A queda de uma automotora, na via-férrea do Tua, ocorrida por volta das 18.45 horas de segunda-feira, provocou um morto (o revisor), o desaparecimento de duas pessoas (o condutor e o bilheteiro da estação do Tua) e, ainda, dois feridos ligeiros.
O comboio regional n.º 6205 cumpria a ligação Tua-Mirandela, quando, perto do apeadeiro de Castanheiro, na zona das Fragas Más, a cerca de dez quilómetros da estação do Tua, provavelmente foi atingido pelo deslizamento de alguns rochedos, oriundos das trincheiras da linha, fazendo com que a automotora fosse empurrada da via-férrea, precipitando-se por uma ravina com cerca de sessenta metros de altura e só parando nas águas revoltas do rio Tua. No trajecto descontrolado, os dois únicos passageiros, Orlando Barbosa, de 23 anos, do Pinhão, e Sara Raquel, de Ervedosa do Douro (S. João da Pesqueira), foram “cuspidos” pela locomotiva. E foi esta última que ainda teve forças para ligar do seu telemóvel para o pai e, depois, para o 112, pedindo socorro e alertando para o acidente ocorrido. A escuridão e a falta de acessos ao local complicou as tarefas de ajuda emergente. Só uma dresine, utilizada nos trabalhos de conservação e reparação do troço da via, era o único meio de transporte.
Muitos meios foram mobilizados, para o local. Dois helicópteros, dezenas de bombeiros de várias corporações da região, cinco mergulhadores, brigadas cinotécnicas da GNR, elementos do INEM, Protecção Civil, ao mesmo tempo que foi montado, na estação do Tua, um hospital de campanha do INEM. Os primeiros socorros, quando chegaram ao local do acidente, depararam-se com um cenário terrível. Linha levantada, terra deslocada e, no fundo do precipício, a LRV, a automotora tombada, lateralmente, e submersa pelas águas do Tua. De imediato, foram desencadeadas várias operações de busca e socorro.
Os primeiros a ser resgatados foram os dois feridos ligeiros. A Sara Raquel e o Orlando Barbosa, estudante no Pinhão, ambos com ferimentos e fracturas várias. Os dois, depois de serem assistidos, seguiram para o Centro Hospitalar Vila Real/Régua. O fecho das eclusas de Mirandela fez com que o Tua baixasse de nível e possibilitasse aos bombeiros a visibilidade da locomotiva. E, a meio da manhã de terça-feira, foi encontrado, preso nos ferros da automotora, o corpo do revisor (ver peça em baixo). A vítima, José Magalhães Pina Fonseca, morava em Cambres (Lamego). As buscas continuam, na mira de encontrar os dois desaparecidos. As margens do Tua, até à foz, e, no Douro, até ao Pinhão, andam a ser batidas. Primeiro, pensava-se que ambos poderiam estar na locomotiva, mas tal não sucedeu. Tudo aponta para que a forte corrente tivesse levado os corpos, para bem longe.
“É tudo uma questão de tempo, mas eles aparecem” – disse-nos António Sordo, velho pescador do Douro e residente no Tua.
A Rede Ferroviária Nacional, REFER, em comunicado, aponta “um desabamento de pedras”, como causa do descarrilamento, garantindo que a via-férrea é alvo, periodicamente, de trabalhos de monitorização e trabalhos de conservação.
A automotora servia o Metro de Mirandela. O seu Presidente do Conselho de Administração, adiantou que foram gastos cerca de um milhão de euros na instalação de passagens de nível automatizadas. Também José Silvano, Presidente da Câmara Municipal de Mirandela, referiu, publicamente, que “cerca de dois milhões de euros foram investidos, na reparação da via-férrea do Tua”.
Para já, a circulação ferroviária está suspensa, nesta via. A sua reabertura ainda não tem data.
O Governador Civil de Bragança, Jorge Gomes, defende que a mesma só abra depois de uma vistoria de segurança, em todo o troço.
Também o Partido Ecologista “Os Verdes” considera que “é preciso manter a via-férrea do Tua aberta”, propondo mais investimentos, na mesma, para aumentar a sua segurança.
De referir, ainda, que, no local onde se deu este desmoronamento, nos anos quarenta, uma queda de pedregulhos destruiu, completamente, um viaduto e que bem perto do lugar do acidente vai desaguar um ribeiro que nasce na zona do Castanheiro do Norte e cuja designação é Barrabás.
José Manuel Cardoso