Na sequência de um encontro com os seus associados, no rescaldo do grande incêndio que no final de Agosto destruiu uma grande mancha florestal dos concelhos de Ribeira de Pena e Boticas, a Federação das Associações Agro-Florestais Transmontanas (Fagrorural) já fez chegar ao Governo a crítica lançada pelo Conselho Directivo dos Baldios de Covas do Barroso, sobre a inércia dos serviços florestais regionais.
Numa missiva enviada ao Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e Pescas e à Comissão da Assembleia da República responsável pela mesma pasta, a Federação expõe uma das conclusões da reunião com os agricultores mais afectados pelas chamas, que garantem que, nos últimos anos, “a actuação dos Serviços Florestais foi caracterizada no essencial por uma gestão negligente e quiçá danosa no que concerne à problemática de gestão da imensa área baldia submetida ao regime florestal”.
Os compartes de Covas do Barroso “salientaram ainda a inactividade que tem caracterizado a actuação dos serviços no processo de candidatura à constituição de uma equipa de sapadores florestais, paradoxalmente não aprovada, numa mancha florestal outrora de excelência”.
Segundo Armando Carvalho, da direcção da Fagrorural, no dia a seguir ao grande incêndio “era visível a profunda mágoa que estava estampada no rosto de todos os presentes, particularmente daqueles que, num ápice, se viram sem os seus haveres patrimoniais e sem meios financeiros (caso não hajam apoios excepcionais), para repor em actividade os seus principais meios de produção”.
Os produtores florestais pedem que seja feita uma “rápida avaliação global dos prejuízos” registados e exige que sejam tomadas medidas céleres por parte da Autoridade Florestal Nacional “para promover a venda do material lenhoso dos terrenos baldios”.
“Que os serviços regionais da Direcção Regional de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas do Norte, ao invés da sua postura passiva perante este tão grande flagelo que são os incêndios, ponham os pés ao caminho e façam uma avaliação quantitativa dos prejuízos nas explorações agro-pecuárias de todas as regiões afectadas”, pedem os mesmos responsáveis.
Outra das propostas apresentadas para apoiar os mais afectados pelo incêndio deflagrado a 30 de Agosto passa pela isenção temporária das prestações a pagar à Segurança Social, surgindo como exigência a igualdade de tratamento dos agricultores afectados, independentemente da situação geográfica.
“Gostaríamos que lhe fosse dada a atenção e o apoio, sem o qual não é possível continuarem a sua labuta nos lameiros de barroso, outrora terra fértil de batata, centeio e animais autóctones, hoje, espaço abandonado, desertificado, onde medra a urze, a esteva e as espécies florestais que ciclicamente são pasto de grandes incêndios”, defende a Fagrorural, apresentado em anexo ao documento enviado ao Ministério declarações de cinco agricultores afectados, entre os quais Francisco Fernandes da Costa, que teve prejuízos superiores a 66 mil euros, ou de Aida Fernandes que perdeu um património valorizado em 22 mil euros.
Os cinco exemplos apresentados pela Fagrorural ao Governo representam apenas uma pequena fatia das perdas totais registadas em Covas do Barroso. A Câmara Municipal de Boticas revelou mesmo recentemente um “levantamento exaustivo dos prejuízos causados pelo incêndio” apontando para um valor na ordem de um milhão de euros.
“Os resultados apurados apontam para prejuízos na ordem de um milhão de euros, repartindo-se em cerca de 250 mil euros em infra-estruturas e equipamentos agrícolas, e em 750 mil euros em prejuízos causados nas propriedades agrícolas, com destruição praticamente total de colheitas, vinhas e árvores de fruto”, explica a autarquia, revelando que, “até agora”, não teve, por parte do Ministério, qualquer resposta ao relatório enviado no início do mês.
“É necessário que o Governo actue de imediato, porque estamos a falar da sobrevivência de umas dezenas de famílias. Há agricultores que, caso não sejam ajudados, não têm condições para continuar com a sua actividade nem para fazerem face aos avultados prejuízos de que foram vítimas. Numa região carenciada como a nossa, os apoios têm que chegar de imediato, sob pena de enfrentarmos uma situação com graves consequências sociais nas freguesias afectadas”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Campos.