O Festival Literário de Bragança levou o escritor Moncho Rodriguez à aldeia de Rebordãos, promovendo a leitura em ambiente rural e o convívio intergeracional, contando com a participação de todas as crianças dos centros escolares e jardins de infância das aldeias do concelho do nordeste transmontano, bem como idosos do centro social e paroquial da freguesia que acolheu o evento.
Em palco, Elsa Pinho deu corpo a Beatriz, a protagonista de “Beatriz e o Peixe Palhaço”, da autoria do escritor espanhol que, como explicou, levou consigo uma mensagem de preservação do convívio, da família, das conversas, com menos tecnologia e mais um regresso à humanidade, à poética da vida. “A minha mensagem tem que ver com a necessidade de mergulharmos no imaginário e fazer com que as crianças mergulhem nos seus imaginários, brinquem, sejam livres, e Beatriz pode ser uma lição de poesia em liberdade”, acrescentou Moncho Rodriguez, afirmando que Bragança, terra dos esquecidos, cada dia mais desertificada, é plena de imaginário, sendo preciso que “as crianças saibam o valor da sua terra, das suas histórias e que as possam manter”.
Para o escritor, atualmente “há uma tendência de responsabilizar as crianças muito cedo por uma realidade que não é delas. Queremos olhar para os nossos filhos como se fossem pequenos adultos, cheios de perspetivas para o futuro, e esquecemos uma coisa fundamental, a felicidade”.
Crítico da dependência tecnológica que se vive hoje em dia, Moncho Rodriguez recordou a personagem da avó de Beatriz que, como referiu, “em determinado momento diz ao avô: não quero mais palavras, quero ouvir o teu silêncio, quero os teus olhos”. “O poder de nos olharmos de verdade, o estar com os filhos realmente, e podermos contar histórias era maravilhoso que acontecesse”, sublinhou, adiantando que acredita ainda ser possível, sendo imprescindível que “passemos a febre da solidão da tecnologia e tentemos conviver com o humano, com a poética da vida, com a nossa felicidade”.
“Beatriz e o Peixe Palhaço” foi editado em versão bilingue, português e espanhol, opção justificada por Moncho Rodriguez pela pertinência de que se pratique mais o bilinguismo na Península Ibérica. “Não é que estejamos isolados, é que somos isolados verdadeiramente e então vamos assumi-lo e entendermo-nos”, concluiu.
No final do encontro, os alunos presentearam o escritor com música, sessões de poesia e outras atividades com a sua obra como mote.