Em tempos de incerteza e com a pandemia a virar tudo de pernas para o ar, é natural que algumas pessoas sintam maior ansiedade, medo, insegurança ou angústia na forma como lidar com situações de isolamento social, de alteração das rotinas, ou com a incerteza em relação ao futuro.
Se no início do ano, nos dissessem que iriamos estar perante um dos maiores desafios da humanidade nos tempos modernos, poucos acreditariam. O certo é que a pandemia do novo coronavírus começou na China ainda no final do ano passado, mas rapidamente chegou à Europa e começou a dizimar milhares de pessoas, com os números a serem claramente superiores aos registados em território chinês.
Somos seres humanos, mas, por vezes, até nos esquecemos disso, no entanto, somos mais frágeis do que aquilo que pensávamos.
Para nos ajudar a ultrapassar esta fase difícil, a VTM esteve à conversa com Paulo Pimentel, diretor do serviço de psicologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que revelou que esta é uma “nova ameaça” para a qual ninguém estava preparado, por isso “é normal que gere reações emocionais e até aumente os níveis de ansiedade”.
Como em tudo na vida, a variabilidade individual vem vir ao de cima, “há pessoas para quem vai ser mais difícil, para outras vai ser mais fácil”, mas é de esperar os níveis de “ansiedade subam em todos nós”, constata, adiantado que há sempre dificuldades das pessoas em estar neste estado de confinamento. “De um momento para o outro, perdemos o controlo sobre a nossa vida, ou seja, tínhamos uma rotina estabelecida, poderíamos sair, almoçar num restaurante, e agora não conseguimos fazer anda disso. Há uma ausência de controlo que é difícil de gerir”.
Perante esta realidade, Paulo Pimentel refere que estamos a passar por um processo de adaptação perante uma ameaça, em que, por norma, “reagimos de forma defensiva, já que é desta forma que estamos preparados para o fazer”.
ALGUNS CONSELHOS
O especialista deixou alguns conselhos para as pessoas conseguirem levar da melhor forma possível a sua vida neste tempo de adversidades nunca vistas. “Podemos fazer pequenas caminhadas, respeitando aquilo que está estabelecido pelas autoridades, relaxar, manter o contacto com os mais próximos através da internet e telefone, manter uma alimentação equilibrada”.
Para mantermos o equilíbrio psicológico, Paulo Pimental adianta que temos de criar uma nova rotina, uma vez que a anterior ficou desfeita com a pandemia. “Tivemos de sair da rotina anterior, de ir para o trabalho, ir ao restaurante, ao ginásio, ao parque passear, que agora se alterou”. No entanto, o ser humano “é um animal de rotinas, que são fundamentais a todos os níveis para manter o equilíbrio emocional”.
O LUTO
Vivemos numa sociedade em que o momento da despedida (o funeral) é uma parte importante do processo de luto. É um ritual de reunião de familiares e amigos da pessoa falecida, que oferece aos enlutados a oportunidade de expressar emoções, partilhar homenagens e dividir a tristeza. Além disso, o funeral cumpre uma função comunitária em que os participantes mostram apoio e solidariedade por uma perda que a todos tocará.
Para evitar a disseminação da Covid-19, agora não é possível cumprir este ritual de acordo com as práticas mais tradicionais, o que pode dificultar o processo de luto, constituindo um fator adicional de stress, raiva e angústia por parte de algumas pessoas.
Nestes casos, o psicólogo revela que “não fazer o ritual do funeral poderá ser um fator risco para desenvolver um luto complicado no futuro”. “São situações que necessitarão de acompanhamento, sendo que o Centro Hospitalar tem uma equipa para ajudar a ultrapassar esta fase mais complicada da vida das pessoas”.