Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Mais de 3.200 hectares de floresta regidos pela “lei da Natureza”

Em Agosto de 2002, cerca de 3.200 hectares de pinheiro bravo foram dizimados por um violento incêndio que durou cinco dias. Após 8 anos, a área ardida, que abrange as freguesias de Pinho, Fiães, Granja e Curros, encontra-se por intervencionar e motiva algumas críticas.

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Uma delas surge através do presidente da Cooperativa Agrícola de Boticas, Albano Álvares, que acusa o Estado de “abandono total e desmazelo”, garantindo que, desde 2002, “nada foi feito na sua ordenação”. O dirigente foi mais longe e disse, ao Nosso Jornal, que, na altura, o Ministério da Agricultura “recusou, para a área ardida, um projecto sustentável, virado para a replantação florestal equilibrada e exploração de mais valências ligadas ao turismo ambiental e actividades adjacentes à floresta, nomeadamente a caça e a pesca”. Também o presidente da Câmara de Boticas, Fernando Campos, tem a mesma opinião e critica o Estado por imobilismo, já que não faz, nem deixa fazer”. Na altura, o Ministério da Agricultura e Pescas “chumbou” o projecto, porque não abdicou da gestão do espaço, o que era uma condição do projecto proposto”, que foi rejeitada liminarmente pelas entidades proponentes. “Há vários anos, fizemos uma proposta ao Ministério da Agricultura para intervir na área de floresta queimada no incêndio de 2002, um novo projecto que seria um paradigma para a exploração dos Baldios. Primeiro, disseram-nos que sim, depois que não”.

O estudo desenvolvido no terreno apontava para a introdução de plantas ornamentais e medicinais, reflorestação com folhosas e criação de pontos de água. As ideias não passaram do papel, sabendo-se que a actual reflorestação que existe é espontânea. “Ao fim destes anos, toda a área é um exemplo do desmazelo e abandono da floresta, já que nunca aconteceu uma intervenção”, sublinhou Albano Álvares. “Conforme está, totalmente desordenada, temo que volte a arder e desta vez sem possibilidade de retorno vegetativo. No primeiro incêndio, ainda os solos tinham as sementes das pinhas, agora já não há pinhas e poderá será o fim de uma das zonas mais bonitas de pinheiro bravo do distrito de Vila Real”.

A proposta apresentada passava pela gestão da área flagelada pelo fogo, juntamente com o Estado, cooperativas, baldios e autarquias. “O Ministério nunca quis abdicar da gestão das áreas ardidas, não queriam perder terreno e quando assim é, por vezes, perde-se tudo. Com esta atitude, vamos perder a mata toda. Estamos a falar de áreas das freguesias de Pinho, Fiães, Granja e Curros. Foi um erro que o próprio Ministério hoje reconhece. Agora, entendem que seria um projecto-piloto inovador, em termos de gestão florestal, que abrangia cerca de 3.200 hectares e que agora está ao abandono e entregue à lei da Natureza”. Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Campos, também lembrou, ao Nosso Jornal, o “infeliz desfecho” do processo, apontando o dedo ao Governo socialista de então. “Fizemos um caderno de encargos, definimos metas e objectivos para a área abrangida pelos incêndios. O que falhou foi não ter havido uma decisão política do primeiro Governo de José Sócrates, o anterior (PSD) já tinha dado o aval. Para mim, era a única forma de gerir os baldios, pois iria co-responsabilizar os parceiros no processo. Agora é só gastar dinheiro e tudo está abandonado. Penso mesmo que era um projecto de grande biodiversidade de gestão florestal, e que contemplava, além dos tradicionais produtos florestais, a madeira e a resina, virava-se para o aproveitamento das próprias pinhas, ervas medicinais e aromáticas, e uma gestão equilibrada e sustentada. Agora, estamos à espera que arda”, concluiu o edil.

Tentámos ouvir o Ministério da Agricultura sobre esta matéria, mas oficialmente, apesar de vários contactos, não foi possível uma reacção ou esclarecimento. O que apurámos, por fonte não oficial, é que “já foram feitas limpezas de alguns espaços envolventes da área que está a renascer”. Quanto ao reordenamento e gestão florestal, nem tudo é mau, já que o Ministério aprovou uma Zona de Intervenção Florestal, ZIF, que será desenvolvida pela CAPOLIB, como nos adiantou Albano Alvares. “Já há algum tempo, que entendemos que se deveria criar uma secção florestal. O sector é muito importante e as populações ainda não perceberam quão valiosa é esta fileira de actividade. Tem uma vertente social, económica, ambiental e turística enorme e finalmente vamos conseguir criar uma Zona de Intervenção Florestal, já que o Ministério deu luz verde para avançarmos. Até há pouco tempo, a legislação não permitia que os Baldios fossem objecto desse tipo de intervenção, agora já se pode fazer este modelo de candidaturas”. A ZIF terá de ser criada durante um ano, sendo que no concelho de Boticas, “90 por cento dos gestores já aderiram a esta medida”. “Só por si, o Estado não tem condições de gerir estes espaços, portanto são importantes estas parcerias”, frisou o dirigente cooperativo. No concelho de Boticas existem cerca de 15 mil hectares de baldios, sendo que 12 mil já foram anexados no projecto da ZIF.

Por fim, este responsável deixou uma visão daquilo que deve ser a floresta nos próximos tempos. “As pessoas pensam que é só cortar pinheiros e vendê-los. Claro que deve ter esta componente, mas também deve ter a caça, pesca, actividade micológica, desportos natureza, entre outros”.

De sublinhar que, durante o mês de Maio, reuniu em Boticas, a Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, onde foi apresentado o Plano Operacional Municipal (POM) de Boticas para o ano de 2010. No seguimento da sua apresentação, foram ainda referenciados e dados a conhecer os pontos de água existentes no concelho, disponíveis para utilização no combate a incêndios florestais, bem como os pontos de acesso a locais considerados de grau de dificuldade elevado, em termos de combate a incêndios florestais. Vale mais prevenir do que remediar e, nesta matéria, por vezes nem remédio tem.

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