Com a Sé totalmente cheia de fiéis, e ainda um grupo de jovens nos últimos degraus do cruzeiro do adro para daí poderem observar o que se passava no presbitério, celebraram-se na tarde do Domingo passado as Ordenações na nossa Diocese. No início da tarde, já a cidade de Vila Real, mormente nas cercanias da Sé, acusava um movimento desusado, com a chegada de carros ligeiros e autocarros de Mondim de Basto a Valpaços e de Montalegre a Vila Pouca de Aguiar, terras da naturalidade dos ordenandos ou das paróquias onde haviam feito o estágio pastoral. Sente-se que num tempo de carência de pastores, os fiéis manifestam abertamente o seu apoio àqueles que entregam a sua vida para servir a Igreja.
Três seminaristas que em Dezembro haviam sido ordenados diáconos receberam agora as ordens sacras de Presbiterado: Hélder Norberto Pires de Magalhães, natural de Viade –Montalegre, Nuno Fernandes Reis, de Lebução – Valpaços, e Pedro Rei Alves, de Beça – Boticas. Na mesma celebração foram instituídos no ministério de Acolitado Jorge Alexandre da Costa Rodrigues, de Telões – Vila Pouca de Águia e Ricardo José Martins Machado, de Mondrões – Vila Real, ambos candidatos ao presbiterado.
Muitos padres das dioceses de Vila Real, do Porto, em cujo Seminário se hospedaram os ordenandos durante os anos de estudos teológicos, e de Bragança onde vivem alguns antigos condiscípulos, concelebraram e impuseram as mãos aos neo-presbíteros como prescreve o rito da Ordenação. Presidiu à celebração, ministrou as Ordens e instituiu no ministério do Acolitado o Bispo da Diocese, D.Joaquim Gonçalves.
Na homilia, cujo texto publicamos à parte, o prelado evocou a hora em que ele próprio há vinte anos entrara na Sé como bispo, sublinhando ser a mesma hora que S. João refere acerca do encontro dele mesmo e de S. André com Jesus nas margens do Jordão: «quando o coração entra, fixam-se para sempre a hora e o lugar», disse num comentário ao texto que utilizava como guião.
Na reflexão pastoral, lembrou que «o sacerdócio, como aliás os outros sacramentos, não são uma conquista do homem, mas um dom de Deus, uma acção do Espírito Santo na pessoa, e é o esquecimento dessa realidade que tem contribuído para a crise do sacerdócio na sociedade e nos próprios padres, fazendo deles homens do consenso do povo, agentes sociais, e citou palavras do então cardeal Ratzinger em abono da sua afirmação. Por isso, referiu, há três pilares que devem sustentar a vida do padre: «o contacto agradecido pela família que, habitualmente, animou a primeira sensibilidade para ser padre, a integração afectiva e efectiva na Ordem dos Presbíteros, e sobretudo a intimidade com Jesus Cristo, a única que permanece quando os outros pilares oscilam. Essa intimidade obedece ao dinamismo de toda a amizade: cresce gradualmente e exige diálogo pessoal».
Na palavra de estima dirigida às famílias ali presentes, referiu que «uma das causas da falta de vocações ao sacerdócio é não haver em muitos casais o desejo de ter filhos padres e, depois, nem falam disso aos filhos nem criam ambiente favorável».
Aos dois Acólitos pediu que começassem já a «aprender a ser padres no trabalho educativo das crianças, dos jovens e dos adultos».
O coro da Sé, reforçado com elementos do grupo coral da paróquia de Telões, Vila Pouca de Aguiar, dirigido pelo P. António Paulo e com o prof. Tadeu ao órgão, sustentou o canto da assembleia e encheu de júbilo o coração dos participantes na celebração pela selecção criteriosa dos textos musicais. Esse sentimento manifestou-se claramente quando o cortejo litúrgico atravessou a nave de regresso à sala do Conservatório de Música donde havia partido e cuja direcção cedera generosamente para sala de paramentação.
Como habitualmente, o Seminário ofereceu a refeição da noite aos novos presbíteros e acólitos, aos seus familiares e aos sacerdotes que puderam ficar depois de um Domingo pastoralmente cansativo.