Quando o Vila Real abriu o activo logo ao minuto 7, poucos acreditariam que o Valpaços mostraria tantos argumentos para defrontar uma das melhores equipas deste campeonato. Aliás, os forasteiros jogaram o jogo pelo jogo, responderam sempre às adversidades e mostraram muito engodo pela baliza. Do outro lado, estava uma equipa que rendeu muito pouco durante o primeiro tempo, cometeu inúmeros erros que o adversário aproveitou bem, mas também soube sofrer e galvanizar-se, conseguindo dar a volta a um resultado desfavorável, já com apenas dez unidades em campo. É de salientar o espírito do colectivo encetado pelos vila-realenses, quando tudo parecia perdido, numa tarde pouco feliz de alguns elementos da defensiva.
Logo aos 7’, Azevedo aparece solto na área e remata cruzado para o primeiro golo da tarde. O golo parece que adormeceu a equipa da casa, que começou a cometer alguns erros imperdoáveis, com o sector defensivo totalmente desconcentrado. Erros que foram aproveitados pelos visitantes, que, aos poucos, começaram a tomar conta da partida. Aos 25’, há uma perda de bola em zona proibida que é aproveitada por António para criar algum perigo para a baliza de Ivo. Volvidos 4 minutos, de livre, António coloca na área, onde aparece, solto de marcação, Nené que remata, de cabeça, e faz o empate. António era o motor da equipa e colocava sempre muito perigo para a baliza à guarda de Ivo, nomeadamente nos lances de bola parada, como o lance do segundo golo. António, (emprestado pelo Vila Real), bate de forma irrepreensível um livre e dá a volta ao marcador, aos 35’. Já com Shuster em campo, que entrou para o lugar de Miguel, o Vila Real teve uma soberana ocasião para chegar à igualdade. Perto do intervalo, aos 44’, primeiro Moura e depois Leandro, falham na cara do guarda-redes. Inoperância total dos avançados da casa.
A perder, Carlos Felisberto opta por dar maior profundidade ao ataque e deixa Francis nos balneários e coloca Peixoto no seu lugar, na tentativa de abrir a frente de ataque. Mas, os efeitos práticos pouco se sentiram, pois na retaguarda os erros iam sucedendo-se. Mesmo assim, Azevedo vai voltar a repor a igualdade, depois do passe de Shuster, o jovem avançado, com muita calma, bate Vítor pela segunda vez. Parecia que o Vila Real acordava para o jogo, mas, aos 62’, há uma nova perda de bola na zona defensiva e António aproveita para fazer uma chapelada a Ivo. Mais um bom golo do jovem médio forasteiro, que voltou à sua antiga casa para fazer uma excelente exibição. Dez minutos mais tarde, mais uma desatenção da defesa vila-realense, que Maurício aproveita para fazer o quarto golo da sua equipa, aliás um excelente pontapé que bate pela quarta vez Ivo. A perder por 2-4, parecia que o Vila Real teria poucas possibilidades de inverter o rumo dos acontecimentos. Mas, o golo de Ernesto trouxe alguma esperança aos apaniguados da casa, que ainda viram Henrique ver o segundo cartão amarelo e consequente vermelho. Mais uma contrariedade para os donos da casa, que precisam de vencer para se manter na luta pelo primeiro lugar. Aos 78’, azar para Nené que introduz a bola na própria baliza, fazendo um auto-golo que deu o empate aos visitados. Apesar de estar com menos um, os vila-realenses acreditavam que era possível vencer e vieram à procura do golo que lhe daria os três pontos. Aos 85’, Azevedo coloca as bancadas em euforia, depois de fazer o quinto golo e dar a volta ao resultado. Azevedo fez o «hat-trick», mas pouco depois foi expulso, pois tirou a camisola nos festejos do golo, que deu a vitória ao Vila Real.
Num jogo electrizante, a vitória acabou por sorrir à equipa da casa, muito valorizada pela grande réplica dada pelo Valpaços, que teve uma atitude muito diferente da que vimos no jogo da primeira volta.
