Terça-feira, 18 de Março de 2025
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“A caça não é um desporto, é uma paixão e uma arte”

Presidente da Federação das Associações de Caçadores da 1.ª Região Cinegética - FACIRC há 4 anos, João Alves queixa-se da falta de apoio para o setor da caça, que atravessa um momento difícil com a diminuição drástica de espécies de caça menor. Apesar destes desafios, as expetativas para a Festa dos Caçadores do Norte e Feira da Caça e Turismo são altas, com a participação de 600 caçadores nas montarias

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Quais as expectativas para esta edição?

Esperamos que seja uma boa feira. Pensamos que vai ser outra vez um sucesso, como é costume. Normalmente, esta feira corre bem, porque é, no meu entender, e de muita gente, uma das melhores, ou talvez até a melhor feira de caça do país. Tem sempre muita adesão e as pessoas gostam muito. Temos milhares de visitantes e há um público muito variado, até porque a feira não tem só artigos de caça. Também temos a parte do turismo, da gastronomia, dos enchidos, dos produtos regionais.

Com a Feira da Caça e Turismo decorre a Festa dos Caçadores do Norte. Atrai muitos caçadores de fora da região?

Sim, muitos do país e até já do estrangeiro. Temos caçadores do Luxemburgo, Suíça, França, espanhóis, que normalmente se inscrevem nas nossas atividades. Posso dizer que costuma vir, já há uns anos, um grupo de suíços, que tem aumentado cada vez mais.

Nas três montarias, houve muitos inscritos?

Estão esgotadas, são à volta de 610 caçadores. Para além deles, alguns também trazem famílias, que aproveitam para vir ver à feira e passar um fim de semana.

Caçadores pedem mais apoio para o setor

Ao longo do ano também se nota que a caça alavanca o turismo na região?

Macedo de Cavaleiros é a capital da caça maior. Quem quiser caçar javalis em estado selvagem, em terreno aberto, é vir a Macedo de Cavaleiros, às nossas manchas, porque são todas muito boas. Mas no geral, a caça, de há uns anos a esta parte, tem passado por um mau bocado. Tem sido muito desprezada, até a nível governamental e já sabemos que há muitos organismos anti caça, porque não compreendem o que é, pensam que é uma selvajaria e a realidade não é essa. Costumo dizer que a caça é uma paixão e uma arte. Ou seja, quem tem o bichinho da caça, se depois tiver alguma habilidade, que é preciso também desenvolver, pratica-a de uma forma correta, que é uma dinâmica em que o animal tem as suas possibilidades, as suas defesas e o caçador tem que ser muito astuto para poder a caçar. Há muita gente que acha que é um desporto, eu acho que não é um desporto, é uma paixão. Mas claro, há alguns anos tem sofrido um bocado porque não tem sido bem acompanhada, nem fomentada. A única coisa que nos sabem fazer é cobrar licenças.

E tem mesmo um papel no controlo da espécie…

Sim, ultimamente a Direção Geral de Agricultura e Veterinária (DGAV) e o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) até alteraram a legislação para se poder caçar javalis todos os dias. Isto porque no Norte da Europa há um foco de peste suína, que se pensa que os javalis também ajudam a proliferar, e anda tudo em pânico, porque se a doença chegar a Portugal todos os produtos com carne suína não poderão ser comercializados, o que seria um grande rombo para a economia nacional. Não fazem nada para nos ajudar, mas agora pedem-nos ajuda para controlarmos a espécie. Além disso provocam muitos acidentes nas estradas, e estragam culturas agrícolas, mas este será o menor dos prejuízos.

E que outras dificuldades enfrenta o setor?

A caça menor no nosso país está praticamente dizimada. Considero que há diversos fatores que contribuem para isso. Um deles prende-se com as alterações climáticas, que mexeram com tudo, com o habitat das espécies, e que fazem com que a caça menor não se esteja a adaptar. Mas o fator mais importante, para mim, é o uso de pesticidas e herbicídas nos solos, que de há uns anos a esta parte os agricultores começaram a utilizar em grande quantidade, por todo lado, e que matam a caça, muito mais do que os caçadores. Porque caçadores sempre houve e havia caça com abundância. Desde que começaram a aparecer essas situações, a caça desapareceu. Portanto, é fácil depreender de que lado vem o mal. E não vejo ninguém a fazer nada contra isso, a única coisa que vejo a fazer é tentarem ir contra os caçadores.

“A caça tem sido muito desprezada, até a nível governamental, e a caça menor está praticamente dizimada no nosso país”

Que apoios gostaria de ter do Governo?

Em primeiro lugar, seria importante que o Governo contratasse técnicos para tentar controlar as doenças do coelho, perdiz, lebre, que são a base da caça, como se faz noutros países, nomeadamente em Espanha. É possível as doenças serem controladas, noutros países há vacinas e outras coisas que não nos vendem. A questão é que estes países veem a caça como uma fonte de receita muito importante. No nosso país, a única coisa que vejo o Estado fazer é cobrar taxas às zonas de caça e licenças aos caçadores. De resto, não fazem absolutamente mais nada, a não ser dificultar. Por outro lado, era necessário também que voltassem a dar às associações uma percentagem das licenças de caça que pagamos, porque as associações são as únicas que, neste momento, fazem alguma coisa para a caça e ainda tentam remar contra a maré. Há uns anos éra-nos concedido 30% das licenças, atribuído à confederação, que distribuía pelas associações. O que dava entusiasmo e um fundo de maneio para as associações poderem fazer mais alguma coisa para a caça. Isso foi-nos retirado quando as licenças deixaram de ser em papel e passaram a ser tiradas no multibanco. Prometeram que iriam dar-nos essa verba, de outra forma, mas nunca mais recebemos nada. O Estado, aí, teve uma jogada menos clara. Seria muito importante, que nos pudessem, dessa forma ou de outra, dar alguma compensação para que as associações pudessem fazer mais pela caça. Neste momento, com a diminuição de caça, muitos deixaram de ser associados das associações, porque acham que não compensa, e passam por dificuldades. E a gente vai desanimando. Parece-me que seria muito importante que o Estado, de uma vez por todas, visse que a caça gera milhões de receita, mesmo para o próprio Estado e para todas as atividades anexas. Com a caça vivem os armeiros, vivem os hotéis, vivem os restaurantes, vivem até os vendedores de carros de Todo-o-Terreno. Há uma panóplia de atividades que vivem à volta da caça. Ninguém no país tem coragem, que é mesmo o termo, de enfrentar estes grupos de pressão para dizer que os caçadores também são importantes, temos que os manter. Não sei até quando haverá os caçadores. Para já, são “meia dúzia de teimosos”, que ainda continuam à frente das associações

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