Sendo uma candidatura a desenvolver no território da CIM Douro acabou por alargar o seu âmbito a toda a região. Afinal, o Reino Maravilhoso é Trás-os-Montes e Alto Douro, que a obra de Torga assume. Porque havia ideias claras sobre o que a autora pretendia, esclarecendo os objetivos, escreveu-se na candidatura “valorizar os ativos culturais, criando um produto inovador e diferenciado com base num dos maiores vultos culturais durienses (…) Miguel Torga”; e “dar o devido valor a uma região tantas vezes esquecida no panorama nacional, desmistificar a ideia que há espetáculos só para algumas faixas da sociedade e originar um produto inovador e atrativo de novos públicos-alvo à região do Douro”.
A ideia-base da Eduarda Freitas está ali. Finalmente, por estes dias – já amanhã -, o que foi uma ideia será um momento, vários momentos, de fruição cultural, da autoria, na letra e música de transmontano-durienses, mas na execução que vai além do Marão. Mais uma vez, Torga continua a inspirar, porque os muros escondem, tornam-se redutores e o importante é derrubá-los. Afinal, somos todos uma parte do universal.
O Douro é vinho, mas é também paisagem, cultura e turismo. É, sobretudo, pessoas. E estas são aqui valorizadas. Quando se apresentou a candidatura do Alto Douro Vinhateiro à integração da lista da UNESCO dos Patrimónios Mundiais, a valorização da região e das suas gentes estava bem presente, pois “a paisagem cultural do Alto Douro combina a natureza monumental do vale do rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a ação ancestral e contínua do Homem, adaptando o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta”, como pode ler-se em documento da Comissão Nacional da UNESCO. Uma ópera, como “arte total, que comunica a região, eleva a autoestima dos seus habitantes e que envolveu a comunidade no processo de criação”, como declarou a autora à RTP2. Só nos resta, pois, corresponder ao apelo dos artistas.