A realização de uma peça de teatro sobre o autor serviu de mote para que durante mais de uma semana a Urze Teatro tenha vivido em Sabrosa, apreciando as paisagens, sentindo os cheiros e interiorizando as emoções que fizeram parte da vida de Miguel Torga, o poeta transmontano que cumpre este ano o 100º aniversário do seu nascimento
“Reinventar o universo do escritor a partir das experiências pessoais de todos os criadores envolvidos no projecto”, foi o objectivo de um retiro artístico que a Companhia de Teatro Urze termina hoje em São Martinho D’Anta e Paradela de Guiães, freguesias de Sabrosa onde nasceu e viveu Miguel Torga.
Desde o dia nove que a companhia vila-realense tem o seu trabalho centrado “em regime fechado” nas terras de Sabrosa que serviram de palco para a vida de Miguel Torga, uma estadia que para a Urze Teatro pretende ser “um aprofundar do conhecimento sobre a obra literária e vida de Miguel Torga, procurando imagens, experiências, olhares, cheiros de uma realidade rural”.
“Apesar de, nesta primeira fase, a Companhia se isolar da realidade urbana e do seu quotidiano profissional, a equipa artística manterá um contacto directo com Pompeu José, Director Artístico do Trigo Limpo – Teatro Acert (Companhia de Teatro de Tondela), que aceitou o convite para assegurar a direcção do trabalho de dramaturgia e encenação do espectáculo”, explicou fonte da companhia adiantando que “O rosto de Miguel Torga” subirá pela primeira aos palcos exactamente em Tondela, no dia 27 de Março, Dia Mundial de Teatro.
Depois de passar pelo concelho transmontano, a segunda fase do processo criativo acontecerá com a realização de uma outra residência artística desta feita, durante o mês de Fevereiro e Março, no espaço Novo Ciclo, em Tondela, sede da Companhia Trigo Limpo. “Nesta segunda fase o processo criativo passará também pela produção do espectáculo no Teatro Estúdio XXI (sede da companhia em Vila Real), Teatro Municipal de Vila Real e no Auditório Municipal de Sabrosa”, explicou em comunicado a companhia de teatro.
No mesmo documento a Urze explica que “O rosto de Miguel Torga” é para o grupo “uma produção com características especiais, não só pelos aspectos financeiros e logísticos que envolve, mas também pelo envolvimento marcado de outros criadores convidados, como: Pompeu José (Dramaturgia e Encenação), J. Freire (Espaço Cénico), Paulo Araújo (concepção e composição musical) e Miguel Meireles (fotografia)”, destacando-se ainda o envolvimento de diversos parceiros institucionais como Trigo Limpo – Teatro ACERT, Teatro Municipal de Vila Real, Governo Civil de Vila Real e o Município de Sabrosa, para além do Instituto das Artes no âmbito do Programa de Apoio Sustentado.
”O rosto de Miguel Torga não pretende ser um registo documentário, mas antes uma construção ou reinvenção de um universo imaginário e interrogativo do conceito artístico do escritor, utilizando o espectáculo como instrumento de confronto com as nossas próprias realidades, definindo como linhas mestras a autenticidade das vivências da ruralidade em confronto directo com o mundo urbano, as marcas da rudeza dos personagens, a realidade mágica do percurso narrativo e, naturalmente como não podia deixar de ser um encontro ou descoberta dos montes perdidos naqueles Contos das Montanhas”, concluiu a companhia.
Maria Meireles