Fale-nos um pouco do seu percurso pessoal e profissional.
Sou natural de Vila Nova de Foz Côa. Os meus pais são fozcoenses puros. Fiz aqui o meu percurso escolar e depois fui estudar para a Universidade de Braga. Regressei a Vila Nova de Foz Côa após o meu curso. Em 1989, comecei a dar aulas na Escola Secundária e, entretanto, fiz o percurso na direção da escola durante oito anos. Estive sempre conectado à política com a minha ligação a assembleias municipais. Em 2009, aceitei o desafio para ser vice-presidente e estive nesse cargo durante os últimos 12 anos.
O que o fez ingressar na política?
A minha grande paixão é o ensino. A política é uma organização social. Sempre tive uma paixão por conversar com as pessoas e saber quais as suas dificuldades. Optei por ficar cá, onde vivo e construí família, porque percebi que este território poderia ter o meu contributo para ser mais resiliente. A paixão pela política surgiu porque gosto de servir as pessoas. Somos uma população essencialmente envelhecida e pretendo ser proativo nessa questão e na dos jovens. Quero dar o meu contributo e fazer o melhor para que as pessoas se sintam bem e tenham orgulho em pertencer ao concelho.
Quais são, então, os maiores desafios do concelho?
O maior desafio é o mesmo de todos os municípios do interior: a luta contra o despovoamento e o desequilíbrio entre o litoral e o interior. Por mais que se diga que se está a fazer muito pelo interior, eu não acredito. Chegou o momento de dizer basta e deixarmos de ser politicamente corretos. Quem nos governa deve dizer-nos claramente que não existe vontade política para acabar com este desequilíbrio. Vamos aguardar pelo Plano de Recuperação e Resiliência, mas se acontecer como os outros quadros comunitários, continuaremos a ter só um sentido, que é o sentido do litoral.
Um dos motes da sua candidatura foi o rejuvenescimento do concelho. Quais as medidas que pretende implementar para fixar os jovens?
Sempre disse, na campanha, que tinha quatro grandes compromissos. O primeiro é com as pessoas, principalmente com os seniores e os jovens. O importante é saber atrair e dar condições para que eles permaneçam, de forma a ir ao encontro do último compromisso, o de tornar o concelho mais atrativo. Os jovens precisam de sentir que têm as condições necessárias para constituírem família, para se sentirem-se bem e, acima de tudo, permanecerem por cá. Quando olhamos para o preço da água no concelho, é talvez a mais barata do país. Em termos de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), estamos a falar no valor mais barato, por exemplo, nas reduções dependentes do número de filhos. Estamos a criar condições, com taxas, licenças e licenciamentos dos mais baratos do país. A segunda linha é a questão da educação, do desporto e dos equipamentos sociais que temos, onde o acesso é gratuito. Oferecemos alimentação, transportes e material didático a todas as crianças. No fim do mês, isso é muito importante no bolso dos nossos casais jovens. O mais importante é “ensiná-los a pescar”. Como diz o provérbio chinês, não interessa estar a dar peixe, porque o peixe pode esgotar. Interessa é dar-lhes uma cana e ensiná-los a ser pró-ativos. A missão de um presidente da Câmara no interior, em grande parte, deve ser abrir portas. Como diz o nosso primeiro-ministro, eu não estou preocupado com a questão da maçaneta, eu escancaro logo as portas.
Sendo Vila Nova de Foz Côa um concelho com vários polos de atração turística, o que será feito para fomentar o turismo na região?
Acima de tudo, existe uma preocupação com a nossa localização territorial privilegiada, para pertencermos a várias associações, podemos “beber” dos vários quadros comunitários e candidatarmo-nos a vários projetos. A nossa maior porta de entrada é o turismo cultural. Somos o único concelho do país com dois patrimónios, o que nos permite agregar um novo conjunto de sinergias para depois vertermos para esse turismo que tanta falta nos faz. Nesses dois patrimónios temos a parte vitivinícola, no Alto Douro Vinhateiro, em que estamos muito bem e onde temos que saber explorar o território. Paralelamente, temos o enoturismo e o ecoturismo. Temos um outro elã que são as gravuras rupestres, com o Museu do Côa, que tem cada vez mais visitantes. Temos um conjunto de patrimónios que nos dão alguma consistência e alguma vontade de chamar as pessoas para nos visitarem. A porta de saída é através dos nossos recursos endógenos, como a amêndoa, o vinho, o azeite e o xisto. São produtos de excelente qualidade que aumentam as nossas exportações e são muito procurados nacional e internacionalmente.
