O uso desta proteína na restauração não era muito frequente, sendo confecionada sobretudo nas aldeias, em montarias ou convívios. Mas em Macedo de Cavaleiros passou a ser uma carne mais conhecida e apreciada pelos frequentadores de restaurantes, desde que se realiza a Rota Gastronómica do Javali.
Em 2025 acontece a 11.ª edição contando com 13 restaurantes aderentes. Nestes espaços são apresentados deliciosos pratos em que o javali é protagonista, sendo uma parte da programação que apela aos apreciadores da boa gastronomia e promete ser um convite aos sentidos.
Esta rota gastronómica é impulsionada pela Confraria do Javali, desde 2014, com o intuito de criar “uma nova dinâmica no concelho em torno desta iguaria”, que é a base de variados pratos, que “foram ficando mais célebres nos restaurantes do concelho”.
O mais tradicional é o javali no pote, um prato de caça, com carne de javali que é estufada em pote de ferro ao lume e complementado com outros produtos locais. O Javali no Pote à Moda de Macedo de Cavaleiros foi mesmo certificado em 2020 pela Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) como iguaria tradicional portuguesa, na categoria de pratos à base de carne.
Na cozinha de Paulo Ribeiro, no restaurante Cantinho do Alexandre, nos próximos quatro dias o javali será feito da forma mais tradicional: estufado, no pote ou ao fogão. A acompanhar é servida batata cozida, grelos e castanhas. Produtos regionais que acredita estarem a ser mais valorizados.
“Tudo o que são esses eventos, semanas ou fins de semana gastronómicos, dinamizadas através do Geopark Terras de Cavaleiros, nós juntamo-nos”, porque criam dinâmica e divulgam pratos típicos, conta o proprietário e cozinheiro. “Vêm sempre caras novas experimentar e depois alguns ficam clientes, ajuda muito”, garante, dando o exemplo do fim de semana das casulas, que decorreu este mês.
Em dias em que a cidade recebe milhares de visitantes, os restaurantes ficam cheios e mesmo que, para muitos, este prato seja uma novidade, a verdade é que, na generalidade, quem prova passa a apreciar. “Muita gente nem conhecia, porque comia-se mais nas aldeias. Quem matava fazia em casa”, refere.
Paulo destaca que agora há mais facilidade em encontrar a carne de javali a nível local, visto que noutros tempos apenas estava acessível a ultracongelada. “Só recentemente é que temos acesso em arrematações” nos leilões de montarias. Com esta maior disponibilidade, no Cantinho do Alexandre já é frequente encontrar o prato de javali em outros fins de semana ao longo do ano.
O tradicional restaurante Cinco Croas também aderiu, mais uma vez, à rota do javali. Luís Santos explica que a maioria dos seus clientes vem do litoral e procuram-no pelos pratos de vitela, bacalhau ou enchidos, mas quando integra os eventos gastronómicos do concelho, os turistas também gostam de saborear os pratos típicos. “Temos clientes que nos visitam ao longo do ano e quando há estas propostas gastronómicas diferentes, eles também procuram vir e saboreá-las, deliciar-se com aquilo que nós temos de bom no nosso Trás-os-Montes”, frisa.
Neste restaurante, só nestes quatro dias é que se faz javali no pote, confecionado da forma mais tradicional, porque “em equipa que ganha não se mexe”.
Na altura da feira a afluência é muita, mas com capacidade para até 150 pessoas consegue receber muitos comensais. Junto ao restaurante também dispõe de alojamento e na altura da Feira da Caça “está sempre cheio”. Na restante época de caça também são procurados por muitos caçadores, no entanto, tem notada uma diminuição. “Agora há a época dos tordos e ao fim de semana a casa enchia só com esses caçadores, mas estes últimos dois anos quase não há tordos”, lamenta.
Confraria do Javali
Atualmente com 56 confrades, a Confraria Gastronómica do Javali foi crescendo ao longo de cinco cerimónias de entronização, tendo a última acontecido na Feira da Caça e Turismo de 2024.
Criada em 2012, arrancou com “o princípio de promover a carne de javali, porque era uma iguaria que no território do concelho de Macedo de Cavaleiros é de excelências, só que faltava algo que a promovesse e cativasse turismo”, explica o grão-mestre da Confraria Gastronómica do Javali, António Silva.
Foi para isso que, em 2014, criaram a Rota do Javali. Esta iniciativa “veio criar uma dinâmica nova na restauração, propiciando outras rotas gastronómicas no concelho, com outras iguarias”.
No caso do javali, a evolução da promoção é inquestionável. “Na altura em que nasceu a confraria, esta carne praticamente só era confecionada na casa dos caçadores, ou em convívios de caçadores. Com a Rota do Javali verifica-se que nos restaurantes, o javali tornou-se um prato comum, no período da Feira, ao longo do ano, e é servido diariamente em alguns”, sublinha, ainda que admita que com o frio tem sempre outro sabor.
O que também progrediu foi a criatividade para criar pratos com carne de javali, além do tradicional javali no pote, com vários restaurantes a inovar, tendo na carta feijoada de javali, arroz de javali semelhante ao de cabidela, costeletas de javali grelhadas, sendo base de rissóis, croquetes, empadas e até fumeiro, ou mesmo de pudim, uma espécie de abade de priscos com gordura de javali. “Os restaurantes foram, por iniciativa própria, melhorando a apresentação e criando mais pratos”, explicou.