Domingo, 26 de Janeiro de 2025
No menu items!

Páscoa celebrada em silêncio em tempos de pandemia

Domingo de Páscoa, 11h00. Na Sé de Vila Real começa a celebração da ressurreição do Senhor, sem a presença de fiéis. Os dias de confinamento para fazer frente à pandemia do novo coronavírus assim o obriga.

-PUB-

Em frente ao altar, onde está D. António Azevedo, bispo de Vila Real, acompanhado de dois padres e um seminarista, estão dois técnicos a gravar a palavra do enviado de Deus para levar a eucaristia a muitos lares transmontanos, através das novas tecnologias.    

Na homilia, D. António Augusto apelou para que nesta Páscoa “renovemos a nossa fé em Cristo Ressuscitado. Que Ele a todos abençoe na paz”. 

O bispo lembrou que a vitória de Deus sobre a morte “traga à nossa humanidade, nesta hora de sofrimento, a confiança para acreditar que este mal será superado e o seu Espírito a todos dê alento e coragem, sobretudo aos doentes, aos cuidadores e às famílias”.

Numa mensagem a todos os fiéis que conseguiram seguir a eucaristia em direto nas redes sociais, D. António Azevedo deixou votos para que esta Páscoa se renove a nossa fé em Cristo Ressuscitado. “Desejo que esta Páscoa seja uma oportunidade para que cada família se sinta mais unida na fé, em que todos (casais, pais, filhos e avós) sejam capazes de rezar em conjunto, de partilhar com alegria a sua fé, na consciência de que o Ressuscitado habita em cada lar, contribuindo para que a família seja mais forte no amor”.

Palavras fortes para manter a união da família católica, para quem a Páscoa é a festa mais importante, pois nela se celebra o mistério da salvação, onde os cristãos celebram a ressurreição, após a morte e crucificação de Jesus Cristo.

Ao sairmos da missa, as ruas continuam desertas, num silêncio estranho que mostra a realidade em que vivemos, perante a fragilidade da humanidade de enfrentar um vírus desconhecido e invisível, que veio da China para atormentar e revirar a vida da humanidade. 

A tradição do compasso não saiu à rua para anunciar a boa nova, que “Cristo ressuscitou. Aleluia! Aleluia!”. Estas eram as palavras mais ouvidas no domingo de Páscoa, mas desta vez o silêncio invadiu muitas aldeias, vilas e cidades, com as pessoas a cumprir o confinamento decretado pelas autoridades, para evitar que a tragédia não tome proporções ainda maiores. 

“FOI MUITO TRISTE”

Foi realmente uma Páscoa muito diferente, onde muitas famílias estiveram separadas, os amigos não se encontraram, os padrinhos não viram os afilhados, valeu o folar na mesa dos transmontanos para recordar outras Páscoas, em que o convívio era o prato forte, além do tradicional cabrito ou cordeiro. 

Faltaram os afetos e os abraços, que esperamos voltar a dar quando tudo passar. 

Pela primeira vez na vida, Maria do Céu, de 87 anos, celebrou a Páscoa sozinha e aproveitou o tempo para rezar pela paz no mundo, para que passe rápido este vírus que atormenta a humanidade. “Assisti a duas missas logo pela manhã, na televisão. Ao final do dia acompanho sempre a missa na rádio. Foi assim o meu dia de Páscoa, uma festa que deveria ser de grande alegria pela ressurreição do Senhor, mas foi muito triste”, disse à VTM, com uma lágrima a cair-lhe pelo rosto.  

O dia de Páscoa sempre foi de festa e alegria, com os sinos a tocar a rebate logo à meia-noite de sábado, para anunciar que Cristo tinha ressuscitado ao terceiro dia. “Sempre gostei muito deste dia, pois é a verdadeira festa dos católicos e da família cristã”, contou, adiantando que se lembra de tempos difíceis, em que as pessoas viviam mal, mas na Páscoa a mesa ficava mais recheada e a presença humana completava o dia, que era sempre de alegria e celebração. 

Logo cedo, as pessoas reuniam-se para acompanhar o compasso, que leva Cristo às casas das famílias, que o recebem de braços abertos, assim como a restante comunidade. “Antigamente, era muita gente a acompanhar o compasso, nos últimos tempos não eram tantas pessoas, mas continua a ser um momento importante no seio das famílias cristãs”, refere, acrescentando que espera estar cá no próximo ano para abrir as portas do Senhor ressuscitado.

APOIE O NOSSO TRABALHO. APOIE O JORNALISMO DE PROXIMIDADE.

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo regional e de proximidade. O acesso à maioria das notícias da VTM (ainda) é livre, mas não é gratuito, o jornalismo custa dinheiro e exige investimento. Esta contribuição é uma forma de apoiar de forma direta A Voz de Trás-os-Montes e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente e de proximidade, mas não só. É continuar a informar apesar de todas as contingências do confinamento, sem termos parado um único dia.

Contribua com um donativo!

VÍDEO

Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS