É a primeira visita que nos faz como supremo Pastor da Igreja, e será a 5ª visita dos Romanos Pontífices a Portugal: Paulo VI (em 1967), João Paulo II (três vezes) e Bento XVI. Já em 1996 esteve em Fátima como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé para presidir à peregrinação do dia treze de Outubro e mais tarde veio ao Porto fazer uma conferência na Universidade Católica sobre as raízes cristãs da Europa.
Esta visita deve ser preparada exterior e interiormente, e com essa finalidade penso oferecer aos leitores algumas notas sob estas três vertentes: a pessoa de Bento XVI, a sua missão como Sucessor de Pedro e os destinatários da sua visita.
Agora, neste tempo da Quaresma, recomenda-se que nos concentremos na vivência da Páscoa, como diz a Nota do Episcopado Português acerca da preparação da visita do Papa: «Há uma feliz coincidência do tempo que antecede a visita do Santo Padre e a vivência litúrgica da Quaresma e do Tempo Pascal.
Nesse sentido, vem a propósito fixarmo-nos na Mensagem que enviou para a Quaresma e na mais recente sobre o «Dia Mundial da Juventude» cujo dia oficial é o Domingo de Ramos. Cada diocese pode efectuá-la na data julgada mais oportuna. Entre nós, além da jornada paroquial no Dia de Ramos, haverá uma jornada diocesana no dia 10 de Junho.
Neste documento o Papa recorda que o «Dia Mundial da Juventude» foi instituído pelo Papa João Paulo II há 25 anos com uma carta que Bento XVI retoma a sobre o texto: Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?
Afirma nomeadamente que «o cristianismo não é uma moral, mas a experiência de Jesus Cristo que nos ama apaixonadamente, jovens ou velhos, pobres ou ricos, mesmo quando lhe viramos as costas» Mais à frente, diz que «o futuro está nas vossas mãos, porque os dons que o Senhor encerrou no coração de cada um, plasmados pelo encontro com Cristo, podem trazer uma verdadeira esperança ao mundo».
Analisemos a primeira afirmação: «o cristianismo é uma experiência de Jesus Cristo» e «não uma moral».
Esta afirmação retoma um tema muito querido a Bento XVI. Numa conferência proferida em 1990 em Rimini sobre «A constante renovação da Igreja», o então cardeal Ratzinger, disse aos jovens que «a dimensão moral volta a gozar hoje de consideração, porque se torna cada vez mais evidente que o progresso técnico é discutível e até destrutivo se não for acompanhado de um avanço moral». E continua: «Por sua vez, o clamor moral fica sem força se não houver capacidade do perdão e da expiação. Sem um lugar para o perdão e a expiação, o homem desespera perante o sentimento de culpa. Por isso, onde o perdão não é reconhecido, a moral tende a ser ensinada de modo a fazer desaparecer o sentimento de culpa, e acontece então o que dizia Pascal de um modo mordaz: «eis os pais que tiram o pecado do mundo», os moralistas para quem não há culpa.
Não se pode separar o laço existente entre moral, falta, perdão e expiação. Jesus não veio para os que não reconhecem o pecado nem a culpa, mas para os pecadores. Uma comunidade sem pecado, que não precise de médico, não é a igreja de Jesus. Portanto, a Igreja não existe para nos manter ocupados, fazedores de coisas, como uma instituição terrena. Ela existe para ser porta, para ser passagem para a vida eterna».
É indispensável compreender estes textos. Jesus não ensinou uma moral, como fez Moisés, como fez Séneca, como fez Maomé, como fazem os filósofos. A novidade de Jesus Cristo é a criação de uma relação pessoal do homem com Deus, a resposta a um «olhar de Jesus para cada um como se fosse único» que liberta do fracasso e anima a entregar-se na alegria e na generosidade. Dai nasce a intimidade com Ele e, por Ele, a intimidade com o Pai, e, sem essa intimidade, não há verdadeiro cristianismo.
Muitos jovens, mesmo os que fizeram um percurso catequético e que frequentam as aulas de Moral, não têm uma verdadeira experiência da intimidade com Deus. Ficaram-se pela cultura religiosa, um tesouro intelectual. É bom, mas é insuficiente.
4 – A outra afirmação, intimamente relacionada com a anterior, refere-se à preparação do futuro: «o futuro está nas vossas mãos, porque os dons que o Senhor encerrou no coração de cada um, plasmados pelo encontro com Cristo, podem trazer uma verdadeira esperança ao mundo».
O futuro apresenta-se hoje aos jovens cheio de sombras e, para não ficarem bloqueados pelas sombras, os jovens, obedecendo aos mecanismos de defesa, tendem a fugir a esse desfio pela alienação da droga e da ligeireza de comportamento. É uma saída falsa. O Papa ensina que cada um deve assumir esse tesouro, constituído pelas capacidades pessoais, uma das quais é ser novo. Esses talentos devem ser «plasmados pelo encontro com Cristo», isto é, assumidos como um dom e fazê-los desabrochar, em atitude de gratidão e de preparação do futuro. O Papa cita alguns dos desafios actuais a requererem preparação cuidados: «o uso dos recursos da terra e o respeito pela ecologia, a justa divisão dos bens e o controlo dos mecanismos financeiros, a solidariedade com os países pobres, a promoção da dignidade do trabalho humano, o serviço à cultura da vida, o diálogo inter religiosos e o bom uso dos meios de comunicação social».
A resposta a cada um destes desafios não pode ser encarada em perspectiva partidária, ideológica, de classe, pois tais perspectivas podem nada ter de cristãs. Daí o convite do Papa a «plasmá-los em Cristo», numa perspectiva de serviço aos outros. Essa perspectiva inclui a preparação remota de uma profissão digna e a hipótese de se consagrar a Deus no sacerdócio, na vida religiosa, na vida missionária. Deste modo, tornam-se geradores de esperança, o que supõe humildade, estudo e coragem.