Com o país em estado de emergência, cresce uma onda de solidariedade para ajudar, de diversas formas, quem mais precisa. De Macau, a região autónoma da China que também se tem debatido com a pandemia do Covid-19, chegou a ajuda de um grupo de flavienses, preocupados com a resposta que a cidade natal poderá dar quando o vírus “aterrar” em Chaves.
Alarmado com as notícias que iam chegando de Portugal, Mauro Almeida, um dos impulsionadores da iniciativa contactou Nuno Vaz, presidente da Câmara Municipal de Chaves, que o informou sobre a falta de algum material de proteção individual, entre o qual, máscaras. A partir daí, o chefe de cozinha de 32 anos reuniu, através do Whatsapp, os amigos que estão em Macau e decidiu angariar o material solicitado. “Há uns meses, eu e o meu irmão juntámos todos os flavienses e descendentes na pastelaria onde trabalho. Fizemos um grupo no Whatsapp e começámos a interagir mais uns com os outros. Vendo o aumento de casos, todos os dias, em Portugal, e depois de ter falado com o presidente, mandei uma mensagem para o grupo e bem, aquilo foi instantâneo, toda a gente ajudou. Aquele espírito de união flaviense foi fantástico. Foi como se nos conhecesse-mos há mais de 20 anos”.
As máscaras estavam prontas para seguir viagem e Mauro Almeida tentou informar-se sobre “todos os procedimentos” antes de as enviar, tais como o certificado de conformidade CE e o limite máximo do que poderia ser enviado. Contudo, deparou-se com um problema, a alfândega, que, entretanto, foi resolvido. “Até há uns dias quem enviava máscaras de Macau ou eram barradas em Portugal, por não terem certificado de conformidade, ou o estado aplicava uma taxa sobre material médico. Depois da pressão das pessoas aqui de Macau, tanto da imprensa macaense como da portuguesa, o Governo cedeu e pelo menos não pagámos taxa de imposto”, explicou Mauro. E as 2500 máscaras seguiram para Chaves.
Depois disso, Mauro Almeida já criou uma campanha de angariação de fundos para comprar material médico para o Hospital de Chaves.
A EXPERIÊNCIA MACAENSE
A viver em Macau há um ano e meio, Mauro Almeida explicou que desde cedo que a região se apercebeu de que “algo grave estava para surgir”, recordando o que aconteceu há 17 anos com o surto de pneumonia atípica (SARS) que também ceifou muitas vidas. “O governo de Macau foi muito eficaz, tinha tomado posse há poucos dias, mas foi de uma eficácia incrível, muito por causa do vírus SARS que atingiu duramente o território no passado. Mas o mais importante foi a mentalidade das pessoas. O chefe do executivo, Ho Iat Seng, fez um discurso na televisão onde pediu a toda gente para ficar em casa por tempo indeterminado e, por incrível que pareça resultou. Ruas que antes tinham milhares de pessoas de repente passaram a apocalípticas, poucos comércios conseguiram ficar abertos, só supermercados, mercados, alguns restaurantes, farmácias. Parámos completamente, mas aos poucos fomos voltando ao normal. Hoje tudo funciona quase a 100%, mas a economia sofreu alguns danos”, referiu o emigrante que aproveitou para deixar um conselho, não só aos flavienses, mas a todos os portugueses. “É bom que as pessoas percebam que o vírus não tem idade, sexo, condição física, ou estatuto. Fujam dos sítios com bastante gente, não se juntem. Façam quarentena e só saiam para ir ao supermercado, à farmácia ou a uma urgência. Pensem em vocês e nos outros, por vezes nós, latinos, somos desleixados e não gostamos de regras, mas temos que, nestes momentos, olhar por nós e pelos que nos são mais queridos”.■