Algumas aldeias da freguesia de Adoufe andam em sobressalto. Uma vaga de assaltos, perpetrada, ao que se supõe, por um indivíduo de Paredes, está a tirar o sono às suas populações. Todos sabem quem é. A GNR inclusive. Mas, apesar do esforço das autoridades, o “Maurício” (assim é conhecido) continua, alegadamente, “a fazer das suas”. O povo de Paredes já guarda as suas casas, à noite. E a constituição de “grupos de vigilância” está em vias de facto.
A Junta de Freguesia de Adoufe pondera reunir com o Comando Distrital da GNR de Vila Real, se a situação não se alterar. Em Paredes, garantem que noventa por cento das habitações já foram “visitadas” pelo “Maurício, namorada e amigos”. No rol dos assaltos, entra, também, a “Carla”, a suposta namorada do “Maurício”, uma mulher na casa dos trinta anos e residente em Tinhela de Cima (Vila Pouca de Aguiar).
O Nosso Jornal foi até à “terra dos assaltos”, uma aldeia no sopé da serra do Alvão, com muitos idosos e alguns emigrantes, onde se nota, entre a população, um clima de medo e preocupação.
“Já se fala em formar equipas populares de vigilância”
Formosindo Escaleira foi uma das vítimas dos assaltos e confirmou receios.
“Eu estou preocupado. Ele já me levou vinte e cinco euros, do interior da própria casa. Tinha a porta aberta, na altura, foi o erro. Tem havido muitos assaltos, na aldeia, e já poucas casas falta para serem roubadas. Isto já se arrasta desde há um ano para cá. Estamos todos receosos e já se fala, por aí, em algumas pessoas formarem vigilância, à noite, com turnos. Eles arrombam as fechaduras, entram pelo telhado, por todo o lado. Se a GNR os encontrasse em flagrante, era uma coisa: não escapavam. Agora, assim, como os agentes de autoridade não os encontram em flagrante, pela lei não é possível”.
Formosindo Escaleira disse, ainda, que “a aldeia tem muitos idosos, cerca de sessenta pessoas”. E conhece a família do assaltante: “Ele tem família cá. O pai dele vive em Paredes”. A dona de um café da aldeia também está revoltada, com a situação que se vive ali: “Porque não os prendem? Roubam tudo. Todos os dias as casas são assaltadas. Os carros não podem ficar abertos. Mudámos as fechaduras e, mesmo assim, conseguem os seus intentos” – disse. Segundo a mesma habitante, o clima de medo impera.
“Muitas pessoas que vivem sozinhas assustam-se e não os denunciam, porque pensam que eles se vingam. Isto acontece todos os dias. Ninguém os apanha”.
“O povo anda com vontade de lhes dar uma tareia”
No horizonte, a vingança começa a ganhar contornos.
“Qualquer dia, alguém do povo perde a cabeça e faz justiça, pelas próprias mãos. É que as pessoas não estão sempre, de dia e noite, a guardar as casas. Ele começou a assaltar desde Agosto, com outra mulher. E até nas horas das missas, fazem assaltos. O povo anda com vontade de lhes dar uma tareia. Qualquer dia, acontece uma desgraça. Andamos sempre em sobressalto, agora não podemos deixar as casas sozinhas, sobretudo de noite, porque andam a levar-nos aquilo que ganhamos. Até cartuchos desapareceram, da casa do meu sogro” – acrescentou.
Segundo esta habitante, “ele não anda sozinho, há mais homens com ele. Só que aparecem sempre encapuçados, parecem drogados e até metem medo ao povo, usam luvas e óculos escuros”.
“Pais têm que levar os filhos à escola, porque as crianças têm medo”
Entretanto, há outro problema que preocupa a população: “As crianças das escolas começam a ter medo deles e já têm de ir os pais com eles, para a escola, a pé. Eles não querem andar sozinhos”.
Confrontado com esta situação, o Presidente da Junta de Freguesia de Adoufe, Carlindo Pitrez, mostrou apreensão.
”É claro que, como autarca, preocupa-me a segurança das pessoas, principalmente quando estão em causa os habitantes da minha freguesia. Estou a par daquilo que tem acontecido, nomeadamente a ocorrência de assaltos e roubos. Os autores estão já identificados, só que a Junta de Freguesia não tem poderes nem autoridade para prender os indivíduos em causa. Toda a gente sabe, em Paredes, quem é o assaltante. As pessoas têm-nos transmitido alguns dos furtos acontecidos, pelo que estou posto ao corrente, bem como as autoridades competentes”.
A disponibilidade da Junta é uma realidade: “Se a autoridade vier ter connosco, para os ajudar, com certeza que estaremos nessa disposição. Só que, até à data, ainda não vieram ter connosco e também nem precisarão, porque as pessoas nas aldeias indicam-lhes melhor o caminho”.
“Alguma coisa terá que se fazer. Isto não pode continuar assim”
Carlindo Pitrez tem ouvido a população a queixar-se: “Um dos queixosos desabafou comigo. Que tinha deixado a carteira em cima da cómoda, enquanto foi comprar pão. Passados cinco minutos, de regresso a casa, já não viu a carteira que tinha algum dinheiro e a documentação. Valeu um irmão do suposto autor do roubo, pressionando-o a deixar a carteira dentro da caixa do correio”. Quanto à vigilância nocturna, “acho que isso não está muito correcto. A vigilância não pode ser o povo a fazê-la. Se todos nós pagamos os nossos impostos, acho que outras pessoas têm de zelar pela segurança dos cidadãos. Vigiarmos as casas de noite, mas quando temos de ir trabalhar, durante o dia, não tem lógica. Não podemos estar a fazer de sentinelas”. Segundo o autarca, além de Paredes, também Adoufe, Couto e Escariz são locais onde se registaram, já, diversos assaltos.
“Para o futuro, se as coisas continuarem assim, iremos pedir uma reunião com o Comandante do Destacamento de Vila Real da GNR” – disse Carlindo Pitrez que ressalvou o papel da GNR, no terreno. “Tudo isto não põe em causa o trabalho da GNR. Aliás, tenho visto os jipes a passar, diversas vezes. Só que o ladrão é difícil apanhar, porque é impossível estar um GNR em cada porta. Mas alguma coisa terá de se fazer. Isto não pode copntinuar assim. Exige-se mais um esforço, por parte dos agentes e, dentro daquilo que nos for possível, também ajudaremos, para resolver este problema. Lembro que o suspeito esteve preso, recentemente, mas foi solto logo depois. Nem sei as razões porque foi preso”.
Apurámos que o indivíduo e a presumível companheira são toxicodependentes e, segundo a GNR, os assaltos terão como objectivo a angariação de dinheiro para a compra de estupefacientes. No terreno, a GNR (que, por várias vezes, já interpelou os suspeitos dos assaltos) tenta encontrar uma forma “adequada e de acordo com a Lei” para pôr fim aos furtos, na aldeia de Paredes. E não se tem poupado a esforços, para desenvolver várias acções de investigação.
José Manuel Cardoso