Para a criação de uma verdadeira rede de teatros, “o Estado devia definir critérios, mas só quando estiver disposto a financiar”, defendeu Rui Araújo, director de programação do Teatro, relativamente ao desafio do Bloco de Esquerda de debater o cenário de Vila Real na actual política cultural.
Segundo o mesmo responsável, o “serviço público” na área da cultura está entregue às autarquias, o que acaba por impedir que se concretize uma verdadeira rede, onde as programações assumam critérios democráticos e ao mesmo tempo tragam alternativas e oportunidades de escolha.
Sem quaisquer apoios por parte do Governo, o Teatro de Vila Real já reconheceu por várias vezes que o sucesso conseguido nos seus cinco anos de existência deve-se muito à aposta do município de Vila Real, e prova disso é o facto de que outras infra-estruturas, também localizadas no Interior do país, hoje não têm a mesma quantidade, variedade e qualidade ao nível da programação e, consequentemente, da adesão de público.
Entre as conclusões do encontro feito em Vila Real, Catarina Martins, deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, levou a sugestão de que seja “criada uma rede de teatros e cine-teatros com exigências relativas ao seu funcionamento (programas artísticos com pluralidade de oferta, condições técnicas, equipas mínimas) a que correspondam linhas de financiamento do Estado central”.
Outra das questões defendidas foi o apoio à criação, uma vertente na qual foi também “diagnosticada a necessidade num maior investimento no Interior do país”, tendo ainda sido referido “o importante papel dos equipamentos enquanto co-produtores com os criadores locais”, explicou a deputada.
Enquanto criador, Fábio Timor, da Companhia de Teatro Urze, garantiu que há já um “grande desgaste, já não há energia e as pessoas já não acreditam” nas promessas do Ministério da Cultura. “Não acredito que o problema esteja apenas na falta de dinheiro. Há uma má distribuição das verbas e um grande desrespeito” pelo Interior, defendeu.
Finalmente foi defendida a criação de Planos Estratégicos que identifiquem, de forma clara, quais “os objectivos de serviço público dos equipamentos e financiamentos dedicados à cultura, bem como a articulação e complementaridade entre equipamentos centrais e de proximidade”.
“Nos últimos 10 anos, Portugal assistiu a alterações profundas na dinâmica cultural do país, que não foram, no entanto, acompanhadas do necessário investimento financeiro, nem de corpo legislativo que assegurasse o serviço público que se exige nesta área”, sublinha o Bloco de Esquerda, que, até ao final de Março, vai concretizar reuniões nos vários distritos do país.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda criou ainda um fórum online sobre o trabalho e a qualificação no sector cultural que está aberto aos contributos de todos os profissionais e interessados.
