Sábado, 14 de Dezembro de 2024
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Distrito com mais quatro barragens hidráulicas

Os seis Municípios do Alto Tâmega (Chaves, Boticas, Valpaços, Montalegre, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar) acolheram, com satisfação, a decisão do Governo em construir quatro barragens, no Distrito de Vila Real. As localizações apontadas são Padrozelos (concelhos de Boticas e Ribeira de Pena), Daivões (Ribeira da Pena), Vidago (Chaves) e Gouvães da […]

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Os seis Municípios do Alto Tâmega (Chaves, Boticas, Valpaços, Montalegre, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar) acolheram, com satisfação, a decisão do Governo em construir quatro barragens, no Distrito de Vila Real. As localizações apontadas são Padrozelos (concelhos de Boticas e Ribeira de Pena), Daivões (Ribeira da Pena), Vidago (Chaves) e Gouvães da Serra (Vila Pouca de Aguiar).

Os novos empreendimentos estão inseridos no Plano Nacional de Barragens, cujo documento está em discussão pública, até Novembro. Duas grandes represas ficarão situadas no rio Tâmega (Daivões e Vidago). As outras em linhas de água de altitude (Gouvães da Serra) e no rio Beça (Padroselos). Os Presidentes dos Municípios do Alto Tâmega mostram-se favoráveis à construção destas barragens.

 

Agostinho Pinto:

“Uma decisão

governamental positiva, para a região”

 

A perspectiva de um grande impacto no desenvolvimento e progresso dos concelhos e a sua potenciação turística são as grandes esperanças dos autarcas.

Um deles é o Presidente da Câmara Municipal de Ribeira de Pena, Agostinho Pinto.

“A Câmara Municipal vê, com agrado, a construção da Barragem de Daivões, no rio Tâmega. Estamos dispostos a colaborar em tudo o que for necessário. É uma decisão governamental positiva para a região e que pode trazer mais valias, em diversas áreas de actividade. Ribeira de Pena encerra um conjunto de atractividades muito particulares, ligadas à Natureza. Depois dos grandes espaços verdes, agora poderemos ter um magnífico espelho de água que embelezará mais esta zona. Relativamente a preocupações ambientais levantadas, Agostinho Pinto está ciente de que “nestes projectos, a salvaguarda dos valores ambientais nunca estará em causa. Há um estudo de impacto ambiental para cada barragem e esta não fugirá à regra”.

A Barragem de Daivões terá uma albufeira que irá abranger o curso do Rio Tâmega, nas freguesias de Santo Aleixo, Santa Marinha e Salvador (a ponte de arame não será submersa).

 

Barragem de Gouvães destina-se a regadio

agrícola

 

O Presidente da Câmara Municipal de Chaves, João Baptista, também regista, com satisfação, a construção das barragens.

“São investimentos muito importantes, para os concelhos abrangidos e, mesmo, para todo o Alto Tâmega”.

A Barragem de Vidago, localizada no Rio Tâmega, vai ter um investimento de 106 milhões de euros e uma potência instalada de 90 megawatts (MW).

Por sua vez, o Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Domingos Dias, tem manifestado, publicamente, o seu apoio ao Plano Nacional das Barragens. No entanto, a Barragem de Gouvães, uma represa de montanha, terá uma vocação um pouco diferente dos outros empreendimentos, dado que a retenção de água será, essencialmente, destinada para fins agrícolas, nomeadamente para utilização de regadio dos lavradores do concelho.

 

Fernando Campos:

“Uma ocasião de

desenvolvimento e

progresso”

 

A barragem de Padroselos vai ser construída entre os concelhos de Boticas e Ribeira de Pena. O Presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Campos, também apoia a construção do empreendimento e a sua opinião é comum aos seus colegas autarcas. Ou seja, “uma ocasião de desenvolvimento e progresso que a autarquia acolhe, de bom grado”.

Mas nem todos batem palmas à iniciativa do Governo. Pedro Couteiro, representante, em Portugal, da Comissão Instaladora da “Coordenadora dos Afectados pelas Grandes Barragens e Transvazes” – COAGRET – manifesta-se contra este Plano. Aliás, uma posição assumida, a nível nacional, diante das câmaras de televisão, quando, na presença do Ministro do Ambiente, não lhe teceu palavras elogiosas. Para este dirigente, “os autarcas de Trás-os-Montes não percebem o que são as barragens, a qualidade da água e dos rios. As barragens não trazem desenvolvimento. Pioram a qualidade de água e fazem desaparecer rios e linhas de água dos seus percursos naturais”. Pedro Couteiro elogia os autarcas do Minho e o Presidente da Câmara Municipal de Mirandela que, na sua óptica, “levam vantagem, nesta área, em relação aos seus colegas que têm desenvolvimento integrado, sem ser à custa de barragens”.

 

Pedro Couteiro:

“A região já tem barragens a mais”

 

Pedro Couteiro focou, ao Nosso Jornal, uma outra “vantagem” que os autarcas têm manifestado: a perspectiva de postos de trabalho.

“É uma pura ilusão. Trás-os-Montes tem experiências negativistas, nesta área. Depois de construídas, são, meramente, muros e paredões de cimento armado. Falam, enquanto as constroem, na criação de muitos postos de trabalho. Uma mentira. Veja-se quantos transmontanos lá trabalham! Pode-se observar que, embora não seja xenófobo, são os caboverdianos, romenos, ucranianos e pessoas de outras nacionalidades que ali trabalham. Os transmontanos não se vêem, ali”.

Para este ambientalista, residente em Vila Real, “a construção de mais barragens, no rio Tâmega, vai tornar este rio num caso dramático. Barragens construídas em zonas naturais, cujos percursos de água ainda não estão poluídos, significarão a sua asfixia e, mesmo, o desaparecimento de algumas espécies piscícolas indígenas selvagens e o aparecimento de outras espécies predadoras”.

Pedro Couteiro voltou a acusar alguns Presidentes de Câmaras Municipais de Trás-os-Montes de falta de sensibilidade, para todo um património natural que vai ser abafado e destruído, com a construção destas barragens.

“A região já tem barragens a mais. É evidente que, em algumas zonas do país, são precisas, mas outras não se justificam. E até outras precisam de ser desmanteladas, dado que estão a prejudicar os cursos de água e a serem focos de poluição!”.

O Plano Nacional de Barragens foi apresentado, recentemente, em Lisboa, pelo Primeiro-Ministro José Sócrates. Prevê que Portugal atinja, em 2020, uma capacidade hidroeléctrica superior a sete mil megawatts e que os novos aproveitamentos hidroeléctricos a implementar assegurem valores de potência instalada adicional, na ordem dos dois mil megawatts.

 

José Manuel Cardoso

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