“Desde pequenino que vivi no meio das vinhas, mas não dava a devida importância ao setor”, confessa, revelando que “ajudava no que era preciso e, já na adolescência, percebi que esta era a área que queria seguir”.
Foi então que decidiu ir estudar engenharia agrícola em Portugal. Filho de emigrantes, viajou para França na época das vindimas e uma estadia que seria de apenas três meses acabou por levá-lo a ficar por lá, durante 17 anos (17 vindimas). Acabou por se tornar enólogo ao estudar numa das melhores faculdades de enologia do mundo, o ISVV (Institut des Sciences de la Vigne et du Vin), em Bordéus, e trabalhou em várias quintas conceituadas, como a Domaine de Chevalier.
Há dois anos decidiu voltar para Portugal. Tomou conta das vinhas do avô e criou a empresa “Glad Wine” que faz, entre outros serviços, consultadoria de vinhos, que consiste no acompanhamento “desde a viticultura, passando pelos trabalhos na adega e pelo engarrafamento, análises do vinho em laboratório, bem como na criação de portfólio de vinhos de qualidade”.
“O objetivo é fazer o acompanhamento personalizado dos produtores”, explica Décio, acrescentando que “comecei por acaso e é algo que gosto de fazer, sobretudo com os produtores mais pequenos”. Contudo, “também gosto de trabalhar com quintas conceituadas”.
“Ajudamos os produtores para que possam melhorar a qualidade de vinho e, consequentemente, virem a ter mais vendas”.
Durante a sua formação na universidade de Bordéus, em França, Décio teve “professores muito conceituados no mundo dos vinhos” e trabalhou com vários enólogos “de renome mundial”, motivo pelo qual acredita que “posso dar uma visão diferente ao nível da enologia”.
“No Douro temos um clima e castas que dificilmente se encontram em outras regiões e isso é uma vantagem da qual temos de tirar partido”, garante, salientando que “os viticultores estão a atravessar grandes dificuldades, com custos enormes de produção e poucos lucros. Além disso, há falta de mão de obra e os jovens não querem trabalhar na vinha porque é um trabalho difícil e mal pago”. Pede, por isso, “medidas que permitam aos viticultores terem mais lucros ao final do ano, sobretudo numa das melhores regiões de viticultura a nível mundial. Temos que ter igual ou mais prestígio que outras regiões do mundo muito conceituadas”.
Mas os viticultores e produtores precisam, também, de uma mudança de mentalidades porque “produzimos vinhos de qualidade e, devido aos custos de produção, também por ser uma viticultura de montanha, temos de os vender mais caros. Temos, sem dúvida, potencial para isso”.
“Desde que regressei a Portugal tenho tido uma adaptação importante à região. Tento aprender com os grandes enólogos nacionais, para poder conhecer melhor a região do Douro, e, nesse sentido, agradeço, por exemplo, ao Tiago Alves de Sousa, ao Paulo Amaral e ao Hélder Cunha”.
MARCA DE VINHO
Além de ajudar os produtores a terem melhores vinhos, Décio prepara-se para, ainda este ano, colocar no mercado a sua própria marca de vinho. A empresa ganhou, entretanto, um sócio, que “é meu amigo de infância”, e juntos criaram uma marca cujo nome “está ainda no segredo dos anjos”, mas que “terá impacto no mercado, tanto nacional como internacional”, acredita.
“Vamos engarrafar o vinho branco e tinto em outubro. São cerca de 1.400 garrafas de cada. Não quisemos entrar em loucuras, com grandes quantidades e fazer investimentos difíceis. O objetivo é trabalhar sobretudo na qualidade”, explica Décio.
O vinho em causa “é um vinho de emoção, com grande potencial de envelhecimento, sobretudo o branco, que tem um grande potencial na região do Douro”.
“Quero que as pessoas, ao beberem este vinho, sintam o esforço destes dois jovens para se manterem na região”, vinca Décio, que quer, ainda, “mostrar aos jovens que é possível produzir grandes vinhos de garagem, com poucos custos de produção, mas sobretudo com uma paixão grande por este mundo do vinho”.