No domingo passado, alguns párocos dos concelhos de Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio e Régua aludiram, nas suas missas, a grave crise que afecta o sector vitivinícola duriense e que abrange milhares de lavradores. Viram-se algumas lágrimas nos olhos de alguns lavradores, quando o Padre António Luís, na sua homilia, proferida em S. João de Lobrigos, fez alusão aos tempos de crise que afectam o sector vitivinícola do Douro.
Ontem, com missa marcada para as 11.30 horas, o templo religioso encheu-se de fiéis e de viticultores que esperam que a Igreja “deite uma mão, para que a miséria não se instale em muitas familias, no concelho de Santa Marta de Penaguião” – conforme nos disse José Costa, agricultor local.
“Tempos de inquietação e preocupação” assim definiu o padre António Luís, o momento presente. Os preços do vinhos que “enriquecem alguns e não a maioria que trabalha na vinha”, “a divisão das instituições”, “as medidas legislativas, relativas ao plantio da vinha, e que só engordam alguns”, “o turismo que passa e não deixa nada” e “o envelhecimento e o empobrecimento da população” foram os tópicos de uma oratória que apelou “ao consenso, à união das associações do sector, Casa do Douro e Adegas Cooperativas, à sensibilização do poder público”, para que “ os lavradores tenham esperança em dias melhores”.
“Não tenhamos medo, o Douro teve sempre crises e não devemos cruzar os braços. O Senhor não nos vai deixar desamparados. Não o devemos esquecer, nem os poderes instituídos, às muitas das igrejas que existem na região foram construídas nos tempos em que foi criada a Região Demarcada do Douro” – disse, ainda, o padre António Luís.
Entre os presentes na missa estava o Presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, Francisco Ribeiro, também ele apreensivo, quanto ao futuro. O facto do seu concelho ser aquele que, em densidade, por hectare, (a Adega Cooperativa local, em termos de negócios, é a maior da Região Demarcada) é aquele que mais lavradores tem, na Região Demarcada do Douro, preocupa-o.
“Se tudo continuar assim, dentro de 2 ou 3 anos, a ruína atingirá grande parte das famílias do concelho e a desertificação vai instalar-se!”, para acrescentar: “A evolução dos mercados, as novas políticas e algumas gestões pouco conseguidas, nos últimos anos, na Casa do Douro, contribuem para esta crise e para que o viticultor se sinta desprotegido”.
Segundo o Padre António Luís, “os párocos dos concelhos de Mesão Frio, Régua e Santa Marta de Penaguião já estabeleceram contactos, com algumas entidades, prática que vai continuar” – assegurou.
Na Régua, o Padre Luís Marçal salientou, entre outras coisas, que “só uma união, entre a Casa do Douro, Adegas Cooperativas e o poder público podem evitar a crise que afecta os muitos lavradores”.
Em relação à Casa do Douro e às alterações institucionais (redução de poderes e de intervenção, no mercado) que sofreu, Luís Marçal foi incisivo e afirmou que colocaram, sobre a CD, “um autêntico garrote”.
“Nós não estamos a exorbitar, nem a sair do nosso lugar. Estamos no sítio certo. Não podemos deixar de ser sensíveis aos problemas humanos”. Esta foi a reacção a algumas críticas, surgidas sobre a tomada de posição dos párocos dos três concelhos.
“Paz no Douro, aos homens por Deus amado” – disse, ainda, concluindo um discurso todo ele solidário, humano e objectivo, mas, também, interventivo.
jmcardoso