Segundo a porta-voz da Associação de Exportadores de Vinho do Porto, AEVP, Isabel Marrana, para já, “não vai ser implementado” o Acordo Ortográfico. “Estamos a ver como irão correr as coisas. Se ele for adoptado de uma forma generalizada, então provavelmente iremos utilizá-lo nas nossas comunicações”. No mesmo sentido, surge a opinião do presidente da Câmara Municipal de Chaves, João Baptista, para quem a implementação das novas alterações ainda “não deve ser discutida”. “Este assunto ainda não foi colocado em cima da mesa. É algo pertinente, mas, nesta altura, o nosso tempo é ocupado com outros assuntos mais prioritários”, sublinhou. Artur Cascarejo, presidente da Câmara de Alijó, assegurou que “mais tarde ou mais cedo, toda a comunicação escrita emanada pela edilidade obedecerá às novas regras”. Quem não vê com bons olhos este acordo é João Campos, do Jornal Nordeste. Infelizmente, as pessoas estão a escrever pior e noto isso mesmo em jovens recém-licenciados, julgo que este Acordo ainda vai complicar mais. No jornal ainda nem abordamos o assunto”.
Na área do Ensino, oficialmente não há notícias de novas directrizes referentes à Língua Portuguesa. Segundo o presidente do Conselho Executivo da Escola de S. Pedro, “o Ministério da Educação ainda não deu conhecimento às escolas quando e como, o Acordo Ortográfico será integrado e adoptado”. De certa forma e contra a corrente, há quem defenda a sua aplicabilidade gradual e veja no documento várias vantagens. É o caso de José Esteves Rei, professor catedrático da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, e presidente do Conselho Pedagógico, ligado à área do Conhecimento da Didáctica do Português, Estilística, Retórica e Comunicação Organizacional. “No futuro, a necessidade do Acordo penso que não se pode questionar, já que é bom para as línguas a diversificação. Veja o exemplo da história do latim e a origem que deu a meia dúzia de línguas, como é o caso do francês, português, espanhol, italiano e romeno. Isto para referir que a lei natural das línguas do Brasil, Angola e Moçambique vão seguramente diversificar-se cada vez mais”. Este professor universitário reconhece até benefícios para os alunos. “O Acordo vai facilitar a vida aos nossos jovens, que acabam por ter uma dificuldade muito menor em aprender a língua escrita com o Acordo. A prova disso é a dificuldade que nós tivemos para aprender a grafia que eles já não irão ter. Quantos alunos apanharam bolachadas por não escrever o “c” de Victor ou o “p” em óptimo?”. “O Brasil mete-nos num bolso em todas as organizações e fóruns internacionais. Nós temos mais a ganhar do que a perder, em termos os nossos “irmãos” brasileiros a falar a mesma língua. Ao contrário do que muita gente pensa, a política da língua vem beneficiar-nos mais do que nos prejudicar”. Na sua abordagem, clara e concisa, José Esteves Rei levantou algumas questões citadas por aqueles que estão contra o Acordo. “O papão de que há grandes empresas brasileiras, sobretudo editoriais, que vão ficar a ganhar com o Acordo é um falso problema. Nós tivemos o exemplo em 1911, que foi o primeiro acordo português e brasileiro. Depois outro acordo em 1945, que o Brasil não assinou. O mesmo país fez mais um em 1967 que nós também não assinámos. Daqui se conclui que a sua consumação já existiu há muito tempo e até aqui ninguém se queixava”. Um outro argumento comparativo que não é compreendido tem a ver com as línguas espanholas e inglesas. “Os espanhóis e os ingleses não têm acordo nenhum relativamente à língua que é falada em vários locais do mundo”. Isso, em parte, é verdade. Mas, não podemos esquecer que os dicionários que se impuseram em termos de escrita para todo o mundo, que fala espanhol e inglês, foi uma norma imposta há cem anos. Nós, ainda hoje, não temos um dicionário da Academia Portuguesa. Isto é, historicamente a relação dos povos com a Língua foi completamente diferente em Portugal e no Brasil, do que aconteceu entre Espanha e os países Latino Americanos”. O docente da UTAD aproveitou para fazer uma observação sobre uma personalidade da cultura portuguesa que é contra o Acordo. “O professor Vitorino Magalhães Godinho, a exemplo de Miguel Esteves Cardoso, defende o não absoluto ao Acordo. Mas, noto que são pessoas que viveram na sua época e, naturalmente, neste momento, são homens que se vêem uma dimensão cultural, da qual têm uma enorme dificuldade em decidir. Estamos a falar dos anos 40 aos 80 ou 90, em que a língua portuguesa foi uma bandeira. Portanto, eu compreendo muito bem que ele se reveja numa língua ou numa produção que era a do seu tempo. Mas, a lei da vida não perdoa”.
Em conclusão, José Esteves Rei explicou as alegadas vantagens deste convénio linguístico. “É um pouco difícil dizer se é benéfico, mas eu diria que sim, sem reservas. Se não fizermos nada hoje mesmo, o Brasil terá uma língua diferente da portuguesa e se isto acontecer, aquilo que os fundamentalistas falam da língua portuguesa pura na Europa, serão cerca de meia dúzia de “gatos-pingados” a falar para as paredes, ou seja, em termos internacionais, ficaremos cada vez mais isolados. Se houver compreensão por parte de toda a comunidade lusófona (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné, Timor e Cabo Verde), todos poderemos ganhar em termos internacionais, porque a globalização está aí”.
A Agência Lusa já começou a aplicar o Acordo Ortográfico em todas as notícias produzidas a partir de 30 de Janeiro, seguindo as novas normas da língua portuguesa, que entraram em vigor no início do ano, embora com um período de adaptação até 2016. Este documento foi aprovado em 1990 por Portugal, Brasil e pelos cinco países africanos de língua oficial portuguesa, ratificado depois pela Assembleia da República, a 16 de Maio do ano passado, e promulgado pelo presidente da República a 21 de Julho. O Brasil foi o primeiro país a aplicar o Acordo, em Janeiro de 2009. Portugal decidiu a sua entrada em vigor em 1 de Janeiro de 2010, com um período de adaptação até 2016. Nos países africanos, só Moçambique e Angola não o ratificaram, por enquanto.