A carência de mão-de-obra obriga muitos agricultores a oferecerem entre 30 a 40 euros por dia, mas mesmo assim não conseguem arranjar trabalhadores. Na adopção de novas formas de plantação, foi também tentada uma outra via para reduzir a mão-de-obra, partindo-se para compassos maiores destinados à mecanização. Mas, esta opção tem esbarrado em algumas características dos soutos transmontanos, que têm uma área reduzida e são dispersos. A mecanização do sector é defendida por alguns técnicos e especialistas, mas sublinham que os métodos têm que ser adequados à morfologia do terreno, de forma a preparar os soutos antes da apanha da castanha. Neste contexto, convém referir a importância que assume Trás-os-Montes, que possui uma área de cerca de 85 por cento dos soutos de castanheiro existentes em Portugal, de um total nacional de 30 mil hectares. Por outro lado, a aposta na mecanização poderá tornar a plantação “sustentável”, até 2030, de 60 mil hectares de castanheiros, previsto na Estratégia Nacional da Floresta, que aponta para a quintuplicação do rendimento anual da castanha em Trás-os-Montes, passando de 4,5 para 20 milhões de euros, fazendo fé nas projecções da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Em Carrazedo de Montenegro, um empresário apostou na aquisição de uma máquina para efectuar a apanha mecânica e é um dos raros empresários que possui este tipo de equipamento na região transmontana. Proprietário da empresa “Prazeres de Outono”, Lino Sampaio considera que “a apanha mecânica é a única solução para fazer frente à falta de mão-de-obra”. O produtor de castanha gere os soutos deixados pelos pais, com resultados “extremamente positivos” na adopção de inovadoras práticas fitossanitárias, ordenamento e colheita do fruto. Sobre a máquina que utiliza na colheita da castanha, teceu algumas considerações técnicas e salientou algumas das suas valências. “Além da castanha, recolhe os frutos secos, como nozes, azeitonas e avelãs. Tem duas mangas de aspiração, mas pode ficar só com uma, atingindo uma capacidade de apanha de 400 quilos de castanha, numa hora”. Esta máquina permite evitar que as pessoas se desloquem, todos os dias, aos terrenos para apanhar castanha.
Outra vantagem deste processo tem a ver com a redução de custo de mão-de-obra. “Acaba por ser compensador. Com esta máquina, uma ou duas pessoas fazem o mesmo trabalho de 12 ou 13 pessoas. Agora não há quem faça esta tarefa, onde se ganha em média cerca de 40 euros por dia”. Este equipamento “colhe o ouriço, faz a separação da castanha do ouriço e projecta-o para o solo. Ao mesmo tempo, a própria máquina permite o ensacamento. Pode ainda ser utilizada directamente na árvore fazendo a sucção do fruto. É uma máquina a diesel, produzida em Itália, que custa 10 mil euros, sendo acoplada ao tractor agrícola e cada vez mais está a ser utilizada pelos produtores de castanha, uma vez que a sua rentabilidade compensa.
Segundo Lino Sampaio, três pessoas são o número ideal para operar com a máquina, “duas fazem a apanha e a outra opera com o tractor”. Podem ser usados sacos de 30 quilos, que enche em menos de 4 minutos, mas também podem ser usados sacos com maior capacidade. Neste momento, o ferimento da castanha não acontece e assim foi ultrapassado um problema que havia com este tipo de apanha. “Em Trás-os-Montes tem que se apostar neste tipo de equipamento para nos tornarmos mais competitivos em termos de preço”. Lino Sampaio refere que, no futuro, terá de se “reduzir os preços para podermos competir com vários mercados”.
A empresa “Prazeres de Outono” tem apostado nos mercados externos, designadamente para a indústria alimentar de países como a França e o Brasil, além do todo o mercado nacional.
A mecanização da colheita da castanha pode ser mais um passo importante na dinamização e valorização da “fileira”, já que existem programas específicos de apoio para a produção deste fruto.
Recentemente no certame “Rural Castanea”, de Vinhais, foi anunciado um investimento de oitenta milhões de euros para a “fileira” da castanha e do castanheiro, previsto no projecto “RefCast”, financiado pelo PRODER, da responsabilidade da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e que conta com a participação da Câmara Municipal de Vinhais e da Associação Arbórea.
O projecto “RefCast”, já conhecido na zona da DOP Marvão, no distrito de Portalegre, conta já com mais de 20 parceiros de todas as regiões demarcadas de produção de castanha, desde o Norte até ao Alto Alentejo. O projecto prevê a plantação de cerca de 11 mil hectares de souto e prazos de recuperação do investimento mais curtos, logo a partir do sexto ano. Os promotores têm a expectativa de criar mais 1700 postos de trabalho directos.
Este investimento prevê a duplicação da castanha na zona da Terra Fria, que, neste momento, ronda as 20 mil toneladas. Neste âmbito são contempladas candidaturas a projecto, as novas plantações, replantações, unidades familiares de transformação, e parede vegetativa (vertente experimental). Prevê-se que estas iniciativas sejam apoiadas entre 40 a 50 por cento, através do PRODER, com excepção da parede vegetativa, que poderá chegar aos 75 por cento.
O Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares, OMAIAA, estima que Portugal tem “hoje uma área ocupada com castanheiros de cerca de 30 097 hectares. As áreas de mercado mais representativas e de maior produção indicam, Bragança, Chaves, Guarda e Portalegre, como sendo as localidades onde se produz as variedades Cota, Longal, Judia, Matainha, Rebordã, Bária e Colarinha.
De referir que, a nível nacional existem quatro “Denominações de Origem Protegida” (DOP) para a castanha: Terra Fria, Soutos da Lapa, Padrela e de Marvão. Portugal contribui com cerca de 3 por cento para a produção mundial de castanha.