O desafio foi lançado pela CCDR-N, que anunciou a distribuição de uma verba pelos centros de investigação no âmbito do programa H2020. Após uma reunião, “decidimos que a área do cancro, para a qual já existe muito conhecimento, com um grupo ligado à oncologia animal, seria uma boa aposta. É uma área que está sempre em desenvolvimento”, explica Cristina Miranda Gomes, diretora do Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV).
O projeto chama-se “One health concept in animal cancer – OneHcancer”, foi aprovado recentemente e conta com um financiamento de cerca de 500 mil euros pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Com uma duração de dois anos, o projeto pretende estudar as neoplasias em animais e humanos e vai seguir três linhas de investigação.
“A linha 1 irá investigar o cancro em animais de companhia e humanos, onde será feita uma análise de dados e um inquérito epidemiológico dirigido a tutores de animais, para perceber em que medida o seu modo de vida pode afetar a vida e a saúde dos animais e vice-versa”, começa por indicar Luís Cardoso.
O investigador responsável pelo projeto continua, referindo que “a linha 2 vai incidir-se na investigação do cancro nos animais de produção, nomeadamente no gado do Norte do país, em explorações, quintas e matadouros, enquanto a linha 3 vai investigar de que forma se podem reduzir os fatores cancerígenos em carnes”, ou seja, será feita, nesta última linha, uma avaliação à exposição do consumidor aos fatores de risco com o consumo de carne. Nesta última linha, o estudo irá incidir, entre outras coisas, no fumo a que os enchidos, por exemplo, são expostos e os impactos que isso pode ter na saúde.
“Uma questão particular é saber se há agentes infeciosos associados aos linfomas animais, em concreto a leishmânia, que é o agente causador da leishmaniose, tanto humana como animal, e perceber se há relação entre eles”, acrescenta.
Segundo Luís Cardoso, este é um projeto “ambicioso e exigente, mas nada a que a UTAD e o CECAV não estejam habituados”, referindo que “os dados já existem, nós apenas vamos recolhê-los, no sentido de os analisar”.
Os 500 mil euros do projeto vão servir, essencialmente, para pagar aos bolseiros, neste caso um doutorado e seis mestres, “pessoas de diversas áreas e de várias universidades”. O restante “será para despesas de deslocação e material que seja necessário”, afirma Cristina Miranda Gomes.
Quando o projeto estiver concluído, pretende-se que seja possível “perceber se há fatores de risco comuns. Fala-se que os animais são modelos para as pessoas, mas o contrário também acontece”, indica Luís Cardoso. “Este estudo é benéfico, caso contrário o hospital de Vila Real não aceitaria entrar no projeto”, afirma a diretora do CECAV, lembrando que “o hospital vai facultar informação, mas também vai receber muita”.
Outra conclusão que poderá sair deste projeto, de acordo com Cristina Miranda Gomes, tem a ver com “a incidência de determinado tipo de cancro numa determinada região do país, aqui com destaque para o Norte. No fundo, poderemos perceber a razão pela qual as pessoas de uma localidade estão mais expostas a um determinado tipo de cancro”.
Além do CECAV, o projeto envolve elementos do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD) e do Centro de Química de Vila Real, ambos da UTAD.
De salientar que o CECAV faz parte do Laboratório Associado AL4AnimalS, que junta três centros portugueses de investigação e desenvolvimento, exclusivamente dedicados à Ciência Animal e Veterinária.