Como nos anos anteriores, a festa do Corpo de Deus realizou-se em Vila Real com toda a solenidade. Por causa do calor que se anunciava, a Missa neste ano foi celebrada na Sé às 18 horas e a procissão saiu às 19, sendo a Bênção solene dada no escadório da igreja da Senhora da Conceição às 20,15.
O percurso foi o habitual, incorporando-se no cortejo todas as autoridades, desde o Governador Civil, ao Presidente da Câmara e vereação, Comandante do Regimento de Infantaria 13, Comando da PSP e da GNR, Bombeiros Voluntários da Cruz Branca e da Cruz Verde, Escuteiros do CNE, Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, Ordem Terceira de S. Francisco, crianças do Colégio de S. José, alunas das Florinhas da Neve, Religiosas, alunos do Seminário, paróquias do concelho com seus párocos e muito povo. Como a data da Páscoa não é fixa e a festa do Corpo de Deus também depende dela, a procissão deste ano atravessou a Avenida D. Dinis toda coberta de verdura, numa tarde serena, sem calor excessivo e em grande recolhimento, ouvindo-se alternadamente os acordes da banda musical e os cânticos eucarísticos da numerosa multidão de fiéis.
Antes da Bênção solene, o senhor Bispo testemunhou a sua alegria pela manifestação de fé que todos acabavam de dar, e pronunciou esta saudação:
Acabamos de realizar a maior e mais solene procissão litúrgica em Vila Real, uma procissão que vem a fazer-se nesta cidade há muitos anos e nunca interrompida, mesmo em épocas de alguma agitação social, e em muitas das paróquias rurais o acto vai repetir-se no próximo Domingo.
Não é uma espécie de romaria, uma mera tradição popular, mas uma celebração prescrita pela Igreja. É uma procissão que prolonga no exterior o mistério da Quinta-feira Santa celebrado no interior das igrejas. A Eucaristia não prolonga a Páscoa de Jesus Cristo por meio de um discurso solene nem por manifestações artísticas ainda que elevadas, mas pela presença real do Senhor Ressuscitado. Por isso, neste cortejo não usamos imagens, mas viemos pessoalmente, homens e mulheres, crianças e jovens, leigos e clérigos, pessoas constituídas em autoridade e simples cidadãos.
Esta procissão permite prestar à Eucaristia o culto de adoração. A Eucaristia é, fundamentalmente, o sacrifício de Jesus, mas prolonga-se para além dele. Apresenta-se na forma de pão que, de si, fala de alimento, mas antes e depois deve ser adorada: «nemo autem ilam carnem manducat nisi prius adoraverit», ensinava já no séc. V S. Agostinho. «Ninguém coma desta carne sem primeiro adorar». Essa adoração faz-se na Missa em gestos concretos e palavras próprias, e prolonga-se nestes actos.
O nosso tempo parece ter perdido esta capacidade adorante, o reconhecimento do valor absoluto de Deus. É preciso ir às raízes das coisas e ter coração: aos amigos, aos benfeitores, aos que se sacrificam por nós não vamos somente pedir favores, mas testemunhamos-lhes o nosso afecto, visitamo-los pelo real valor da sua pessoa. Jesus é esse eterno amigo mundo e que vive connosco nas aldeias e cidades.
É um dom, é o grande dom do Pai. A bênção da Eucaristia é dada neste cenário de abundância, tendo diante de nós o pão e o vinho dos nossos campos que escorrem das encostas, e que o Senhor escolheu como sinais sacramentais da Eucaristia. Comentando este facto, o Papa diz que a liturgia refere o pão como fruto da terra e do trabalho do homem, mas a própria fertilidade da terra não depende só de nós, é fruto da água no campo e ao ser amassado, e a água não depende de nós. Por isso, o próprio pão que vem da terra é sobretudo um dom, e a Eucaristia que vem do céu é um dom total.
Em segundo lugar, o pão é o alimento dos pobres e a Eucaristia é elemento de todos os pobres, mormente aos Domingos: reúne toda a gente, nacional e estrangeiros, classes e grupos sociais, operários e empresários, governantes e cidadãos comuns, moradores de grandes avenidas e moradores dos bairros, crianças e idosos.
Recordemos que na Igreja tudo converge para a Eucaristia: a catequese, a instrução religiosa, os sacramentos, as festas dos santos, o espaço sagrado e o próprio tempo, pois os dias da semana convergem para o Domingo. E mesmo a nossa vida familiar, a vida profissional e o dinamismo social bebem da Eucaristia inspiração e força. Todos aprendemos na Eucaristia que viver e governar é oferecer a vida.
A Eucaristia tem implicações sociais: quando alguém ajuda, dizemos que nos «deu o pão», e sempre que há necessidade de recorrer ao coração dos cidadãos, sempre que há urgência de atitudes acima do vulgar, é à porta das igrejas, à saída da Missa que esperamos encontrar corações mais abertos. Os noivos casam junto do altar da Eucaristia, os estudantes recebem a bênção das pastas na Eucaristia, os amigos celebram a amizade junto da Eucaristia, os doentes choram a sua dor e oferecem-na dentro da Eucaristia.
Nos tempos actuais, o Papa pede aos que frequentam a Eucaristia que sejamos fortes sobretudo contra «as muitas formas de violência contra o próximo, de modo particular, o terrorismo, a corrupção económica e a exploração sexual, o desrespeito pela criação, a terra que é o berço da vida do homem neste mundo (Exort. Sacramento da Caridade,66,67,68, 89). A Eucaristia é o Pão do Céu mas ensina-nos a viver na terra.
Nesta praça da Senhora Imaculada, Mãe de Jesus Eucaristia, fruto do ventre sagrado da Virgem puríssima Santa Maria, façamos o propósito de frequentar a Eucaristia dos Domingos e imploremos a bênção de Jesus para toda a cidade e concelho.