966 homens e mulheres de Trás-os-Montes vão estar em alerta durante a fase de maior risco de incêndio florestal, um número idêntico ao do ano passado e que vem “consolidar” os Dispositivos Especiais de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) dos dois distritos, apresentados oficialmente em duas sessões distintas realizadas na última terça-feira.
Os operacionais serão apoiados por mais de 200 viaturas, fazendo ainda parte dos números um total de oito meios aéreos para a região, dos quais três helicópteros ficarão sedeados em Bragança e outros três em Vila Real, distrito que vai ainda contar com dois hidroaviões médios.
“O grande objetivo é a segurança das forças, não termos vítimas nos combatentes, é para isso que trabalhamos”, sublinhou José Manuel Moura, comandante operacional do Comando de Operações Nacionais de Socorro da Proteção Civil.
Álvaro Ribeiro e João Noel, comandantes operacionais distritais de Operações de Socorro (CODIS) de Vila Real e Bragança, respetivamente, focaram também esse mesmo objetivo. “Os três primeiros objetivos do dispositivo é a permanente segurança das forças”, reforçou à VTM o comandante brigantino, recordando a necessidade de repetir as “zero baixas do ano passado”.
De recordar que em 2013 dois bombeiros de Miranda do Douro, com 44 e 25 anos, perderam a vida e um ficou gravemente ferido quando combatiam um incêndio florestal em Cicouro. Já o ano passado, um outro bombeiro da mesma cooperação ficou ferido com gravidade num incêndio nos Cortiços, concelho de Macedo de Cavaleiros.
Relativamente aos dispositivos preparados para este ano, nos dois distritos os números são idênticos aos do ano passado, sendo de sublinhar que no caso de Vila Real, como explicou Álvaro Ribeiro, havia “perspetivas de aumentar o número de equipas, contudo, a capacidade de instalação dos corpos de bombeiros não permitiu esse aumento”.
Segundo os dispositivos especiais, a fase Bravo de combate a incêndios florestais, a segunda mais crítica, começa já no próximo dia 15 e prolonga-se até ao dia 30 de junho, altura em que entrará em vigor a fase Charlie, a mais preocupante para os agentes de proteção civil.
José Manuel Moura recordou que, além da segurança dos operacionais, outro dos objetivos passa pela redução no número de ignições. “Não há dispositivo que suporte uma média de 500 ignições por dia” como já se registou em períodos críticos em Portugal, um número maior que “o registado em países como Espanha e França, juntos”, sublinhou.
A nível nacional, no ano passado foram contabilizados 10 mil incêndios, sendo que este ano já se atingiu as nove mil ocorrências. No que diz respeito a Trás-os-Montes, os dois distritos viram arder em 2014 (considerado um dos mais positivos dos últimos anos) um total de 2.684 hectares.
Segundo dados da Guarda Nacional Republicana, no distrito de Vila Real verificaram-se 608 ocorrências durante todo o ano passado, número que já foi ultrapassado nestes primeiros meses do ano, com 664 ignições entre janeiro e o dia 4 de maio.
Aposta nas comunicações
Para garantir “planos de comunicações mais assertivos na gestão dos teatros de operações”, as corporações de bombeiros de Trás-os-Montes, à semelhança do que aconteceu a nível nacional, foram recentemente contempladas com centenas de rádios para as suas centrais e viaturas, estando previsto ainda um segundo reforço.
“Vai haver a entrega de mais rádios até ao início da fase mais crítica, no total 1700 para todo o país”, anunciou o comandante nacional, explicando que os equipamentos fazem parte no Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).
Álvaro Ribeiro classificou a atribuição dos rádios como uma das “alterações mais significativas” do “novo” dispositivo, uma mais-valia para o distrito que já tem em funcionamento os 23 novos rádios bases nas sedes das corporações e outros 229 móveis para os veículos. No caso de Bragança, foram recebidos 170 equipamentos.
Equipamentos de proteção individual estão a chegar
Mais de dois anos depois de ter sido encetado o processo de aquisição dos equipamentos de proteção individual para os bombeiros das corporações da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Douro, o material poderá chegar aos soldados da paz antes do início da fase Charlie, que começa a 1 de julho.
De recordar que o concurso para aquisição do material, como por exemplo botas, calças e cogulas, entre outros, foi lançado pela CIM através de uma candidatura a fundos europeus no valor de 280 mil euros.
“A CIM Douro é uma entidade própria que está a fazer esforços nesse sentido”, explicou o CODIS vila-realense, sublinhando, no entanto, que também a Autoridade Nacional de Proteção Civil tem em andamento um concurso para a aquisição de material de proteção individual. “O processo burocrático ainda não chegou ao fim, mas os fornecedores têm material em armazém, pronto para entrega, ou seja, não precisam esgotar o tempo previsto no concurso, o que nos dá uma perspetiva agradável sobre a data da distribuição desse equipamento”, adiantou.
Cruz Vermelha aguiarense prepara plano de emergência pioneiro no distrito
Vila Pouca de Aguiar foi o concelho escolhido como anfitrião à apresentação do DECIF do distrito de Vila Real, uma cerimónia que ficou ainda marcada pela divulgação de um projeto que está a ser desenvolvido pelo núcleo local da Cruz Vermelha e que poderá “servir de exemplo” a outros municípios.
Aquela organização, em parceria com a proteção Civil Municipal, está a desenvolver um plano de apoio às populações em caso de necessidade de evacuar aldeias na sequência de incêndios florestais.
O projeto passa pela aquisição de colchões insufláveis e cobertores e pela organização de kits com alimentos que possam satisfazer as necessidades nos primeiros momentos da situação de emergência, estando ainda a ser estruturado todo o processo de apoio, desde o transporte das pessoas (a assegurar pela autarquia) até aos espaços onde poderão ser temporariamente instaladas.
Um em cada quatro incêndios florestais ocorre em áreas já ardidas
“Planeamento e ordenamento do território e instalação de florestas mistas” são as soluções defendidas pelo Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro no âmbito de um estudo que indica que “um em cada quatro incêndios florestais” ocorre em áreas que antes já foram consumidas pelas chamas.
Realizado no âmbito da orientação de uma tese de doutoramento, a investigação constata que um quarto dos incêndios registados a norte do rio Douro incide em territórios que nos dez anos anteriores já tinham sido queimados. “Este estudo prova que são incêndios recorrentes e que os povoamentos monocultura, que são os mais comuns em Portugal, são mais propensos quer aos fogos, porque têm continuidade espacial do combustível, quer ao ataque de pragas florestais”, defende José Aranha, investigador do CITAB e docente da UTAD.
A solução, explica o mesmo responsável, passa pela aposta nas “florestas mistas” em detrimento da mono cultura, ou seja, “nas florestas de árvores resinosas (como o pinheiro bravo) e de folhosas (carvalhos ou castanheiros)” em vez das áreas unicamente de eucalipto ou de pinheiro bravo, consideradas as principais manchas existentes e “as mais preocupantes”.
Apesar de, segundo o especialista, serem “muito mais dispendiosas e difíceis de manter, pelo tipo de gestão que requerem”, as florestas mistas também trazem benefícios ambientais (“pois a presença de várias espécies de árvores fomenta a biodiversidade, o abrigo e a alimentação das espécies animais”) e mesmo mais-valias do ponto de vista comercial, através da obtenção de “rendimentos financeiros desfasados no tempo (porque as taxas de crescimento e os produtos são diferentes)”.
MM