Sábado, 25 de Janeiro de 2025
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Ser professor: “Qualquer pessoa que está nesta área tem de gostar daquilo que faz”

Numa altura em que menos pessoas seguem a via de ensino, há quem não se veja a fazer outra coisa. Fomos falar com professores jovens, para perceber o que os levou a escolher esta carreira e manter-se nela, apesar da instabilidade que implica.

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Os concursos são imprevisíveis. Podem ser colocados a vários quilómetros de casa, os horários nem sempre são completos e subir de escalão é uma maratona.

Diana Correia sempre quis ser professora. “Desde que me conheço”, diz. As razões prendem-se com a motivação que lhe era mostrada por professores que encontrou enquanto aluna. “A motivação, a vontade de querer fazer diferente, levou-me a decidir que era isto que eu queria”, afirma. Dá aulas no Centro Escolar de Santa Cruz/Trindade, em Chaves de onde é natural, há dois anos, mas apesar de já ter acabado a formação superior há mais de 10, ainda está numa situação precária, como professora contratada e a substituir uma colega.

Inicialmente, concorria para todo o país, e chegou a estar no Alentejo, já depois de ter constituído família. “Arrisquei e durante dois anos fiz viagens semanais para vir a casa, até que surgiu a oportunidade de ficar em Chaves”, conta. O horário é temporário “e a qualquer momento o professor pode regressar, as substituições podem ser só por um mês”.

Apesar das dificuldades diz ainda ter motivação para se manter no ensino. “É aquilo que me vejo a fazer” e acrescenta que “qualquer pessoa que está nesta área tem de gostar daquilo que faz, caso contrário, não é possível”.

As características dos alunos, menos disciplinados e com diferentes particularidades, também é um desafio. “Transmitir conhecimento qualquer pessoa consegue, mas motivar o aluno para que aprenda é a grande missão do professor e é isso que ainda sinto que posso fazer”, afirma Diana, que acredita que “um professor pode fazer a diferença na vida dos alunos”.

A dificuldade de se fixarem na zona de residência torna ainda menos apelativa a profissão e em algumas áreas começam a faltar professores.

Diana Correia, Nuno Costa e Júlio Jesus são professores em Chaves

Formado em geografia, Nuno Costa começou a lecionar há quatro anos. Não demorou tanto a entrar no ensino quanto outros colegas, no entanto, também está a substituir um professor, atualmente na Escola Nadir Afonso. “Não pensava ser professor”, confessa. Mas depois de ter regressado à terra natal, na altura da pandemia, abriu uma vaga, o que considerou “uma sorte”. “A realização pessoal, o contributo para a formação das crianças, fizeram-me sentir que era ali que eu pertencia”, apesar de todas as adversidades com que lida, do desgaste da profissão, na sala de aula, mas também fora da escola, na preparação das aulas, que “era algo que não tinha nenhuma noção antes de ser professor”. A carreira docente exige muitos sacrifícios, compensada “apenas por uma concretização pessoal”, afirma, e acredita que “uma das coisas mais urgentes a resolver no país é a colocação de professores”.

Mas como adorou a experiência, decidiu manter-se no ensino. “A minha motivação é contribuir não só para o desenvolvimento dos alunos, mas também para a sua educação e orientação”, refere.

Depois de se formar, Júlio Jesus não conseguiu colocação de imediato. Sugeriram-lhe mesmo que tirasse outro curso ou fosse para Timor. “Fui para professor porque sempre gostei da área do ensino. O papel do professor, que tinha conhecimento e o sabia transmitir, sempre foi a minha maior motivação”, explica. Lamenta que nunca tenha havido estratégias para quem se forma nesta área. Professor de educação visual e educação tecnológica, só cinco a seis anos depois começou a ter oportunidade de ensinar, “porque um colega entrou de baixa e o horário ficou disponível”. O gosto pela docência levou-o a persistir. “Se estamos aqui hoje é porque gostamos mesmo disto, entendemos que temos qualidade e acreditamos no ensino”, afirma. Garante que pretende continuar “a batalhar, porque somos profissionais, também temos filhos e temos a responsabilidade de tratar o outro como gostaríamos que nos tratassem a nós e aos nossos”.

Apesar disso, não deixa de referir que a remuneração devia acompanhar a responsabilidade de ser professor, “que forma homens e mulheres”, e está na base de todas as profissões.

“Há quem tenha a ideia que os professores ganham bem, mas se tiverem de estar deslocados, os gastos são muitos e pouco fica para casa”, acrescenta Diana, a que se junta o “desgaste físico e emocional de estar longe da família”.

Todos concordam que as dificuldades do concurso e do esforço que a profissão exige deveriam ser explicadas mais cedo, nomeadamente durante o curso. Ainda assim não hesitam em dizer que, se voltassem atrás, a escolha seria a mesma: dar aulas.

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