De início um desporto praticado pelas elites e com demarcações regionais muito fortes, o futebol começou a tomar forma mais popular.
No Brasil, aconteceu um efeito semelhante. O futebol nasce como diversão da alta classe das capitais pelo país sul-americano, muitas vezes sendo um apêndice a clubes desportivos dedicados ao remo e outras atividades que as baixas classes nem sonhavam em praticar. Foi apenas em 1902 que apareceu um clube cuja dedicação primária era o futebol com o Fluminense.
O ponto de partida das rivalidades tanto em Portugal como no Brasil era algo inter-regional. No caso de Portugal, já em 1894 foi disputada a partida entre Lisboa e Porto pela taça Dom Carlos I. Esta foi vencida pela capital por 1 a 0, um resultado ligeiro para os tempos onde os esquemas táticos se faziam no 2-3-5 – dois defesas, três médios e cinco (!) atacantes.
Enquanto que no Brasil, pelas suas dimensões territoriais gigantes, o regionalismo era marcado pelas disputas entre freguesias. O Fla-Flu, que é um dos maiores clássicos do mundo, reúne equipas que se encontram em freguesias diferentes do Rio de Janeiro. O Flamengo tem sua sede na fronteira entre Gávea e Leblon, dois dos bairros mais nobres da cidade; e o Fluminense fica em Laranjeiras, onde morou (e mora) boa parte da elite intelectual da Cidade Maravilhosa.
Mas conforme o futebol fica cada vez mais integrado à economia e até ao empreendedorismo torna-se um ponto chave para turismo, cultura e muitos outros mercados. Hoje o futebol tem alcance desde as clássicas figurinhas de álbuns de campeonato até cassinos online listados na Galo Bonus, onde os grandes astros do futebol como Cristiano Ronaldo são rostos principais.
Em comparação com o Brasil, não há grandes sinais de resistência quanto a esse movimento. As equipas mais conhecidas como o Flamengo e Fluminense tornaram-se clubes cuja tendência é a verdadeira expansão de mercado, algo muito mais pronunciado no primeiro que ainda tem suas raízes e sede em um dos locais com metro quadrado mais caro do mundo. Enquanto isso, os clubes de freguesia que se recusaram ou que não aproveitaram a onda de expansão pujante do desporto, correm cada vez mais riscos de fecharem as suas portas.
Porém, em Portugal esse quadro já não é tão calamitoso. A identificação entre o clube e seus locais continua forte, apesar das forças nacionais e supranacionais que puxam com cada vez mais ímpeto a integração (e de certa forma, o fim) dessa relação com entidades que veem apoiadores não como uma engrenagem vital no motor, e sim como estatística.
Esta pode ser uma peça romantizada sobre o estado do futebol em Vila Real. Afinal, os problemas financeiros ainda acometem os clubes locais cujas aspirações de voltar às primeiras divisões do futebol português não conseguem ser cumpridas.
Pois o futebol local pode ser considerado como uma identificação cultural à resistência essa que deve se manter forte, debaixo de sol e chuva, entre glórias e adversidades, nas esperanças de que esse fio de tradição não fuja de nossas mãos.