Trabalha numa empresa de construção civil, onde a maioria dos 100 funcionários são italianos. Numa altura em que o país é notícia em todo o mundo devido ao descontrolo da pandemia do novo coronavírus, Fernando explica à VTM como foram os últimos dias de trabalho na empresa de construção civil, que teve de encerrar por causa do Covid-19.
“Estou desde quinta-feira, dia 19 de março, em casa, assim como os meus colegas. A situação em Itália é dramática, o que levou o meu patrão a alugar casas na Suíça, para acolher os italianos que trabalham comigo”, de forma a evitar as deslocações ao seu país, como o faziam diariamente.
Este emigrante transmontano confessou que, desde a primeira hora, a empresa onde trabalha aplicou as medidas recomendadas pelas autoridades, colocando à disposição dos funcionários desinfetantes, luvas e máscaras. “Como trabalham comigo muitos italianos, tentávamos cumprir ao máximo, até porque eles iam sempre para a sua casa em Itália, que fica a pouco mais de meia hora de distância de carro”.
Questionado sobre o facto de ter ou não receio de estar tão perto de pessoas que vivem num país onde a pandemia tomou proporções inimagináveis, Fernando confessa que “sempre se manteve tranquilo”, mesmo sabendo o que se está a passar ali tão perto. “É muito difícil o que está a acontecerem Itália, os médicos não têm mãos a medir e têm de optar por quem poderão salvar. É mesmo muito triste viver nesta situação inesperada”.
No dia em que a empresa enviou todos os funcionários para casa, Fernando esperava vir para Portugal e já tinha a viagem comprada há meses, mas a companhia aérea acabou por cancelar todos os voos e desta forma não conseguiu viajar até Vila Real, a sua terra natal. “Tive de ficar aqui, até tinha combinado colocar umas portadas na minha casa em Portugal, mas não consegui viajar”, lamenta, adiantando que, na Suíça, a situação está “bem mais calma” do que no país vizinho, no entanto, há medo e a maioria das pessoas não sai de casa. “Está praticamente tudo fechado, desde escolas, cafés, restaurantes, lojas comerciais. Apenas estão abertas as farmácias e os supermercados”.
O DIA A DIA MUDOU
Também por terras helvéticas, a ordem é para não sair de casa e Fernando tem cumprido, juntamente com a mulher Fátima e os dois filhos menores, Rute e Samuel.
Na pequena localidade Arbedo e na vila mais próxima, as ruas estão vazias, não há movimento e os suíços “são cumpridores”. “E, nós, também temos de seguir as normas”, confessa, adiantando que é possível ir ao supermercado, à farmácia, em que há regras de distanciamento que têm de ser cumpridas. “Temos de ter paciência, as filas à entrada por vezes são grandes e temos de esperar mais tempo para fazer as compras. Na última vez que fui, tive de esperar mais de uma hora na fila”.
A pandemia mudou a rotina de milhões de pessoas em todo o mundo e, agora, o dia a dia de Fernando mudou muito e é passado em casa, junto dos filhos e da mulher. Tentam passar o tempo da melhor forma possível, contactando com a restante família, que está espalhada um pouco por todo o mundo, como Inglaterra, Canadá ou França. “Estou mais na internet a falar com os meus irmãos, os meus pais e os meus tios. Há mais tempo para falar com eles pelas redes sociais”.
Com as escolas fechadas, os filhos recebem os trabalhos de casa por computador e têm de os fazer e reenviar para os professores. “Até agora está tudo a correr bem. Vamos ver o que o futuro nos reserva, pois ninguém sabe o que poderá ainda acontecer”.
No verão, espera vir passar as férias a Portugal, como sempre o fez nestes quase 20 anos de emigrante.
Recorde-se que a Itália é o país mais afetado pelo Covid-19, onde já morreram mais de 6800 pessoas e 70 mil estão infetadas. Estes dados foram recolhidos até à hora de fecho desta edição.