Discorro naturalmente sobre Nuno Álvares Pereira. Ainda que a canonização levada a cabo no último Domingo possa ter sido o mote, não foi certamente a única razão das minhas palavras. Inegável satisfação tomou conta do povo Português ao recordar o Santo Condestável, relembrando nas palavras de Camões o “forte Dom Nuno”, que motivou a luta pela independência. A famosa táctica do quadrado ou a lendária padeira de Aljubarrota, ajudam a retocar a história envolta de Nuno Alvares Pereira, revestida de grande simbolismo por ter sido o ponto final no “período de interregno” e na crise de 1383-85, tendo expulsado os Castelhanos de Portugal. O processo de canonização concretizou-se em 26 de Abril de 2009 pelas mãos de Bento XVI, dando continuidade ao processo de beatificação então começado no final da I Grande Guerra em 1918 com Bento XV.
No entanto e salvaguardando com todo superior respeito os feitos históricos conseguidos por Nuno Álvares Pereira, prefiro ressaltar o exemplo de vida. Neste momento de rejubilo, mais do que o soldado, do que o estratega de guerra, sobrevém a humildade imensa de um homem que se desprendeu das banalidades terrenas. Na verdade, à luz dos valores imperantes nos dias de hoje, custa a configurar como se abandonam as condecorações terrenas, os títulos, as propriedades, distribuindo todos os bens pelos pobres e necessitados, optando por ser
um humilde monge. Mais do que pensarmos se algum de nós seria capaz de tal postura, impõe-se perceber porquê deixar os palácios, para se entregar à espartana humildade de um convento e ao altruísmo da entrega ao próximo.
Com estes exemplos mais fácil se torna perceber as palavras de Bento XVI quando afirma: “é possível construir uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando o desequilíbrio económico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta”; “(…) fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus”.
Termino com a vénia devida, transcrevendo parte das palavras que estavam marcadas no seu túmulo. “Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável (…) As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge.” Trocar o fausto dos palcos principescos pelo poder imenso de entrega ao próximo. Vale a pena pensar nisto!