Ironicamente, a celebração dos 46 anos da liberdade de abril comemora-se sob um Estado de Emergência que nos impõe limites, para que possamos lutar outra vez, num novo dia, por um amanhã mais justo e mais igualitário. Celebra-se, também, este 25 de Abril com a felicidade democrática de um parlamento com maior representação partidária, mas, infelizmente, também assim maculado, com a presença de uma força de índole populista e cujo discurso assenta no ódio e na mentira, um partido nos seus ideais defensor de interesses contrários à liberdade e aos direitos de Abril, da democracia e da igualdade, e que sem vergonha se demonstrou contra a celebração desta data, da sua luta e dos valores que representa, querendo mesmo inviabilizar esta justíssima celebração.
Porém, estarmos em casa isolados não nos impede de lutar, pois que é, já em si, uma forma de luta, uma luta contra algo que de tão microscópico considerámos insignificante, mas se vem revelando um tremendo opositor. É agora, em casa, onde muitos não podem partilhar esta luta em isolamento – porque assim o exigem as suas profissões (ou a avareza dos patrões) – é neste tempo de isolamento que vemos expostas a nu, uma vez mais, as graves e desumanas falhas da máquina capitalista e o seu total desrespeito pelas vidas e dignidade dos trabalhadores; que vemos como a saúde para alguns é não mais do que um negócio e o valor de um trabalhador menos do que nada. Esta crise revela, portanto, o papel fundamental do SNS na defesa de um acesso à saúde universal, bem como a necessidade continuada de um maior investimento no mesmo. E é agora, neste tempo de isolamento, que deveremos moldar o nosso amanhã e precaver-nos para uma recessão e crise social que já se sentem e para alguns são já tremendas.
O Bloco de Esquerda está nesta luta, como sempre esteve e estará em todas as lutas, com gente de confiança, com e pelas pessoas de Trás-os-Montes. Sempre do lado certo, lado a lado com quem menos tem e mais precisa, e é por isso que, principalmente nestes tempos de exceção, não baixamos os braços e não arredamos pé do lado de quem conta connosco, com a nossa força e a nossa voz para fazer acontecer. Neste dia de celebrar a liberdade, reafirmamos o nosso compromisso para convosco, como nós destes montes, de nos batermos ao vosso lado umas vezes e por vós noutras vezes. Para que o estigma da crise de 2008, seja apenas uma memória e não uma nova realidade. Para que não faltem os serviços a quem se veja impossibilitado de suportar o seu pagamento; para que não falte a alimentação na mesa de quem tenha fome; para que não falte o teto a quem não pode mais pagar a renda; para que não faltem os apoios ao agricultores, ou a qualquer trabalhador e digno cidadão desta região.
Para que os valores de abril não se esqueçam e se percam em meio desta crise, nem se apaguem em demagogias e mentiras. Pois do grande poder da liberdade, advém a enorme responsabilidade de a estimar e preservar.