Só pode haver sucesso económico se houver equilíbrio na distribuição dos meios existentes, procurando-se alargar o leque das existências de modo a que a comunidade possa ocupar-se das tarefas necessárias ao seu desenvolvimento e ao progresso do meio em que se insira.
Desde há anos que o sistema económico e a repartição financeira têm sido preocupação e justificação para a prática política. Por vezes de forma demasiada. O dinheiro alcançou valorações nem sempre consistentes e as prioridades nem sempre são bem entendíveis. Ano após ano, ponto a ponto, depois de uma fase de intensa desagregação, a capacidade económica portuguesa parece ter vindo a melhorar, acreditando nos números divulgados e nos relatórios descritos pelas grandes instituições financeiras mundiais.
É certo que nos bolsos dos portugueses isso ainda não é totalmente claro. Mas, para além dos reflexos práticos da circulação do capital, a economia também se mede pela confiança nos mercados e, nesse particular, nada nos permite desconfiar que o sucesso não venha a ser um facto mais evidente.
Há que ter em conta, todavia, que a melhoria da nossa economia não deriva só dos grandes “rankings” das agências internacionais que nos façam afundar ou fazer sair do “lixo”. Seria bom que quem gere a nossa economia olhasse mais para baixo e estabelecesse um contacto mais frequente com quem labuta com esforço. Seria bom que assim fosse porque novas realidades encontraria, nem todas abonatórias para o equilíbrio, a justa repartição, a eficácia da aplicação de meios, a insistência na produção e, como tal, a obtenção de resultados.
Duas notícias no “JN” (25 e 26 de julho) surpreenderam-nos, como decerto surpreenderão quem pretenda entender bem estas questões primárias da economia. A Associação dos Produtores de Leite de Portugal afirma que produzir leite custa 35 cêntimos por litro mas o produtor só recebe 28,6. Por outro lado, segundo a Confederação Nacional da Agricultura, a batata é paga ao produtor três vezes abaixo daquilo que lhe custa.
Estes dois exemplos tão simples revelam que, enquanto estas “picuinhices” acontecerem, o retrato da nossa economia não poderá ser definida como saudável.