Quarta-feira, 4 de Dezembro de 2024
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Douro sem soluções para resíduos da construção civil

O Território do Alto Douro Vinhateiro ainda não possui um centro licenciado para a recolha de inertes oriundos do sector da construção civil. É o “calcanhar de Aquiles” ambiental do património classificado pela Unesco e ainda sem solução. Neste momento, o único local legalizado, mais próximo, para a recepção destes resíduos, fica em Vila Nova […]

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O Território do Alto Douro Vinhateiro ainda não possui um centro licenciado para a recolha de inertes oriundos do sector da construção civil. É o “calcanhar de Aquiles” ambiental do património classificado pela Unesco e ainda sem solução. Neste momento, o único local legalizado, mais próximo, para a recepção destes resíduos, fica em Vila Nova de Gaia.

Esta constatação foi a mais evidente, no encerramento da campanha “Douro Limpo”, cujo III Fórum fez emergir, nos vários “actores” da região, algumas falhas ainda existentes no concertamento de iniciativas e de estratégias.

António Coutinho, da Delegação do Douro do IPTM, e Margarida Correia Marques, da UTAD, foram elementos muito activos, no “Douro Limpo”, acção inserida no Projecto da Erradicação de Dissonâncias Ambientais do Alto Douro Vinhateiro.

 

Empreiteiros sabem o que fazer mas não têm soluções para resolver o problema

 

Ao Nosso Jornal, ambos fizeram um balanço generalizado da iniciativa, ficando no ar a ideia de que o “Douro Limpo” deveria continuar, porque “a sustentabilidade de uma região não pára”. Contudo, todos reconhecem que a acção foi muito positiva, para uma melhor e maior consciencialização ambiental.

Margarida Correia Marques assim o considerou: “Penso que o balanço foi muito positivo. A campanha arrancou, publicamente, em Novembro de 2006, num cenário em que, para os resíduos mais problemáticos do Alto Douro Vinhateiro, nós não tínhamos soluções”.

E, nestes, incluem-se os que são oriundos do sector da Construção Civil.

“Os resíduos da construção e demolição são muito mais problemáticos. Não existem empresas licenciadas para a recolha destes inertes, em Vila Real. E, neste momento, não há, para o Alto Douro Vinhateiro, qualquer solução. Temos falado com vários empreiteiros que até já sabem o que hão-de fazer, só que não têm soluções para resover grande parte desse tipo de resíduos”.

Esta responsável apontou caminhos: “Julgo que pode partir das autarquias e do cidadão comum a ideia de montar uma empresa, com essas características. Aliás, temos um grupo de alunos que está a tentar implementar uma empresa inovadora, neste sector”.

 

Faltam centros de recolha para resíduos eléctricos e electrónicos

 

Outra área que mereceu especial atenção da campanha foi a recolha de resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos.

“Havia já algumas soluções. As pessoas poderiam entregar os seus aparelhos, mas havia algum desconhecimento sobre isto, tanto da parte dos cidadãos como dos comerciantes. Todo o cidadão pode fazê-lo e o próprio comerciante. Há centros de recepção, em Viseu, mas, no Alto Douro Vinhateiro, há falta deles. Eu contactei as entidades gestoras e o que nos disseram foi que, mais dia ou menos dia, também os teremos, na região. Em relação às lojas de informática, neste momento a solução é colocar os resíduos nos ecocentros ou no Parque Multimateriais de Vila Real. Contudo, já há Câmaras que fazem a recolha destes equipamentos”.

Nas outras ares de sensibilização, as coisas estão a correr bem.

“Para os veículos em fim de vida, estamos bem. Neste momento, não há qualquer cidadão que vá colocar um automóvel na sucata. Há, neste momento, no Alto Douro Vinhateiro, três operadores licenciados para a sua recolha, em Mirandela, Vila Real e Alijó, os quais já estão a trabalhar. Em Viseu também há dois operadores”.

António Coutinho fez, objectivamente, o ponto da situação sobre a operacionalidade do Projecto.

“Os pontos negros ambientais são aqueles que constam do levantamento efectuado e que aponta 103 locais identificados, os quais foram limpos, no âmbito da campanha inserida no projecto da Erradicação das Dissonâncias que é a linha de força desta iniciativa. Destes 103, nem todos são do mesmo tipo. Os resíduos dominantes são os da construção que funcionam, depois, como porta de entrada para outros resíduos. As pessoas queixam-se mais são da distância. O único local licenciado, no Norte, disponível para a recepção de matérias, fica em Vila Nova de Gaia, onde, além dos custos da distância, é preciso pagar as respectivas taxas”.

Segundo António Coutinho, “está em vias de licenciamento um centro de recolha”, mas “não se sabe quando”. Este centro está projectado para um aterro, em Vila Real, na zona das pedreiras de Parada de Cunhos, e poderá ser a primeira solução. Mas, até lá, efectivamente, não há mais nenhum, adiantando que “esta semana, com a limpeza do último ponto negro, vai ser feita uma vistoria final a cada um deles. Mas julgo que poderemos andar numa taxa a rondar quase os cem por cento, no que concerne a limpeza e a recuperação activa e ambiental dos locais”. Por fim, António Coutinho salientou o papel da Delegação do Douro do IPTM e deixou a porta aberta para outros actores.

“O IPTM foi convidado para esta acção, há quem questione ou não o convite, mas, sobretudo, serviu para dar o primeiro passo, servir de exemplo e despertar consciências. Esperamos que seja uma ideia para continuar e que os Municípios que são, no fundo, quem de direito, poderiam assumir este assunto mais de perto, gostaria que tivessem uma voz mais activa, no processo, pois também foram os subscritores do protocolo e que dessem continuidade a este projecto”.

 

A necessidade de haver mais informação

 

Em jeito de conclusão dos trabalhos do III Fórum, Lia Vasconcelos, docente da Universidade de Lisboa, avançou alguns dados, ao Nosso Jornal:

“Este III Forum foi mais um passo em frente. Mais uma vez, foi identificada a dificuldade de juntar os vários actores (entidades). A falta de comunicação entre eles foi evidente. Nomeadamente, nos empreiteiros, isto na parte da construção civil, e, devido aos resíduos da construção civil, os autarcas e a sociedade civil, em geral. Sentiu-se, também, a necessidade de criar alternativas de ecopontos que possam estar localizados especialmente mais perto das pessoas, para poderem aí depositar os resíduos, de uma forma mais articulada. A nível mais geral, foi, mais uma vez, identificada a necessidade de haver mais informação, divulgada de uma forma mais activa e mais alargada. Há muita gente a quem ainda não chegou esta mensagem, pessoas que possam discutir as necessidades que sentem e a que possam dar respostas. E ainda é preciso continuar estas acções, envolver novo grupo de actores e novas pessoas e alterar até estratégias de divulgação”.

De referir que vão ser distribuídas sessenta mil brochuras à população do Alto Douro Vinhateiro, com informação dos contactos, horários dos ecocentros e informações sobre procedimentos a tomar. relativamente aos resíduos.

 

José Manuel Cardoso

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