“A Guarda Nacional Republicana (GNR) de Vila Real pediu-nos 9090 euros para o policiamento da prova, o que nos traz reservas sobre a sua realização”, alertou José Santos, treinador de ciclismo do Boavista e membro da organização da XXIII Volta a Trás-os-Montes Liberty Seguros, marcada para os dias 5 e 6 de Junho.
Se não for possível negociar com a GNR um valor mais acessível, a prova terá que ser adiada e reestruturada nos seus moldes, possivelmente envolvendo a realização de duas voltas num circuito urbano, em Vila Real, e apenas uma escalada.
Segundo José Santos, o valor orçamentado pela GNR equivale a cerca de 50 por cento do orçamento total previsto pela organização para a realização da prova e representa o empenho de 98 guardas do comando de Vila Real, 32 da Régua e cerca de uma dezena da Brigada de Trânsito, ou seja, “quase um homem por cada quilómetro e meio de percurso”. “Um exagero”, considera o mesmo responsável que frisou o esforço da organização para fazer regressar uma prova emblemática no calendário nacional do ciclismo e sobretudo, trazer de volta às populações o único “espectáculo desportivo que lhes passa à porta de casa”.
Apesar de acreditar que será possível chegar “a bom porto” com a GNR e ver reduzido o valor pedido, Delmino Pereira, vice-presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), sublinha que “um encargo desta natureza inviabiliza a prova” e, a acontecer no futuro com outras provas, poderá mesmo “acabar com o ciclismo em dois anos”. “Estou ligado à modalidade há 25 anos e nunca pensei que cobrariam nove mil euros por dois dias de prova”, frisou.
Empenhada em resolver a situação, a Federação já entrou em contacto com o Ministério da Administração Interna, garantiu o seu vice-presidente, lembrando que em países como a Espanha, a Alemanha, o Luxemburgo, a Holanda e tantos outros, este tipo de taxas referentes à segurança são assumidos pelo Governo, e noutros, como na França, são negociáveis, podendo em alguns pontos menos problemáticos dos percursos os guardas serem substituídos por voluntários.
Segundo as contas do ex-ciclista, o orçamento pedido para o policiamento é “mais do dobro” do pago na última edição da prova, em 2008 (em 2009 a prova não se realizou), altura em que a volta representava três dias de prova, contra os dois deste ano, e envolvia 450 quilómetros, mais 235 que o actual percurso.
Apesar de positivo relativamente à realização da prova no primeiro fim-de- -semana de Junho, Delmino Pereira não defende a reestruturação do formato da prova com a criação de um circuito pequeno urbano e apenas uma escalada de montanha, isso porque a prova ficaria assim descaracterizada e poderia perder-se a legitimidade de nomeá-la de Volta a Trás-os-Montes.
Relativamente à justificação da GNR para a ‘inflação’ do preço, não foi possível ao Nosso Jornal entrar em contacto com o comandante distrital, no entanto, como explicou o próprio presidente da FPC tudo tem a ver com maior ou menor flexibilidade sobre o que está previsto na lei no que diz respeito à garantia de pelo menos um agente em cada cruzamento da prova. “Trata-se de um excesso de zelo”, referiu Delmino Pereira.
Além da vontade do Boavista de voltar a ver a prova no terreno novamente, este ano, e segundo a organização, só é possível o regresso da volta graças ao alto patrocínio da Liberty Seguros, empresa cujo empenho financeiro permitiu que muitas provas mais pequenas do calendário nacional se realizassem este ano.
No que diz respeito ao percurso previsto para este ano, a Volta irá desenvolver-se em três etapas, a primeira, no dia cinco, que vai ligar Vila Real a Vila Cova em 138 quilómetros, a segunda, já no dia seis, Santa Marta a Medrões (5,8 quilómetros) e, a última etapa, entre Santa Marta e Vila Real em 70, 6 quilómetros.