«A diferença está no avanço da tecnologia e no predomínio do espírito técnico, de uma certa vaidade por aquilo que o homem é capaz de fazer, e que o leva a colocar de lado as leis de Deus, disse o senhor Bispo em Seara Velha durante a visita pastoral.
Seara Velha fica contígua a Calvão, mas já próxima do concelho de Boticas, e confiada ao mesmo pároco. É mais pequena, com 75 famílias e 190 pessoas, havendo cerca de trezentas na emigração. Praticamente não há família que não tenha alguém na emigração. Nos últimos cinco anos houve 18 baptismos e 28 óbitos, e oito casamentos. Também encerrou a escola primária, deslocando-se as crianças para Soutelo. Pelas informações da Junta, há luz, água e saneamento em toda a aldeia, com o pormenor de ninguém pagar saneamento nem água, pois os homens da freguesia fazem todo o trabalho de consertos que seja necessário.
A igreja, bem conservada, é muito harmoniosa, com traçado antigo e estátuas exteriores de granito em honra de S. Tiago, o padroeiro, por ficar no «caminho de S. Tiago de Compostela», Santa Bárbara e S. António. A visita pastoral decorreu na tarde de Domingo, uma tarde de sol.
Na homilia, o senhor Bispo fez um paralelo entre a missão de Moisés e de Jesus, a fim de compreenderem todas as leituras que irão escutar ao longo da Quaresma: nós somos o novo Povo de Deus, orientado pelo novo Moisés que é Jesus, a caminho de nova terra prometida que é o Céu. A melhoria social faz parte do reino de Deus se essa melhoria se faz com os valores do Evangelho. As tentações andam sempre à volta do sonho de fugir ao trabalho pessoal, de se impor pela vaidade e não pelo serviço, de dar às coisas do mundo o lugar que só a Deus pertence. Na linguagem corrente, as pessoas dizem «adorar» tudo, menos a Deus. Estas tentações vestem-se de muitos disfarces, convidando a fazer coisas «por ser moderno e progressista» e a deixar outras por «não haver tempo», «porque se não usa» e outras desculpas. Aos jovens crismandos, estudantes, ensinou «a enquadrar a cultura humana na perspectiva cristã. Hoje é fundamental que um cristão saiba raciocinar».
No final da celebração falou dos bens patrimoniais da paróquia, da atenção às vocações, e, dado o número de emigrantes, convidou-os a comparar a mentalidade dos países que conheceram e da nossa gente. «A diferença está no avanço da tecnologia e no predomínio do espírito técnico, onde tudo é avaliado por máquinas e pelo conforto dos que têm saúde, pela vaidade de que o homem é capaz de fazer, e que o leva a colocar de lado as leis de Deus acerca da vida e das situações penosas que ele não pode ignorar». A partir daí fez compreender a razão por que o aborto e outras leis civis entram facilmente em certos meios. «Baralham-se habilidosamente as coisas e tudo é apresentado em favor dos vivos actuais. Nas discussões e aplausos fazemos bem em olhar de onde vêm as palmas e quem faz parte dos grupos», concluiu. Também nesta freguesia o «não» ultrapassou o «sim», 61 contra 19.
Depois da celebração houve num salão próximo uma merenda para os jovens e outros familiares e colaboradores da vida paroquial.