“Não podemos arranjar estratégias para a comunidade cigana, sem perceber a sua cultura”, adverte Hélder Afonso, convidado da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença.
Numa conversa a respeito do Dia Internacional dos Ciganos (8 de abril), o responsável pela ONPC lamenta que a Estratégia Nacional para a Integração destas comunidades, que terminou em 2023, não tenha sido renovada. “Queremos pedir uma reunião ao novo Governo para sermos parte integrante dessa estratégia, porque conhecemos a realidade, conhecemos as comunidades, conhecemos a cultura cigana e queremos também ser parte da solução”, adianta.
Hélder Afonso considera que é preciso consciencializar as comunidades sobre “direitos” e “deveres”, a fim de promover uma estratégia adequada.
“Podemos fazer diferente”, assume, pedindo que em todas as dioceses católicas exista um organismo específico para a Pastoral dos Ciganos.
“Devemos trabalhar em colaboração e em proximidade, na Igreja. Só assim conseguimos fazer um trabalho válido e um trabalho que vá ao encontro dos nossos irmãos ciganos”.
O entrevistado fala da sua vivência pessoal, como padrinho de três ciganos, para sublinhar a importância da proximidade e do respeito por uma cultura diferente.
“Nós, cristãos, não devemos ter vergonha de sermos amigos dos ciganos”, declara.
A esse respeito, dá o exemplo da valorização da música da etnia cigana, “uma forma de inclusão e uma forma de proximidade” com toda a sociedade.
“Nós ouvimos sempre falar dos ciganos pela negativa. Estamos sempre a ouvir falar que são subsidiodependentes, que são parasitas da sociedade, mas não”, adverte.
O responsável assume preocupações com as respostas de educação e de habitação, para estas comunidades, que exigem “muita proximidade com elas”.
“Não podemos só olhar para os ciganos como caçadores de direitos, de subsídios. Estamos a falar de uma comunidade que tem os mesmos direitos que a restante sociedade. Eles não estão desprovidos dos seus direitos”.
O diretor da ONPC sustenta que deve ser impossível “conceber” o discurso de ódio contra os ciganos, “o discurso de que eles são os parasitas da sociedade”.
“A Igreja aqui não deve ter receio de se envolver, de mostrar que está atenta às minorias étnicas”, acrescenta.