CARLOS FELISBERTO, treinador do Vila Real
“Continuamos a acreditar”
O técnico alvi-negro realçou que a vitória foi justa, já que a sua equipa foi a única que procurou vencer, perante um adversário que soube fechar quase todos os caminhos para a sua baliza.
“Foi um jogo atípico. Temos a consciência que complicamos aquilo que poderia ter sido fácil, não tirando mérito à equipa do Valpaços. Cometemos demasiados erros, que uma equipa como o Vila Real não pode cometer. Mas, depois também mostramos a outra face da medalha, com uma alma e carácter enorme, uma ambição que mantém o Vila Real na luta pelo título, quando faltam apenas dois jogos para o final do campeonato. Continuamos a acreditar que é possível. Neste momento, não conseguimos estar alheios ao que se passa nos jogos do Mondim e as informações chegam da bancada e isso reflecte-se no estado de espírito dos jogadores. Este grupo de trabalho vive com muita ansiedade porque sabe que tem organização e qualidade para estar em primeiro lugar, mas não estamos por culpa própria. Mesmo assim, apesar de todos os condicionalismos deste jogo, mostramos que ainda mantemos a esperança, que nos vai motivar para os dois jogos que faltam”.
Carlos Guerra, treinador do Valpaços
“A paciência do Carlos Guerra está a acabar”
No final do encontro, o técnico da casa não gostou do resultado, mas sublinhou a atitude positiva da sua equipa, que jogou com muitos jovens, devido aos castigos de jogadores influentes no seu habitual esquema táctico.
“A paciência do Carlos Guerra está a acabar. Há três anos que estava afastado do futebol, devido a alguns problemas pessoais, mas foi com bastante alegria que regressei. Mas, agora estou a encarar este campeonato com bastante tristeza, vendo o trabalho dos trios de arbitragem, nomeadamente aqueles que temos apanhado. Não foi apenas neste jogo, temos vindo a ser prejudicados sucessivamente. Hoje, já sabíamos que o Vila Real não poderia perder e nós não tínhamos nada a perder. Viemos aqui lutar e dignificar o espectáculo, não viemos entregar o jogo de mão beijada ao Vila Real. O Vila Real tem uma equipa com valor mais que suficiente para ganhar ao Valpaços, não precisava da ajuda deste trio de arbitragem. Estou indignado porque não podemos pactuar com este tipo de situações. Sabemos que há poucos árbitros na AFVR, mas já estou sem paciência para aturar estas situações. Vou ponderar muito se vale a pena ou não continuar no futebol”.
Ficha Técnica
Jogo disputado no Complexo Desportivo do Monte da Forca.
Árbitro: João Santos
Auxiliares: Vítor Silva e Mauro Henriques
VILA REAL – Ivo, Bessa, Francis (Peixoto, 45’), Miguel, (Shuster, 36’), Mica, Ernesto, Castanha, Diogo (Henrique, 65’), Leandro, André Azevedo, Moura.
Suplentes não utilizados: Pedro, Fredy, Conceição e Miguel Ângelo.
Treinador: Carlos Felisberto
VALPAÇOS – Vítor, Fifi (Maurício, 64’), Zé Maria, Teixeira, France, Nené, Pedro, Rendeiro (Tony, 87’), António (Hélio, 75’), Calado, Cavalo.
Suplentes não utilizados: Luís Carlos, Micas e Cruzeiro.
Treinador: Carlos Guerra
Ao intervalo: 1 – 2
Cartões Amarelos: Mica (34’), António (45’), Vítor (51’), Castanha (53’), Rendeiro (53’), Diogo (55’), André Azevedo (65’ e 85’), Henrique (65’ e 77’), Pedro (74’), Calado (81’), Ernesto (86’)
Cartões Vermelhos: Henrique (77’, ac.), André Azevedo (85’, ac.).
Marcadores: André Azevedo (7’, 57’, 85’), Nené (29’), António (35’, 62’), Maurício (72’), Ernesto (75’).