Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Reabertura ao culto da Capela do Carmo

A invocação de Senhora do Carmo ou do monte Carmelo evoca, remotamente, o empenho do profeta Elias na defesa da glória de Deus contra a paganização de Israel oficialmente promovida pelo rei Acab e sua mulher Jezabel, o chamado culto de Baal, um culto da fecundidade. E, no contexto cristão, evoca o testemunho público da consagração plena dos homens e mulheres cristãs na vida contemplativa.

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O tempo de Elias tem alguma semelhança com os tempos actuais em que uma cultura naturalista e pagã se difunde pela Europa e pelo mundo com o apoio das estruturas políticas oficiais. Esta situação requer hoje cristãos de grande força interior que sejam testemunhas da prioridade de Deus nas suas vidas.

Deste modo, a invocação da Senhora do Carmo, que a piedade cristã traz unida ao escapulário como escudo na hora da morte, transporta-nos às grandes lutas da vida cristã.

Estas palavras fazem parte da breve homilia que o senhor Bispo fez na passada sexta feira, 16 de Julho, o dia litúrgico da Senhora do Carmo, ao reabrir ao culto aquela capela histórica de Vila Real. Fez uma referência a cada uma das imagens ali expostas ao culto (Senhora do Carmo, S.José, Santa Teresa de Ávila e Senhora das Vitórias), aos dois vitrais e ao altar principal onde está gravada uma alusão ao «fogo» do profeta Elias e que é um elemento da espiritualidade carmelita.

A celebração principiou às nove horas e teve um carácter muito simples para aproveitar a data, tendo participado o Bispo Coadjutor, o pároco de S.Pedro e o Superior da Comunidade franciscana e alguns fiéis. Três religiosas franciscanas do colégio de S.José cantaram dois textos clássicos de S.João da Cruz e de Santa Teresa e as religiosas da casa episcopal fizeram as leituras. Na altura própria fez-se a oração por todos aquelas pessoas cujos corpos se encontram sepultados na capela e no cemitério anexo, e por todos os benfeitores históricos daquela estrutura.

O senhor Bispo informou da publicação de uma brochura que faz a história da capela e que ela estará aberta ao público durante as horas de expediente da Cúria diocesana, ou seja, das 9.30 às 12.30 e das 14.30 às 16.00, de segunda a sexta-feira.

Aos sábados, sempre que possível, um dos Bispos da diocese celebrará às nove horas a Eucaristia para todos os devotos da Senhora do Carmo.

 

Nota histórica

1 – O monte Carmelo é uma cordilheira da Palestina que se estende desde S.João de Acre e que termina num promontório sobre o mar Mediterrâneo. O monte Carmelo é célebre na história bíblica pela cultura do vinho, pela vegetação e pelo profeta Elias.

Na primeira metade do séc. IX antes de Jesus Cristo, o rei Acab e a rainha Jezabel, uma mulher pagã, desenvolveram naquela região da Palestina um culto pagão da fecundidade, o culto de Baal, que ameaçava destruir o Iavismo ou monoteismo hebraico vindo da revelação de Moisés. Foi contra esse culto pagão oficializado que se levantou vigorosamente aquele profeta de Israel. O seu nome e os seus gestos ficaram célebres na história bíblica, dizendo-se mesmo que ele voltaria na altura da chegada do Messias. Jesus comparou S.João Baptista ao profeta Elias, e ele, sim, anunciou efectivamente a chegada do Messias.

2 – No séc. XII da época cristã, vários cristãos começaram a praticar vida eremita no monte Carmelo, imitando num contexto cristão o espírito do profeta Elias, o profeta da prioridade absoluta de Deus. Pelo seu carácter de eremitas, não tinham um superior propriamente dito. No princípio do séc.XIII o patriarca de Jerusalém, Santo Alberto, deu-lhes uma regra escrita e um Superior nascendo assim naquele monte da Palestina a chamada «Ordem de Nossa Senhora do monte Carmelo».

Com a invasão da Palestina pelos muçulmanos, esses religiosos emigraram para Ocidente e espalharam-se por vários países europeus. Hoje coexistem naquele monte da Palestina o culto muçulmano, o culto judaico e sobretudo o culto cristão na igreja de Santo Elias.

3 – A Ordem do Carmo sofreu várias reformas ao longo dos séculos, sendo a maior delas a que realizou Santa Teresa de Ávila e S.João da Cruz em Espanha no séc.XVI, dando origem aos «Carmelitas Descalços» (ou carmelitas da primitiva observância, mais rigorosos), mantendo–se entretanto a chamada «Ordem dos Carmelitas Calçados».

Os primeiros Carmelitas chegaram a Moura, no Alentejo, muito cedo, logo no séc.XIII, e daí foram para Lisboa. No séc. XIV, D.Nuno Álvares Pereira, hoje S.Nuno de Santa Maria, construiu o Convento do Carmo que ofereceu aos Carmelitas e onde ele professou.

Também os Carmelitas Descalços vieram para Portugal logo no séc.XVI. O primeiro mosteiro dos Carmelitas Descalços foi constituído em Lisboa, às Janelas Verdes, e foi dedicado a Santo Alberto.

Foram esses Carmelitas Descalços que promoveram em Vila Real no princípio do séc. XVIII a devoção à Senhora do Carmo, criando aqui uma «Irmandade» e depois a «Ordem Terceira do Carmo». Tentaram construir uma igreja monumental no «monte do Pioledo», dando origem ao que é hoje o quarteirão do «Carmo».

Actualmente não há em Portugal nenhuma Ordem Terceira do Carmo mas somente os «Carmelitas Seculares», movimento de piedade de leigos que procuram viver no mundo o espírito do Carmelo.

No interior da Capela está afixado um texto para ajudar os visitantes.

(Mais elementos históricos na brochura

«A Capela do Carmo de Vila Real», 2010)

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