Considerou recentemente que o Governo está contra a revitalização do troço de linha entre Pocinho e Barca d’Alva. Qual a sua importância para o concelho?
Quando não se está verdadeiramente a favor, está-se contra. Em 2018, na preparação ibérica, em Chaves, o ministro das Infraestruturas disse, claramente, que naquela altura não era uma prioridade do Governo. Até hoje, existem planos de intenções. Em 2009, foi assinado com a doutora Ana Paulo Vitorino um protocolo de intenções no Pocinho, a dizer que seria feita a revitalização. Evidentemente que está ainda sinalizada pela União Europeia, como sendo prioritária. O que é certo é que existem sempre atrasos. Estamos em 2021 e a culpa morre solteira. Todos os organismos e entidades estão de acordo. A questão que eu deixo é: quem é que não está de acordo?. Se pensarmos que o Douro está na moda e que tem existido um aumento significativo na navegabilidade e no número de visitantes, ao aumentarmos a comparticipação para 10% estamos a falar em 600 mil pessoas que podem visitar esta zona. Isto significa não apenas uma maior importância turística, mas também uma alteração em termos de realidade económica.
Durante a campanha teve a oportunidade de estar em proximidade com as pessoas. Quais as questões mais abordadas pela população?
As questões mais abordadas estão divididas em dois momentos significativos: a questão da falta de oportunidades para os jovens e a questão de um atendimento médico mais próximo. Somos privilegiados por termos uma Unidade Básica de Saúde, mas sempre tive uma preocupação com as freguesias, onde o silêncio impera. Temos que darconforto às pessoas para que sejam compensadas. Não vou abdicar de lhes dar esse conforto, de levar o máximo de “barulho” às pessoas e evitar o silêncio ensurdecedor que leva ao isolamento, e de continuar a dar o apoio em termos de saúde. A questão ambiental é também uma preocupação, onde pretendo tornar o concelho mais atrativo e mais ambientalmente disponível.
O que gostaria de ver concretizado neste primeiro mandato?
Se eu conseguir alterar o sentimento de pertença das pessoas, é a melhor conquista que posso alcançar. O bem-estar das pessoas passa por vários fatores, ao nível dos recursos endógenos, do turismo, da educação, da cultura, das questões ambientais, entre outros. É para esse objetivo que eu canalizo toda a minha força.
O que distingue o concelho de Vila Nova de Foz Côa dos demais?
É um concelho de referência. Estrategicamente, está muito bem posicionado. Tem uma característica muito própria, uma alma fozcoense que nos leva a sermos extremamente exigentes, principalmente com quem nos governa. Estamos sempre despertos. Temos uma vertente cultural muito intensa, muito proativa e gostamos de estar sempre na linha da frente daquilo que de melhor acontece. É esse o caminho que temos que continuar a trilhar. Queremos estar sempre na linha da frente em todos os patamares que sejam exigíveis e que nos fazem diferentes de todos os outros.
Para finalizar, como têm corrido estes dias como presidente da câmara?
Têm corrido muito bem, com muito trabalho, apesar de não ser novidade, pelo facto de já estar por dentro do processo, enquanto vice-presidente. O objetivo é dar continuidade através de sucessivas ruturas, ou seja, continuar aquilo que era bom, mas atribuir o meu cunho pessoal naquilo que eu acho que devo derivar. Se eu não fizer isso, as pessoas também não me vão perdoar. Quero dar o meu toque pessoal e dar continuidade ao trabalho que estava a ser bem feito.