Era, à partida, a esperança de uma mais–valia, para a Região Demarcada do Douro. O projecto da Subvidouro em construir uma fábrica para a produção de ácido tartárico tinha boas possibilidades de êxito. Concluída em 2004 e depois de ter sido gasto tanto dinheiro em equipamento das mais altas tecnologias para a obtenção do ácido tartárico, o certo é que desta unidade industrial não chegou a ser comercializado sequer um quilo daquela substância química.
A situação foi ventilada na última Assembleia desta instituição, conforme consta no Relatório de Contas do exercício de 2006: “Não houve qualquer avanço, relativamente à fábrica de produção de ácido tartárico. Ela continua encerrada, por enquanto, estando a ser equacionadas e a serem estudadas algumas alternativas”.
Mercado invadido por ácido tartárico
proveniente da China
Este investimento “zero” da Subvidouro teve um impacto negativo na própria estabilidade financeira da empresa, explicada na sua insolvência financeira, em cujo plano já se está a dar cumprimento à sua execução, com o pagamento de juros.
As instalações da moderna fábrica parada situam-se na Quinta de Valmor, em Folgosa do Douro, no concelho de Armamar.
Para este falhanço financeiro da fábrica de ácido tartárico há algumas razões. Porventura, não teria sido feito um adequado estudo económico da unidade de produção, mas a principal será explicada pela invasão, no mercado, nos últimos anos, de ácido tartárico oriundo de alguns países europeus e asiáticos, mormente da China. Uma situação que se revela incomportável, para a Subvidouro, a nível de concorrência, pelo custo de obtenção.
José Lopes, da Adega de Santa Marta de Penaguião, cuja Cooperativa pertence à Direcção da empresa. reconhece esta situação.
“De facto, é um investimento em que ainda não houve retorno financeiro. A ideia era a obtenção do ácido tartárico, para comercialização. Mas, depois de uma fase experimental curta, verificou-se que os preços existentes do mercado de ácido tartárico proveniente de Espanha, França e, ultimamente, da China, não tornava rentável a sua produção. Mas a Subvidouro está atenta e a viabilizar esforços, no sentido de se encontrar uma solução para a unidade industrial”.
O eng.º Dinis, técnico da Subvidouro, parco em palavras, apenas confirmou que “a fábrica não está activa”, ao mesmo tempo que avançou o valor do investimento: 600 mil contos.
Ácido tartárico importado não é natural e poderá ser prejudicial para a saúde
O projecto da Subvidouro teve, na sua fase inicial, a colaboração de elementos da Universidade de Trás-os–Montes e Alto Douro.
De salientar que o documento do Revisor Oficial de Contas da Subvidouro, Francisco Pereira, aconselha um estudo profundo, sobre a sua viabilidade.
“Foi efectuado um investimento na fábrica de ácido tartárico que, até à presente data, não teve produções significativas, o que obrigará a um estudo sobre a sua viabilidade”. Segundo o mesmo, em 31/12/2006, o investimento era 1.930 milhares de euros. O produto em causa é o ácido tartárico, actualmente classificado no código NC 29181200. É utilizado como aditivo nos produtos vitivinícolas, nos alimentos e nas bebidas e como agente retardador no gesso e em muitos outros produtos. Pode ser obtido quer em subprodutos da produção vitivinícola, tal como no caso de todos os produtores comunitários, quer mediante síntese química de compostos petroquímicos, como no caso de todos os produtores exportadores da República Popular da China.
Contudo, alguns importadores alegaram que deve ser feita uma distinção entre o ácido tartárico de qualidade alimentar ou farmacêutica e o ácido tartárico produzido pela indústria comunitária.
Aqui, surge o alerta de José Lopes.
“É preciso ter cuidado com o ácido tartárico chinês, pois não é natural e pode ser prejudicial para a saúde pública”.
O perigo da infiltração do ácido tartárico chinês está a causar preocupações, junto de entidades reguladoras do próprio sector do Vinho do Porto e do Vinho de Mesa de outras regiões do país. Um composto sintético, num vinho natural, é algo impensável. Uma coisa é o ácido tartárico que ocorre, em abundância, na Natureza, principalmente nos frutos, com várias aplicações na indústria alimentar e bebidas, outra coisa é o artificial.
Subvidouro continua a fazer aproveitamento de
subprodutos vínicos
De referir que a Subvidouro, Centro de Aproveitamento de Subprodutos de Vinificação da Região Demarcada do Douro, é uma empresa de aproveitamento de subprodutos vínicos, como borras e bagaços, e destilação de vinhos, para aguardentes. Esta Cooperativa/Empresa tem a sua sede em Peso da Régua. Conserva, concentra e transforma subprodutos da vinificação adquiridos aos associados (Adegas Cooperativas) e a outros produtores (viticultores e vinicultores singulares e colectivos). Em 2006, trabalhou em regime de cessão de exploração de actividade em favor da Sociedade Lusitana de Destilação, SLD. Refira-se que a Subvidouro é a destilaria do país que mais subprodutos trabalhará, na próxima vindima, com quantidades recordes, desde a sua fundação. Além da fábrica do ácido tartárico, tem apostado no desenvolvimento do campo experimental da Quinta do Valmor. Este local proporciona venda de material vegetativo e já é considerado um pólo de conhecimentos sobre a Viticultura.
A Subvidouro continua a colaborar com o CerVIM, no estudo e investigação do desenvolvimento de várias castas, em associação com a DRATM/Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro. Todas estas iniciativas se inserem no plano de recuperação da Quinta de Valmor, estando também em curso a reconstituição da área vinhateira.
Apesar do fracasso do investimento na fábrica de ácido tartárico, a Subvidouro continua a investir na manutenção e substituição de equipamentos da empresa, nomeadamente as caldeiras, estação de tratamento de afluentes e de bombagem e fábrica de tartarato de cálcio.
José Manuel Cardoso