“O que se precisa na verdade é de menos retórica, mais e melhor trabalho e políticas que se adequem ao nosso mundo rural”, considera o Secretariado de Baldios de Trás-os-Montes e Alto Douro (SBTMAD), entidade que, no dia seis, defendeu a criação de mais equipas de sapadores florestais, bem como o envolvimento das populações no dispositivo de combate.
Armando Carvalho, dirigente do SBTMAD, deixou o alerta sobre uma realidade que este ano tem atingido toda a região de Trás-os-Montes, tendo sido já consumidos, no total dos dois distritos (Vila Real e Bragança), mais de 36 mil hectares.
“Os fatores tradicionais que estão na origem dos incêndios há muito que se encontram identificados, mas não resolvidos”, explicou o responsável.
Entre os principais problemas enumerados pelo Secretariado de Baldios para que os incêndios ganhem maior impacto na região estão “a ausência de campanhas de sensibilização junto das comunidades, a falta de investimento na prevenção em área privada, baldios e pública, o afastamento dos técnicos florestais de áreas de responsabilidade e de comando em muitas instituições, o insuficiente número de equipas de sapadores florestais e o afastamento das populações e outros agentes económicos do mundo rural em todo o dispositivo de combate existente”.
“A situação ótima seria a existência no terreno de 500 equipas de sapadores florestais, mas atualmente só existem 200”, denunciou o dirigente, criticando ainda em especial a inexistência da componente das comunidades locais no dispositivo de combate.
Eduardo Costa Aguiar, presidente do Conselho Diretivo dos Baldios de Campanhó, criticou a forma como é feito o combate às chamas, testemunhando que durante os incêndios que assolaram o concelho, muitas vezes, “os bombeiros tinham ordem para esperar e apenas avançar se as chamas se aproximassem das casas”. “Por muita vontade que tenham de atuar, se não vier a ordem eles não atuam”, testemunhou.
Eduardo Costa Aguiar revelou mesmo que, “se não fossem as populações, em alguns locais tinha ardido muito mais”, por isso é defendida a articulação, refletida no próprio dispositivo nacional, entre os soldados da paz e as comunidades.
O dirigente do SBTMAD criticou a falta de investimento na sensibilização e garantiu que, durante o inverno, as associações poderiam promover campanhas de sensibilização, para as quais seria necessário um investimento muito reduzido.
“O Governo precisa de aquilatar melhor a afetação de meios financeiros entre a prevenção e o combate. A título de exemplo, é justo realçar os dados relativos aos anos de 2007 e 2008 que apresentaram uma taxa de incêndios relativamente reduzida, o que poderá ter ocorrido por várias razões, mas que aconteceu precisamente nos anos em que houve maior envolvimento das associações de produtores florestais e baldios na sensibilização das populações”, recordou.
Segundo o SBTMAD, “só nos dois maiores incêndios que ocorreram no mês de agosto em Mondim, que abrangeram sobretudo a freguesia de Ermelo e Atei, estima-se uma área total ardida de cerca de 3.200 hectares, dos quais pelo menos 2.600 são área florestal baldia, onde o Estado é o cogestor”.
A análise dos prejuízos provocados aponta para valores na ordem dos 11 milhões de euros, “entre valores de substituição da floresta, depreciação de material lenhoso (prejuízo imediato), valores de perda/expectativa não cumprida (prejuízo futuro em 25 anos) e valor de destruição de ativos como a resina”. Junta-se ainda “a componente social” ao colocar-se “em causa um conjunto de empregos rurais diretamente relacionados com a floresta, agravando fortemente a sustentabilidade social destas áreas e agravando a desertificação”.