Em comunicado, a Urze explica que esta é uma “obra emblemática” do Teatro de Circunstância, numa adaptação cénica ao estilo do neorrealismo, com uma forte componente intimista, emocional e dramática. “É um espetáculo que conta a história de um homem que entrega o futuro do seu filho aos interesses de um Estado ditatorial, num tempo em que o medo era norma, e com o qual podemos fazer uma revisitação à memória coletiva do modus operandi da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) do Estado Novo”.
A obra, da autoria do ativista político e jornalista Carlos Coutinho, narra dramas neorrealistas do quotidiano, como reportagens fílmicas, ou crónicas jornalísticas encenadas. E é desse poliedro de cronografias que emerge o espetáculo “A Teia”, criado a partir do texto original com o mesmo nome, de excertos da obra “Ritual”, do mesmo autor, de diálogos e poemas do encenador.
Fábio Timor, da Urze Teatro, explica que numa aparente arbitrariedade cronológica, a ação narrativa, ao mesmo tempo que “perscruta o medo, o cansaço e a desconfiança, vai sendo dominada por uma intricada dinâmica emocional, condenando a verdade dos protagonistas a uma espécie de predestinação das circunstâncias, que parece ofuscar-lhes o livre-arbítrio”.
“A opção artística, espelhada na adaptação dramatúrgica, advém do contexto inquietante que pontilha a sociedade dos dias de hoje. Os discursos estremados, as posições entrincheiradas que negam qualquer racionalidade, vão desculpando o surgimento de respostas fáceis para as contrariedades da vida e das dificuldades sociais. Por isso, e não só, importa revisitar o regime do Estado Novo, sob a liderança de António Oliveira Salazar”, acrescenta o mesmo responsável.
Neste sentido, “é oportuno refletir sobre a crescente tendência propagandeada em “pele de cordeiro”, do ‘nós, os de bem, e os outros’, alimentada por objetivos corporativistas que vão consolidando a visão de uma sociedade a preto-e-branco, e que apenas consagra espaço para heróis e anti-heróis”, frisa Fábio Timor.
Esta nova produção da Urze Teatro conta ainda com o desenho de luz de Pedro Pires Cabral, música de Paulo Araújo, registo de imagens de José Miguel Pires e assistência de encenação de Madalena Marques.
A mesma produção tem o apoio da Direcção-Geral das Artes, do Município de Vila Real, e os apoios institucionais do Teatro Municipal de Vila Real e da RTP-Arquivos.