Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024
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“O mais importante é não entrar em pânico”

João Diogo Matos tem 28 anos e vive em Pequim há dois. Bruno dos Anjos vive em Shanghai há um ano e meio e é treinador de futebol. Dois jovens transmontanos que residem no país onde surgiram os primeiros casos de coronavírus, explicaram à VTM como têm vivido os últimos tempos, longe da família e fechados em casa.

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Desde o seu aparecimento que o coronavírus tem colocado o mundo em alerta. Atualmente, são mais de 150 mil as pessoas infetadas e o vírus já chegou a Portugal.

A Organização Mundial de Saúde emitiu o primeiro alerta para a doença a 31 de dezembro de 2019, depois de as autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan, metrópole chinesa com 11 milhões de habitantes, sétima maior cidade da China.

E é precisamente do país do sol nascente que nos chega o relato de João Diogo Matos. Mirandelense de gema, João vive em Pequim há dois anos, onde é comissário de bordo numa companhia chinesa. À VTM contou que “neste momento, a situação está melhor, devido às medidas que o Governo tem tomado, mas no início foi complicado porque não sabíamos como devíamos agir”.

Segundo este transmontano, as medidas implementadas pelo Governo chinês permitiram controlar a situação e conta que “cada pessoa tem um cartão com os seus dados pessoais, que tem de apresentar sempre que vai a um supermercado ou outro sítio qualquer. Se por acaso surgir uma pessoa infetada é possível saber em que locais é que essa pessoa esteve. Depois, as pessoas que frequentaram o mesmo espaço são contactadas para ficarem de quarentena”.

RUAS E RESTAURANTES VAZIOS

Na cidade de Pequim vivem cerca de 21 milhões de pessoas, “há sempre muito barulho, muitas pessoas, muito movimento e de uma hora para a outra ficou tudo deserto. É tudo muito estranho”, explicou João Diogo.

O vírus surgiu na altura do ano novo chinês, “uma época em que, por norma, os comércios fecham para se passar tempo em família”. Acontece que, desde então, esteve tudo fechado e “só agora começa a voltar à normalidade”.

“Não desejo a ninguém ter de ficar isolado em casa, principalmente num país como a China, onde não há o hábito de se cozinhar em casa. Na minha rua existem muitos restaurantes e fechou tudo”, contou João Diogo, acrescentando que “eu tive de me desenrascar e cozinhar”.

Nos aeroportos, um local muito frequentado por João Diogo, tendo em conta a sua profissão, “tens câmaras por todos os lados, parece quase um hospital, com cortinas e tudo para se isolarem as pessoas. Em qualquer sítio te medem a temperatura”.

“NÃO ENTREM EM PÂNICO”

Longe do seu país, João Diogo confessa que “a minha família, no início, estava bastante preocupada, até porque não se sabia de que forma o vírus se propagava. Depois começaram a ver as companhias aéreas suspenderem voos de e para a China e, estando eu longe e sozinho, é natural que a preocupação aumentasse”.

Agora, numa altura em que o país regressa aos poucos à normalidade, este jovem transmontano diz ter crescido com toda a experiência. “O país estava calejado de uma outra epidemia e o Governo foi muito rápido a agir. Estou numa situação que me permite ver a forma como o país se organiza”, explica, acrescentando que “não se pode apontar nada ao Governo. Qualquer pessoa que entre na China fica de quarentena e as pessoas têm hotel e comida paga”.

Os últimos tempos foram passados em casa, a trocar mensagens com outros portugueses residentes na China. “Temos um grupo na internet onde vamos partilhando fotografias, vídeos e onde falamos da nossa experiência, o que é bom porque nunca me senti sozinho. É bom para desabafar e perceber aquilo pelo que as outras pessoas estão a passar.” João Diogo garante que “tivemos, desde o início, o apoio da embaixada portuguesa e, para mim, o mais importante é manter o pensamento positivo”.

Entretanto, o Covid-19 já chegou a muitos países, afetando o dia-a-dia das pessoas. Em Portugal são mais de 400 os casos positivos e muitos eventos estão a ser cancelados, por precaução. 

“Lavem as mãos regularmente, usem máscaras em sítios fechados e evitem deslocações a locais com um elevado aglomerado de pessoas como shoppings, supermercados e eventos”, aconselha João Diogo dizendo que “o mais importante é não ter medo nem entrar em pânico. Protejam-se porque, de resto, não podemos fazer muito mais”.

“UM PAÍS MUITO DIFERENTE”

Bruno dos Anjos, natural de Vila Real, é outro dos portugueses a residir na China. Está em Shanghai há um ano e meio, onde é treinador de futebol. Na altura em que o vírus começou a dar os primeiros sinais, Bruno estava de férias.

“No início existiam apenas rumores, nada confirmado. Entretanto, a situação mudou de figura e a cada dia surgiam novos dados, cada vez mais assustadores”, confessou o vila-realense, salientando que “no dia em que regressei à China, no dia 6 de fevereiro, estava tudo diferente, a começar no aeroporto, onde é tudo supercontrolado com medição de temperatura e inquéritos”.

Desde que chegou a Shangai, Bruno tem passado grande parte do tempo em casa e explica que “em todos os condomínios existem medidas de contenção, com os habituais registos de temperatura, registos de entrada e saída, proibição de entregas em casa”.

A vida vai voltando, aos poucos, à normalidade, mas “as medidas de prevenção e controlo são respeitadas à risca por todos os cidadãos”. Neste momento, “Shanghai tem cerca de 30 infetados, o que numa cidade de 25 milhões de habitantes é animador”, esclarece Bruno dos Anjos, acrescentando que “os espaços públicos estão a ser restabelecidos de forma lenta, gradual e controlada”.

A família do Bruno tem estado sempre a acompanhar a situação “preocupada com o meu bem-estar e sempre pronta a ajudar”. Este vila-realense diz que “o facto de os ir informando sobre o que se vai passando foi fundamental para os manter calmos”.

“MANTENHAM A CALMA”

Desde que o Covid-19 chegou a Portugal, e com o número de infetados a crescer de dia para dia, que se tem vindo a assistir a uma correria aos supermercados e nem toda a gente cumpre os conselhos para que se evitem saídas desnecessárias. 

Bruno, que vive num país a recuperar do surto de coronavírus, pede “calma” aos portugueses. “A histeria e o caos são causados pelo medo e pela desinformação, por isso, mantenham a calma e informem-se corretamente. Mantenham-se protegidos e não adotem comportamentos de risco desnecessários. As boas ações de cada um terão não só um efeito individual, mas também multiplicativo e exponencial para todos. É preciso trabalhar em equipa para podermos derrotar este adversário”.

“Aproveitem este tempo de quarentena para se manterem saudáveis, física e mentalmente, e explorem novos mundos e conhecimentos, explorem o vosso interior e invistam no vosso crescimento. Aproveitem a situação para sair dela mais fortes e numa melhor versão de vocês mesmos”, conclui este jovem transmontano.

 João Diogo Matos

 Profissão: Comissário de Bordo

 Idade: 28 anos

 Naturalidade: Mirandela

 Vive em Pequim

 Bruno dos Anjos

 Profissão: Treinador de Futebol

 Idade: 26 anos

 Naturalidade: Vila Real

 Vive em Shanghai

 

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