À primeira vista, Duarte é uma criança como tantas outras, irrequieta, comunicadora e curiosa. Foi isso que vimos quando entramos em sua casa, aliás, foi ele quem nos abriu a porta. Mas rapidamente a euforia tomou conta dele, afinal, alguém desconhecido chegou. O pai, habituado que está a estas reações, leva-o para o quarto, calmamente, para podermos falar com a mãe.
Sofia Mendonça começa por lembrar a gravidez. “Correu tudo bem, foi uma gravidez normal, mas o Duarte não queria nascer. Fui até às 42 semanas”.
Os dias que se seguiram foram iguais aos de tantas famílias com um recém-nascido em casa e Duarte tinha uma evolução normal. Até que, por volta dos 18 meses, algo começa a chamar a atenção. “Ele estava sempre a mexer com as mãos e não reagia a nada. Comecei a achar isso estranho”.
Inicialmente, “pensámos que talvez tivesse um problema de audição”, mas “logo percebemos que não, porque ele ouvia alguma música que gostava e olhava logo”.
Mas o que mais chamou a atenção foi quando o estava a ensinar a dizer adeus. “O que as pessoas veem quando dizemos adeus é a palma da mão e foi isso que ele fez. Disse adeus, mas com a palma da mão virada para ele”.
Os alarmes começaram a soar e decidiu pesquisar na internet. Tudo indicava para sinais de autismo e há um episódio durante a gravidez que começa a fazer sentido. “Eu sonhei com uma criança autista”, recorda.
Seguiram-se visitas a dois pedopsiquiatras e ao médico de família que “disseram que eu era maluca” porque “normalmente, os autistas não fazem contacto visual e o Duarte faz. Além disso, ele gosta de afeto, de abraçar e isso também não é normal”.
DIAGNÓSTICO
Com a chegada da pandemia, as consultas ficaram em standby, mas “em agosto desse ano (2020), o Duarte não apresentava melhorias e gritava por tudo e por nada. Estávamos a ficar desesperados. Houve uma colega nossa que nos encaminhou para uma clínica em Penafiel e a doutora só precisou de dois minutos para confirmar que ele era autista”.
A notícia caiu que nem uma bomba e recordar o momento leva Sofia às lágrimas. “Não é fácil receber um diagnóstico destes. Eu sou professora, já trabalhei com crianças especiais, mas nunca se está preparado para isto”.
Desde então, começou a luta destes pais para darem um futuro melhor ao filho, mas “as despesas são muitas”. “Ou eu acompanho o meu filho, ou trabalho e claro que o Duarte vai estar sempre em primeiro lugar”, frisa, aproveitando para agradecer o apoio do marido que “tem sido incansável, ele é um pai fabuloso. Muitos dos pais acabam por se divorciar porque não aguentam a pressão, mas ele tem-me apoiado a 100%”.
Duarte frequenta a escola terapêutica de manhã e faz quatro terapias por semana, em Penafiel, porque “Lamego é uma cidade que não está preparada para crianças autistas, infelizmente”. Desde que está na clínica, Duarte “tem evoluído muito”. Já sabe os números, as cores e diz algumas palavras, entre elas mãe e pai. Mas só com as terapias, estes pais gastam, por mês, cerca de 1 300 euros.
AJUDAS
Com tantos gastos, e poucos apoios por parte do Estado, todas as ajudas são bem-vindas. É aqui que entra Maria Coelho, amiga da família, que desde o momento em que soube que Duarte era autista, prometeu ajudar no que fosse possível.
Um dos primeiros passos foi criar uma página de Facebook, “onde está toda a informação”. Já se fizeram sorteios de livros e até as receitas da barraca da associação “Lamego pelos Trilhos”, que esteve na Festa dos Remédios, reverteram a favor desta causa.
Mas para 2023 está guardado o maior desafio de todos, percorrer a Estrada Nacional 2, sendo que “cada quilómetro vai ser convertido em dois euros para ajudar o Duarte”. Além disso, “no final de cada etapa, vou realizar palestras de sensibilização” porque “as pessoas não entendem o comportamento destas crianças e pensam que são mal-educadas. O objetivo é despertar consciências”.
E em jeito de conclusão, Sofia Mendonça aproveita para vincar que “o país não está preparado para estas situações e é preciso que, também, as entidades patronais sejam compreensivas”.
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