar de recordar que a ideia da conjugação da grelha com o boletim de voto já é conhecida, e já “foi mesmo sugerida por associações ligadas à deficiência visual”, o novo sistema permite contrariar o ‘handicap’ do método, a exigência de saber ler ‘braille’. “Quando o sistema estiver todo informatizado poderá arranjar-se forma de utilizar apenas um computador que depois imprimirá o boletim de voto”, adiantou Francisco Godinho, antevendo os benefícios de um equipamento que vai permitir ainda a utilização por parte da população analfabeta, que em Portugal chega aos nove por cento.

Relativamente às barreiras arquitectónicas que impedem que pessoas com deficiência motora cheguem às mesas de voto, como acontece, por exemplo, nas mesas de votos da freguesia de São Dinis, em Vila Real, uma realidade que ficou comprovada nas últimas europeias, altura em que também o CERTIC desenvolveu uma acção para sensibilizar a população, Francisco Godinho considera que “ainda há muito a fazer”. Em São Dinis “colocaram uma rampa que é manifestamente insuficiente já que tem, no mínimo, o dobro da inclinação, exigida”, o que não permite que uma pessoa em cadeira de rodas a utilize sozinha, embora facilite a vida do seu acompanhante.

“Há questões elementares como o acesso de pessoas com mobilidade reduzida que só a legislação poderá resolver. Não podemos estar a espera durante mais 20 ou 30 anos que isto se altere”, defendeu Francisco Godinho considerando que “não vale a pena, por exemplo, pensar numa soluções tecnológicas para uma pessoa tetraplégica se ela nem consegue sequer entrar na assembleia de voto”.

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