Domingo, 9 de Novembro de 2025
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“Seja em que parte for, estarei lá”

Os adeptos são a alma de um clube, considerados o 12.º jogador. Entre os apoiantes do Desportivo de Chaves há quem percorra o país para vibrar com equipa e, noutros momentos, sofrer.

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José Pires vai a “quase todos” os jogos, tanto na I como na II Liga. “Seja em que parte for, estarei lá”. Como mora na Maia, para ele todas as partidas são “fora”, mas a distância é só um pequeno incómodo e não o impede de estar na bancada jornada após jornada. Ir às ilhas é o mais difícil, mas, além disso, só falta por motivos de força maior.

Mesmo tendo de manter a porta aberta de um negócio, José diz que fecha o café para acompanhar o Chaves. “Mesmo sendo à semana, não me preocupo com isso, até porque eu fecho o estabelecimento para ir ver o jogo, faço isso com maior das facilidades. As pessoas sabem e já faço isso há muito tempo”, conta.

 “Temos que torcer pelo clube
da terra”
 José Pires

É sócio dos Valentes Transmontanos há 38 anos, desde os 17. O gosto foi-lhe incutido desde cedo pelo avô, que apoiava o Chaves, e foi cresceu na juventude. Natural de uma aldeia de Valpaços, vinha com um grupo numa carrinha de caixa aberta assistir às partidas no estádio e o bichinho ficou. “Estamos a falar nas melhores eras do Chaves, quando chegámos a ir à Europa”, recorda.

Ainda que fosse comum ser do Chaves e ter, ao mesmo tempo, simpatia por outra equipa, José decidiu então que teria apenas um clube. “Nós somos daqui, eu não sou, mas é como se fosse, acho que temos que torcer pelo clube da terra”, frisa. Por brincadeira costuma dizer “não sou de Chaves, sou do Chaves”.

Mesmo quando está em fases piores, como com a descida à II Liga, continua a apoiar o clube. “Tem de ser, não sei virar as costas ao clube”, afirma com alguma emoção. E acredita que para o clube crescer “devíamos fazer todos isso, mas infelizmente nem sempre é assim”. E faz um paralelismo com a família que “se estiver a passar dificuldades não lhe podemos virar as costas”, considerando que a família azul-grená deveria seguir essa máxima. O Desportivo já lhe deu “mais alegrias do que tristezas”. “Eu vivo de maneira diferente. Se temos alguns jogos maus, e depois há uma vitória, eu esqueço rápido as derrotas. Vencer dá-me um prazer enorme. Vivo mais numa vitória do que sofro em três ou quatro derrotas”.

“Podendo apoiar, acho que temos que apoiar”, lamentando que no estádio haja apenas cerca de 2000 espectadores nesta fase. “Isso é mau”, considera.

Vê no futebol um escape. “Trabalho a semana toda, e à quarta, quinta-feira já estou a planear onde vou no fim de semana”. “Isto, não é uma família, mas é. E depois os amigos que ganhamos”. Com eles, já criou várias páginas nas redes sociais dedicadas ao Chaves e integrou claques, que, entretanto, deixaram de existir.

A admiração pelo clube flaviense é uma coisa de família e vai abrangendo novas gerações. “O que eu sofro aqui já vem de família. Passaram para mim, eu passei para a minha filha, e vem crescendo”, diz. A filha, agora com 18 anos, é sócia desde os primeiros meses de vida e é frequente acompanhar o pai nos jogos e nos festejos. “Sempre que pode, ela quer vir. Também já é viciada”, afirma. “Quando subimos, há dois anos, vi o jogo em Moreira de Cónegos e, no final, a minha filha, que tinha aulas cedo no dia a seguir, disse-me para virmos para Chaves festejar com a equipa. Foi ela que me convenceu dessa vez”.

UMA HERANÇA

“Não somos do Chaves por ganhar muitas vezes, mas por causa de toda a ligação que temos”
Bruna Carvalho

Também no caso de Bruna Carvalho, a ligação ao clube vem de família. O avô, João ‘Careca’, foi jogador na primeira equipa do Chaves, e a mãe “é doente” pelo clube. Tal como o irmão da jovem, é sócia há muitos anos, até pela ligação e a maneira como a família vibra com o clube. O avô contava muitas histórias do seu tempo de jogador e do anterior clube, o Flávia SC, que juntamente com o Atlético Flaviense deram origem ao GD de Chaves. Na casa da família é guardada ainda hoje uma relíquia dessa altura: uma camisola da época inaugural, que é um exemplar único.

Agora, com 25 anos, Bruna regressou a Chaves depois dos estudos e faz questão de acompanhar a época na bancada. “Quando é em casa, tento vir a todos os jogos, aqueles que posso, que agora são mais”, mas “mesmo quando estava a estudar fora, eu tentava sempre vir”.

Conta que no jogo da época passada em que a equipa desceu, “não pude estar aqui porque estava a estudar, mas estive sempre a ligar à minha mãe e ao meu irmão, a ver na televisão e a chorar lá do outro lado”.

A ida ao futebol é feita, por norma, em família e uma autêntica tradição. “Aquilo que me liga a mim, ao meu irmão e à minha mãe ao Chaves é muito mais do que as alegrias que nos dá, é a herança que nós temos”, afirma, reconhecendo que os clubes pequenos “nunca dão tantas alegrias” como os grandes. “Por isso, nós não somos dos Chaves porque nos dá muitas alegrias ou porque ganha muitas vezes, mas por causa de toda a ligação que temos na nossa família”, reforça.

Mesmo em fases menos boas faz questão de apoiar sempre o emblema flaviense. Entende que haja desmotivação, mas o amor e ligação ao clube falam sempre mais alto

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